31 de outubro de 2012

Preferências

O amor deve ter cores
Muitas cores
Às vezes é arco-iris
Que das sete criam tantas
Às vezes, acinzenta
Apaga o brilho em um momento
Até troveja, relampeia
Nos convida a adentrar
Nos proteger das intempéries
Dá tons de cinza ao céu da alma
Mas, essa chuva lava, leva
Eu compreendo os tons escuros
Os que fazem velar os olhos ávidos
Os que misturam os sentires
E confundem as palavras
Mas, é certo que prefiro as cores
As que dão lindo brilho a teus olhos
Que ilumina o teu sorriso
E me enternece num instante



Imaginação

Minha mente exata se exercita
Aos poucos abre mão de explicação
Se convence devagar e não mais grita
Sussurra baixinho para não afugentar a emoção

Minha mente exata se expande
Busca não carecer da pura cognição
Quer ver além do breve o instante
Confiar mais na intuição

Minha mente exata aos poucos se rende
Sem entender entende a sensação
Dos aprendidos velhos se desprende
Poe mais atenção na imaginação


Imagem: Jenny Terasaki

Vertigem

Para tropeçar basta andar
Ai de mim por medo de cair
Interromper o meu caminhar
Por medo de errar, não agir 

Para desequilibrar basta parar
Aí de mim por medo da vertigem
Em um canto qualquer me acomodar
Prefiro no céu pisar


Pintura: Anna Baibakova

30 de outubro de 2012

Arrasto

Em torno de ti me arrasto
Mas, não é porque não me gosto
É que deixo rente ao chão as tristuras
Danço, rodopio, respiro
Enfim, vivo!
A vida pulsa, intensa e bela
Danço em torno de ti
Vejo-te a partir de um novo ângulo 
Vejo-me! 
Figura nova e liberta
Estendo-me e dou-te a mão
Mas, não quero que me ergas
Quero que me toques
Quero que me sintas
Assim, desse jeito, abandonando as tristezas


Foto: Stella Couto

Açude

Abarcam-me contraditórios sentimentos, estio!
Feito terra rachada da seca, encolho!
E me espalho em veios de emoções intensas
E me perco em busca do que se justifique
Careço reencontrar o meu velho açude 
Lá, tem água benta para curar feridas
Tem o que preciso para refrescar minha alma
A substancia que matará minha sede
Lá tem tem gotas puras do meu discernimento
E lá, quando chegar, vou mergulhar sozinha
Pois, saberei que à margem tu estarás a espera
E estarei segura de que me cuidarás



29 de outubro de 2012

Demorei


Em meu galope incerto
Viajei por tantas terras
Estradas longas, curvilineas 
Atravessei rios e serras
Segui à beira de abismos
Vi noites longas e escuras 
E outras tantas iluminadas
Encontrei alguns abrigos
Provisórias e frágeis moradas
Que julguei me livrariam dos perigos
Mas, no intimo eu sabia
Que em meu destino tu estaria
Então, alarguei meu horizonte
Cavalguei, caminhei, parei
Por isso, meu amor, demorei
Mas, agora cá estou
Finalmente, em teu reino cheguei 
Desça, então, a ponte levadiça 
Adormeça os monstros de teu fosso
Aqueles que protegem a fortaleza dos teus medos
Deixa-me adentrar em teu castelo
Encontrar teu jardim
Em ti plantar a semente de minha flor



28 de outubro de 2012

Chuva

Chuva abençoada
Derrama-te sobre mim
Lava-me inteira
Pedaço por pedaço
Por dentro e por fora
Tira de mim o que já não me serve
Leva para longe
Para algum canto onde há de ter serventia
Agora, peço-te: refresca meus sentidos
Dispenso a capa e o guarda-chuva
Quero sentir-te forte na pele
Quero o arrepio das extremadas temperaturas
Meu corpo quente, tua água fria
Vem, chuva abençoada
Lava-me
Leva-me


23 de outubro de 2012

Encolher

Hoje eu quero paz e acolhimento
Abraço longo e caloroso
Aquietar-me em teu colo
Sem perguntas, sem palavras
Ter tua mão em minha face
Sem susto, sem receios
Quero encolher-me toda em ti
Só sentir-me em teus braços
Afastar o afastamento



Tin Tin

Um brinde a tudo o que ainda não sei
Ao que a vida me mostra e ainda não vejo
Aos sentires confusos, mas que acendem a chama
Ao que não compreendo e me instiga às buscas

Um brinde a tudo o que ainda não tenho
Ao que me falta, ao que minha mão não alcança
Aos sonhos nutridos no nascer dos meus dias
A tudo que quero e nem sei se terei

Um brinde a tudo o que aprendo
Ao que chega fácil, entrando macio
Ao que me arranha, até me deixa infeliz
Às pétalas e espinhos que me ensinam a ser


22 de outubro de 2012

Pergunta

Pergunta que vem e que vai
Para a qual já dei mil respostas
E com elas pouco me satisfaço
Afinal do que precisamente careço?
Teto, cama, manjares eu tenho
Abraços fraternos e quentes não faltam
Amor intenso e pulsante me abarca
Afetos de todos os tipos me chegam
Labor que não pesa me é uma graça
Verdadeiros sorrisos me alcançam
Estradas abertas se mostram
Histórias e estórias me contam
Então, do que precisamente careço?
Preciso de tudo isso um pouco
E de ti sempre dentro de mim
E de mim sempre dentro de ti


Pintura: Bryan Larsen

Mouca

Solto um grito sem voz
Tentativa de alcançar meus ouvidos moucos
Ingenua busca de me fazer ouvir
E assim calar esse vozerio atroz


Indecifrável

Vejo um azul desconfiável
Ele se esconde atrás da nuvem desfiada
Parece céu claro, de dia ensolarado
Mas, disfarça a saudade da tua lua indecifrável

Pintura: Sonia Marialuce Possentini

Mergulho

Entranho-me, mergulho na alma
Debato-me diante do que não compreendo
Assim eu turvo minhas águas
Perco o caminho da calma
Quero aprender a ser Eu
Quero ser Eu e o todo
Sem me perder de mim
Sem me perder em mim


Heroína

A vida é campo de luta
Existe uma batalha infinda
Um interminável pelear dentro e fora
E para esse inevitável combate
Careço de um bom tanto de discernimento
De combinar com maestria o que penso, sinto e faço
Dispensar escudos, elmos, armaduras
Preciso mesmo é de peito aberto
Necessito da bravura para me lançar nos dias
Com minhas próprias mãos abrir as minhas trilhas
Com meus próprios pés deixar as minhas marcas
Reconhecer o significado dos encontros
E cultivar a coragem para aceitar ajuda
Quero ser cavalo e cavaleiro
Quero ter a flecha e a flor
Vencer com paz as minhas guerras
E, assim, para mim ser heroína

19 de outubro de 2012

Arrebatada

A primavera me deixou desnorteada
Tantas flores, tanta vida
Profusão de novas cores
Que me sinto de amor arrebatada


16 de outubro de 2012

Fúria

Permiti que tu adentrasses meu mundo 
E assim, conhecesses minhas frestas, minhas réstias de luz 
Dei-te, também, o saber dos meus medos 
Escancarei-te a porta para que visses as minhas sombras. 
E tu, com tuas curvas, tuas angusturas, teus precipícios, tuas matas fechadas 
Com teus intrincados caminhos, enriqueceste meu mundo 
Mas, também, o tornaste confuso, caótico (ou seria caórdico?)
E de um jeito cheio de fúria e calma, eu te amo 
Eu te amo de um amor louco, que me corrói e ao mesmo tempo me constrói


Pintura: Agnes Cecile

Dança

Percebo-me a ti atada
Pensamento que voava solto
Coração que sempre foi maroto
De repente, sinto-me por ti levada

Sinto como se fosse uma dança
São dois prá la, dois prá cá
Até quando me viras do avesso
Minha alma de ti não se cansa


Pintura: Leila Monsegur

Ousadia

Quero simplesmente me permitir 
Ter a liberdade dos ingênuos
A coragem dos ousados
(ou a ousadia dos corajosos)
A aparente insensatez de quem sempre se desafia
E até que me reconheço assim
Eu fujo do que é morno
Gosto mesmo é da fervura
E do lançar-me sem tela de proteção
Confiando que minhas asas do baque me livrarão 
Mas, às vezes, me acomete uma covardia desastrosa
Um cuidado tolo e exagerado
Que me faz temer a perda do que não tenho
E o que perco é um pouco de mim mesma


Pintura:Roberto Donaghey

Delicadeza

Fui ali no jardim da minha alma
Andei um pouco, olhar atento
Queria escolher algo com significado
Algo que pudesse enfeitar tua toca
Algo que ao teu interior trouxesse calma
Então, colhi um pouco de minha delicadeza
Uma rara flor que cá dentro cresce
Só em tempos que em mim o amor acontece
E agora, a ti ofereço com afeto e pureza


Pintura: Claire Basler

14 de outubro de 2012

Calar

Preciso aprender a calar
A falar também em silêncio
E assim me ouvir um pouco mais
Para com as palavras não sufocar


Simples

Neste exato momento sinto imenso desejo
Vontade grande de coisas bem simples
Devagar encostar tua cabeça em meu ombro
Alcançar tua mão macia e quente
Entrelaçar os dedos e simplesmente ficar
Assim, me dando a ti como ninho
Dividiria um bom copo de vinho
Jogaria conversa dentro e fora
Deixaria o falar sem tema e emendaria assuntos
Ficaria um pouco à margem das profundezas
E contigo riria com gosto
Como se não nos rodeasse a inquietude
Como se a nós fosse dada uma boa lasca de felicidade
Pedaço precioso que com prazer partilharíamos


Pintura: Hock Tee Tan

13 de outubro de 2012

Humana

Eu não me importo com o rótulo
O que eu quero é o afeto
Pode chegar em forma de beijo
De verso feito sem medo do ridículo

Eu não me importo com a forma
O que eu quero é carinho
Pode vir no abraço sem jeito
Daquele espontâneo, sem regra, sem norma

Eu não me importo com a espera
O que eu quero é viver o caminho
Curvas, flores, descidas, subidas
 Trilha que mistura realidade e quimera

Eu não me importo com o engano
O que eu quero é autenticidade
O que é no momento a minha verdade
E poder aprender com esse estar humano


Tocaia

Saudade é bicho traiçoeiro
Fica quietinha, de tocaia
Basta a gente distrair um pouco
E ela nos ocupa por inteiro

Pintura: Ute Hadam

Reinventar

Que paisagem tu queres ver?
Seria um céu de horizonte alaranjado
Com o sol vagaroso se apresentando
Jogando os raios que começam a te aquecer?

Que realidade tu queres viver?
A que foi desenhada mão sobre mão
Ou aquela que tu te livraste da condução
E empregaste nos passos todo o teu saber?

Com que cores a tua vida pretendes pintar?
Há toda uma gama que se oferece a ti
E, também, há pinceis para que possas criar
O novo panorama que pode te abrigar

Para que céus quererás voar?
Aconselho-te que escolhas o que também abrigam nuvens
Mesmo que a ti não pareças coerente
É lá que terás vastidão para te reinventar


12 de outubro de 2012

Ícaro

Eu tento alar minhas palavras
Algumas se tornam arremedo de Ícaro
Voam bem alto, vão perto do sol
Mas, não derretem, só ficam quentinhas
E voltam a mim, me trazem calor
Então, as devolvo aos céus, ao ar
Carregando um pouco de mim
Elas voam para muitos lugares
Voam para quem as quiser acolher


Caminho

Percebo-me seguindo avante
E já passos largos à frente, regrido
Deparo-me com o que pensava já resolvido
No susto eu noto que andava errante
E que a graça da vida é poder retornar
Encontrar o antes não percebido
E com novo sentido dar passos adiante
Levando comigo o que já foi aprendido


Eternidade

Lá fora cai chuva fina 
Fina como a saudade cá dentro
Fina por que é como lâmina
Que me corta um naco da calma
Mas, isso não me entristece
Provoca, sim, certo aperto no peito
Mas, nada que se traduza em dor
Afinal, o que é mesmo o tempo?
Esse lento girar dos ponteiros
Esse moroso passar das horas
Quando distante estás
Então, o que significa o tempo?
Se aceleram os segundos
Se veloz passa o dia
Quando me dás tua companhia
Por que me importar com o tempo?
Eu tenho a eternidade do amor



Importância

Das importâncias da vida
Ocupas destacado papel
Figuras em meu pensamento
Preenches o meu coração
Habitas meus sonhos mais doces
E alguns pesadelos também
Favoreces o meu crescimento
E me inspiras a ir mais além
Das importâncias da vida
Quero-te sempre em relevo
Pois, minha alma antes contida
Ganhou asas, voou
Minha emoção que vivia amornada
A temperatura elevou


Pintura: Di Cavalcanti

Coadjuvante

Quando abrem-se as cortinas 
Inspiras minha atuação 
Ensinas-me a ser de mim protagonista 
E tu és muito mais que figurante
Em cada cena de minha vida
Sinto-te como coadjuvante


11 de outubro de 2012

Invenção

Vou inventar uma máquina
Engenho engarrafador de momentos
E sempre que bater grande saudade
Generosa dose hei de servir
Bem devagar vou sorver cada gota
Feliz, embriagar-me de ti


Escada

Quero uma escada grande o bastante
Que me leve ao núcleo
Que me inspire coragem
Que me afaste da margem
Que me permita ir ao fundo
Que ela seja iluminada
Que me mostre os caminhos
Que me ampare nas escolhas

Quero uma escada grande o bastante
Que me eleve ao céu
Que me ofereça os degraus
Que depois de galgados me revelem a paz
Que me traga sossego a alma inquieta
Que me deixe, do alto, contemplar a existência
Que é feita de essência, orla e infinito
Que só a mim, na inteireza, pertencem

Quero uma escada grande o bastante
De tamanho suficiente
Para me conduzir para baixo e para cima
Que se sustente na minha autenticidade
Que dê firmeza a meus passos, até aos hesitantes
Que suporte meu peso quando eu precisar parar
Que, também, me sacuda para afastar o medo
O inconsciente temor de me reencontrar


Nas mãos

Colo! É só o que penso em oferecer-te
Aquietes um pouco aqui, recostes em meu peito 
Eu vou colorir um pouco do mundo para ti
Vou usar tinta visível apenas a teus marejados olhos
Vem, apoias-te em mim.
Aqui tem o calor e o silêncio que tu careces
Aqui tem amor e cuidado para te fartares
Aqui tem a justa medida de proximidade e distância
Vem, ficas sem medo, te entregas um pouco
Que apararei nas mãos o teu turbilhão



10 de outubro de 2012

Querer

Quero-te como par na jornada
Quero-te para além da amizade
Quero-te muito mais que amante
Quero-te como impulso de vida
Quere-te para criar a caminhada
Quero-te para te amparar em meu colo
Quero-te para te instigar ir além
Quero-te para ter o seu ombro
Quero-te para te dar meu conforto
Quero-te para que me sacudas
Quero-te para te reaprumar
Quero-te com teu dengo maroto
Quero-te com teu jeito de criança perdida
Quero-te na adulta resiliência
Quero-te se comigo puder despertar


Pintura: Liza Ray

9 de outubro de 2012

Cura

Que se dissipe a nuvem
Que me atrapalha a visão
Que tira a nitidez e dá medo
Que ainda me causa perplexidade

Que se revele a essência
Aquilo que deve ser compreendido
O que realmente importa
O que só a alma pura conhece

Que se revele os motivos
Que afinal se explique
Sem silêncio e sem susto
A razão dos desencontrados reencontros

Que se descubra a causa
Que se renuncie ao bálsamo
Que só alivia o externo
Quero a coragem da cura


8 de outubro de 2012

Sem tempo

Quero levar-te a uma cidade sem tempo
Daquelas muradas, que guardam historias
De ruas estreitas, quase desertas
Que abrigam escondidas e belas paisagens

Quero levar-te a uma cidade sem tempo
Caminhar devagar, sem pressa e sem medos
Encontrar um lugar, um refugio isolado
Onde se possa esquecer a espera

Quero levar-te a uma cidade sem tempo
Para saber se é possível congelar o agora
Mergulhar no exato segundo em que a vida expande
E rete-lo para sempre em nossa memória


Pintura: David Letts

Retrato

Capturei-te em minha retina 
Pintei retrato de um fugaz eterno
Instante único de absoluta entrega 
Tua inteireza em forma de beijo
Teu calor me embrulhando em abraço
Teu silêncio me dizendo tudo
Tua dúvida num lapso esquecida
Tua certeza de que sou só tua
Tua escondida lágrima de emoção tardia
Tua vida ampla que encontrou a minha
Teu sono breve caído em meus braços 
Teu acordar lento, cheio de preguiça
Teu corpo lindo a se cobrir de novo
Se preparando para outro destino
Tua saudade se misturando a minha
E eu silente, tento fazer pausa
Como se parar tempo me fosse possível
Então, pisquei e te fotografei
Guardei tua imagem como um presente
Tudo isso num momento mágico
Que ficou gravado em minha pele e alma
Que aspiro nunca apagar


Apelos

Eu não escrevo poesias
Escrevo, sim, apelos!
Quem sabe um dia eu os ouça!
Quem sabe eu os compreenda!
Quem sabe em algum tempo eu os atenda!


Arte: Andrian Bekiarov

Aparente

Eu digo não ao ego em pele de cordeiro
Aos impulsos que me cegam a vida
Aos desejos rasos que aceitam o pouco
Que me afastam do meu viver inteiro

Eu digo não ao ego em pele de cordeiro
Ao que me restringe o horizonte
Ao que me engana com ilusões tolas
Que me prende a um limitado roteiro

Eu digo sim ao meu Eu presente
Ao que encontro no turbilhão da alma
E que reconheço como o que me marca
Que vai muito além do que é aparente



Abundância

Quero vida abundante
Quero meu ser feliz pelo que é
E cuidar com zelo do seu evolver
Quero a felicidade dos navegantes
Aqueles que abraçam a vastidão do mar
Que abrem mão do que é pouco
E só se satisfazem com que preenche a alma
Quero viver como os inconformados
Aqueles que se guiam pela autêntica estrela
A que ostenta o brilho com virtude e calma
Quero mais que faíscas de plenitude
Mais que lascas de um todo que desejo
Quero tudo o que me é de merecimento
Ser feliz com o que encontro em mim
Encontrar no amago a pródiga fonte 
Aquela que emana tudo o que almejo


Pintura: Vladimir Kush

7 de outubro de 2012

Fases

Há fases de doido amor
Quando o fogo da paixão cega e seduz
Em que não há medidas, temores
Há doçura, calor, aconchego
Intensos desejos que te conduzem a mim

Há tempos de amor guardado
Quando o calor se encolhe, reduz
Em que o pensar se amplia
Nele a paixão descansa
Intensos desejos que te conduzem a ti

Há épocas de amor vivido
Quando o equilíbrio se dá enfim
Em que o pensar vive o sentir
Há lucidez, mas também, ardor
Intensos desejos que nos conduzem a nós


Bacco

Quando as gotas de Baco me enlevam 
Mais do que o amolecer das pernas
Transborda o que minha razão represa
Rompe-se o dique das emoções contidas
E livre vivo o que é da alma querer


6 de outubro de 2012

Exuberância

Meu coração pediu para escrever
Emprestei a ele minhas mãos
Que molhou a pena numa lágrima
E se entregou ao meu sentir
Grafei, então, em fina lâmina
Invisíveis letras aos comuns
Só a ti que bem me les 
Será possível compreender
Tudo o que ousei já dizer
Versos soltos, escrita torta
Um desabafo demorado
Que descreve a flor que és
Aveludada e espinhosa
Que encanta os meus olhos
Que me espeta sem saber
Que se fecha em botão
Para em seguida esplender
Que se sustenta em terra seca
Pois, sabe que em tuas profundezas
Tem água boa e com fartura
Então, estende as raízes
Até encontrar o que te nutre
O que te faz mesmo na estiagem
Exuberante resplandecer


Apenas

Eu quero apenas te amar
De um jeito simples e cheio de verdade
De um jeito terno e cheio de entrega
Quero entre tantos quereres
Pensar que tudo a nós é possível
Poder curvar-me e beijar-te a fronte
Cuidar de ti no que precisares
Sentir meu olhar se perder no teu
Esticar a mão e alcançar a tua
Entrelaçar os dedos e criar os laços
Abrir a trilha de dois destinos
Dar os meus passos e cruzar com os teus
Para caminhar contigo no girar dos tempos


5 de outubro de 2012

Impossível

Impossível é viver sem te respirar
Impossível é chover sem em ti me molhar
Impossível é adormecer sem te sonhar
Impossível é acordar sem te pensar
Impossível é matar a sede sem te beber
Impossível é ver o teu sorriso sem me derreter
Impossível é seguir adiante sem te convidar
Impossível é ir até ali e de saudade não chorar
Impossível é abrir os olhos e não te olhar
Impossível é fazer meu coração bater sem em ti vibrar
Impossível é não pedir poética licença
E não me perder na bagunça do teu coração
Impossível é não encontrar palavras para a ti poetizar
Impossível é viver sem te amar


Pintura: Yarek Godfrey

Incomum

Quero-te de um jeito incomum
Repleto de contradições
Existe necessidade, urgência
Um desejo incontido de ter
Mas, há também espera calma, tranquila
Placidez que me abranda a paixão
E de repente um vento a brasa instiga 
Reacende o fogo que me queima por dentro
Faz até o que já era cinza criar asas e voar


Pintura: Vladimir Kush

4 de outubro de 2012

Marca

Bebas com sede em meu copo
Pois, meus segredos já te contei
Comas sem medo o que eu te sirvo
Pois, já tiraste os venenos de mim
Podes abrir a porta de minha casa
Pois, confio que voltarás
Conheças a minha agenda
Pois, em meus dias sempre estarás
Sem licença, adentre meus sonhos
Pois, é certo, que te acolherão
Auscultes o meu coração
Pois, nele ouvirá teu nome
E quando amares meu corpo
Misturas-te à minha pele
Craves teus dentes em minha carne
Pois, minha alma tu já marcaste

Pintura: Diego Fernandez

Quero ir para lá
Lá tem colo macio
Lá tem beijo envolvente
Lá tem mistério atraente
Lá tem conversa da boa
Lá tem histórias sem fim
Lá tem expansão de sentidos
Lá tem resistência e entrega
Lá tem implosão do que é velho
Lá tem vendaval e garoa
Lá tem sol forte e brisa
Lá tem chão e tem nuvem
Lá tem paixão em torrente
Lá tem sabor de pecado
Lá tem delicadeza e força
Lá os ares são renovados
Lá tem o que me dá medo
Lá tem o que me encoraja
Lá tem energia e sossego
Lá tem tudo o que quero
Lá vivo o sonho impossível
Lá tem amor que desdobra
Lá tenho tudo o que quero
Lá sou inteira e feliz



Quereres

Quero...
Ser livre, sem deixar de ser responsável
Pensar em mim, sem com isso ser egoísta
Dedicar tempo ao trabalho, sem me escravizar
Viver os prazeres e dores ciente da impermanência
Aceitar o que for desígnio sem me submeter
Fazer dos meus dias uma etapa da evolução
Encontrar dentro de mim a forma de apenas ser
Andar na corda bamba
E se for preciso, voar


3 de outubro de 2012

Viver-te

Eu quero te viver
Beber os teus dias e noites
Comer tuas tenras palavras
Todo dia provar teu sal e teu doce
Sem nunca abrir mão do picante
E alimentada, andar em tuas alamedas floridas
Adentrar tuas trilhas escondidas
Acampar em tuas amplas clareiras
Ver o céu entre tuas copas
Banhar-me sob tua lua brilhante
Molhar meu corpo nas águas da tua chuva 
Viver-te assim, desse jeito, inteira


Pintura: Eduardo Arguelles

Rainha

A lua hoje trava uma batalha contra as nuvens
Ela quer mostrar seu alaranjado exuberante
Mas, as nuvens enciumadas tentam escondê-la
Fiapos de algodão cinzento tentam ocultar a cheia em despedida
Mas ela, mesmo ciente do breve retorno, quer mostrar-se inteira
Sabe bem, que nós, aqui embaixo, reverentes, agradecemos
Então, faz valer seu esplendor e irrompe linda a meio céu
Reina outra noite antes de ir embora
Diz até breve, volto logo!