26 de fevereiro de 2013

Ser feliz sem ti?

Ser feliz sem ti?
É claro que eu posso
Mas, isso seria como tirar o canto do colibri
Furtar da juventude o viço
Raptar dos museus a obra de Dalí
Secar de toda água o poço
Roubar da joia o brilhante rubi
Do carnaval abolir o alvoroço
Devolver a perna ao Saci
Esconder do cão o apetitoso osso
Extrair meu coração sem usar bisturi
Ah! Disso não quero ver nem o esboço


Pintura: Vladimir Kush

Insistência

Palavras são desnecessárias para o amor
Mas, eu que sou teimosa insisto em usá-las
Para mim, são jóias que o adornam
Dão cores ao silencio pouco revelador
Traduzem o que dizem olhares que dançam
Amiúde as adoto para meu sentimento expor
É que desejo que em ti minhas palavras andem
É como se por elas eu pudesse exalar do sentir o olor
Gotas de bem-aventurança que desejo que te molhem



Equilibrio

Insalubre é o te ocupa em demasiado
Tudo aquilo que deixa o ser desequilibrado 
Que faz o pensar obcecado 
Aperta o sentir como se amarrado
É preciso balanço entre o solto e o apertado
Encontrar a medida para não se ficar limitado
E saber que a vida não se faz só de certo e errado
Aprender que tudo em nós deve ser bem dosado
O que realmente importa é de amor sentir-se abençoado


25 de fevereiro de 2013

Agora... outrora

Às vezes, na ânsia de ser feliz me perco
Quero o não tido e me projeto adiante
Busco lá trás alegria antiga
Percebo a falta e à bonança eu cego
Perco o momento em que o botão floresce
A gota de orvalho que a manhã abriga
A beleza da vida que cresce
O sorriso que espontâneo a mim chega
O brilho manso do sol que me aquece
O calor do abraço que me acolhe
O afeto que vem num olhar profundo
Pequenas coisas que o agora entrega
Grandes dádivas que a vida oferece
Doses diárias de felicidade 
Que se desatento desmereço o momento
Que se descuido não reconheço a prenda
Mas, se me rendo e deixo tudo chegar
A felicidade poderei vivenciar
Hoje, aqui, agora
Amanhã, depois, outrora


Pintura: Joseph Raffael

24 de fevereiro de 2013

Precisão

Embora não saiba como exatamente precisar
Preciso de tua preciosa precisão
Duplo sentido da palavra
Tolamente preciso que de mim precises
Sabiamente acolho tua exatidão


Desenho: Camila Silva

Antenada

Ouço tanto por aí
Tem coisas que colam na pele
Outras que o vento leva
Algumas mudam o olhar
Outras sustentam o pensar
Há aquelas que me puxam as lágrimas
Tantas que me embalam os passos
Muitas eu levo comigo
Sempre haverá o tempo de usar
O que quero é nunca estar fechada
Ficar a tudo sempre antenada
A vida é grande e não quero perder nada



23 de fevereiro de 2013

Aprender a voar

Por que escrevo poesias?
Porque para escrever é preciso ser livre
E para ser livre preciso escrever
Para ser livre preciso sangrar
Tirar o excesso, equilibrar
De um torpor acordado despertar
Escrevo poesias para sair do casulo
Para ver se um dia aprendo a voar




22 de fevereiro de 2013

Bandeira


Eu carrego esta Bandeira
Gosto de delicadezas
De graciosidade revelada em miudezas
Gosto de olhares sorridentes
Daqueles livres, espontâneos
Gosto também dos que nascem pensados
Criados para alegrar quem está triste
E isso não configura falsidade
Apenas é cuidado diferente
É doação de quem sente
De quem gosta de cuidar e ser cuidado
Gentileza faz bem à alma da gente


Desenho: Adriana Bruna Pinheiro da Silva
Pueril homenagem minha a Manuel Bandeira e a todos os que acreditam na força da delicadeza

O que vem de ti

Há tanto no que tu me dás
Nada que vem de ti é unitário
Se há paz, logo vem turbulência
Se há furacão, tem também calmaria
Se há conforto, pitada de desassossego
Se há aflição, chegas com o teu bom dia
Se há abraço, há braço que distancia
Se há distância, há sorriso que reaproxima
Se há inicio, vem lembrança de que tudo finda
Se há final, esperança que reinicia
Se há paixão, vem tempo em que esfria
Se há frio, de repente volta a abrasar
Se há prazeres...
Bem se há prazeres, há prazeres


Pintura: Yannick Bouchard

21 de fevereiro de 2013

Sonho

Na madrugada insone eu sonho
De olhos abertos invado a imagem
Nublada figura do teu misterioso ser
A mão confusa a mim procura
Perde-te em teus quereres
Ficas entre o aconchego e o afastar
És imprudente em tua prudência
Nesse teu jeito estranho de querer cuidar
Sinto que quer comigo dançar
Por um instante acolhe meu descompasso
Faz da minha noite um breve baile
Pois, me quer perto e ao mesmo tempo longe
Então, aproxima-te e rarefaz
Abraça-me forte e vai embora
Com o olhar me diz que volta, que sempre volta
Confidencia que só sabe amar com curvas
Que em linha reta perde o teu prumo
Pede em silêncio que eu te ame, te compreenda
E eu te digo que assim é


Sem demora

É preciso gostar de ser o que se é
Saber-se grande e, também, partícula
Não carecer justificar em si a fé
Reconhecer o que na alma habita

É preciso, igualmente, gostar da fantasia
Sonhar sem preocupar-se com o chão
Criar matéria para fazer da vida poesia
Dar à razão algumas notas de imaginação

É preciso saber-se em construção
Que há medo, dor, mazela
Mas, muito amor, doçura e compreensão
Que não se pode viver como se numa cela

É preciso ser o que se acredita ser
No hoje, presente, aqui e agora
E ter a coragem de se contradizer
O que importa é ser feliz, sem demora 


19 de fevereiro de 2013

Recomeçar

Nada há que me afaste
De vestir-te à perfeição
Uma veste que desnude
Apresente o contraste
Cores tuas, sombra e luz
E quando conhecer-te por inteiro
Quererei recomeçar


Pintura: Maria Calarasu

Romantismo

Para ti eu já colhi flores matinais
E outras que a noite abençoou
Entreguei com romantismo
Que a distância desmanchou

Beijei-te a fronte com enlevo
Soprei brisa fresca em teu rosto
Pra te acordar de sonho ruim
E para tornar o bom longevo

Corri para ter-te em meus braços
E devagar te entreguei
No vai e vem desses caminhos
Construímos nossos laços

E erros novos eu errei
Mas, repeti outros também
Dei-te a conhecer meus lados
E outros que eu já nem sei

Para ti (e para mim) quero ser nova a cada dia
Ouvir canções que nunca ouvi
Surpreender-me com meus atos
Nunca perder a ousadia

E do meu romantismo sem cura
Fazer nascer mil novas flores
E te darei uma por dia
Para celebrar nossa ventura





Sereia

Quero sempre seguir adiante
Jamais voltar atrás na viagem iniciada
Deixar-me levar pelos ventos da vida
Vislumbrar horizontes novos, nossos
Amanhecer com o sol do teu bom dia
Navegar pelas horas em teu convés
Confiar que o leme conhece o caminho
De vento em popa entregar-me ao destino
Destino ditado pela sereia em seu canto


18 de fevereiro de 2013

Ventre

Em meu ventre imaginativo
Gesto palavras já paridas
Para dar luz a novos versos
Que traduzam o que ora vivo
Entrego-me ao poder da poesia
Ao que me sai das profundezas
Que me agita a superfície
E corrói toda a agonia


Nua

Tu me deixas nua de pudores
Inteira despojada de recato
Para ter-te em meus braços
E entregar-me insana aos teus
Desconsidero velhas normas
Esqueço até tuas confusões
As tuas revoltas voltas
Torno reais as ilusões


Pintura: Anna Danilova

Fogo

Amor existe sem fogo
Mesmo assim aquece o coração
Mas, o corpo gosta de jogo
E pra jogar carece paixão
Um bom tanto de afogo
Falta de ar para respirar emoção
Intensidade já, eu rogo
Quero pulsar veemente, explosão


Expressões

Nesse oficio de ser gente
Redemoinho de emoções
Um não sei que do que se sente
Um pensar em turbilhões 
Um envolver de frio e quente
Face que acolhe mil expressões
E porque haveria eu de ser coerente
Se em mim há um infinito de impressões?
E porque haveria de ser diferente
Se sou morada das indagações?




17 de fevereiro de 2013

Literatura

Sou poesia, tu és prosa
Sou sinuosa na estrada reta
Tu, cortas a montanha ardilosa
Sou metafórica mesmo quando direta
Tu, esbofeteia a rima vagarosa
Eu, costuro palavras secretas
Tu rasgas o que é letra dolorosa
Eu floreio o texto que objeta
Tu apertas os espinhos da fala rosa
Somos literatura que se completa
Sim, sou poesia e tu és, deliciosamente, prosa




Certeiro

Para mim o amor nunca vacila
Ele é resoluto e certeiro
Ele é absoluto, inteiro
Ele é envolto em vida e à vida envolve
Ele é que me dá o ar que eu respiro
É ele que me salva quando vacilo


Horas

Inventamos as horas para dar conta do tempo
Acreditamos no tempo para dar sentido às horas
Para trás é passado, para frente, futuro
Pedras soltas derretidas no mosaico do agora


Pintura: Salvador Dalí

Ambiguidade

Amar-te é dizer sim à intensidade
Tu és vento forte, chuva, eletricidade
Poeira que cega os olhos para a normalidade
Convites constantes à instabilidade
Estranho confluir de distancia e proximidade
Crueza que por vezes adormece sensibilidade
Mas, amar-te,também, é porta para serenidade
Tu és aconchego, cuidado e bondade
Água morna acalmando a ansiedade
Dúvida que sabe esperar a verdade
Brisa boa que leva embora a saudade
Amar-te é atirar-se com medo e vontade
Mergulhar com coragem na tua ambiguidade


Pintura: Maria Calarasu

14 de fevereiro de 2013

Degustar

Tu és como um prato inusitado
Elaborado sem receita
Com ingredientes improváveis 
Que a coragem instiga juntar
De sabores confusos, misturados
Que aguçam os sentidos
Desafiam o paladar
E eu, sempre me posto a mesa
Aguardando o que haverá de novo a degustar


Pintura: Hamish Blakely

13 de fevereiro de 2013

Castelos

Construo o que sou com tijolos benzidos
Histórias alheias fertilizam a minha terra
E as minhas fecundam o solo dos outros
Assim nascem os mais belos reinos
Assim são erguidos nossos castelos


Pintura: Lew Felixovich Lagorio

12 de fevereiro de 2013

Gosto

Gosto do gosto que deixas
Da suavidade marcante do beijo
Da doce seiva de tua boca
Do ar preenchido de aromas
Que exalas no auge do amor

Pintura: Julia Watkins

Beijo

Beijo-te com o desejo que a saudade fecundou
Beijo-te sem perder o folego mesmo me faltando o ar
Beijo-te para matar as sedes e avivar o fogo
Beijo-te com delicadeza e volúpia 
Beijo-te para misturar-me um pouco e me perder em ti
Beijo-te para encontrar o rumo e eternizar o jubilo
Beijo-te porque as bocas pedem para serem caladas
Beijo-te para que ouçamos o canto de nossas almas



11 de fevereiro de 2013

Arestas

Sou boa, mas nada fácil
Aqui tem arestas e pontas
Silêncio externo e fragor interior
Quem se aventura encontra meu lado amável
Descobre o macio na minha aspereza
Que nas arestas há sempre encaixe
Para as pontas, reentrâncias
Para o silêncio uma música
Para o barulho sossego


Pintura: Steve Henderson

10 de fevereiro de 2013

Candente

Grassa em mim um querer candente
Trazer-te para perto e sentir-te livre
Convidar-te a dançar em nosso silêncio
Fechar os olhos e ficar contigo eternamente


Pintura: Olesya Shiryak-Iordanskaya

Ter

Curiosa essa busca humana do ter
Mesmo que seja sem perceber
Revela-se sempre no impensado dizer
Verbo do apego e do inútil reter
Envolve a alma que se esquece de ser




Roupa

Às vezes, é preciso ficar do avesso
Postar-se frente ao espelho
Demorar-se em exame do que dentro vive 
Ver as costuras da alma
Reconhecer pontos, linhas soltas, rebarbas
Sem desejar jamais fazer o arremate
Pois, essa roupa pede eterna reforma
E coragem para vesti-la com autenticidade


Pintura: A Andrew Gonzalez

6 de fevereiro de 2013

Voar

Às vezes, me falta lampejo para poetizar
As palavras me visitam, pedem para entrar
Abro a porta, recebo e fico a esperar
Há de chegar a hora de alguma aprender a voar




Desenfreada

Sinto um saudade desenfreada
Daquele tipo que não para nunca
Fica girando em mim
E me deixa sem rumo, desnorteada