31 de dezembro de 2012

Rascunho

Hoje rascunharei os próximos dias
Com a mente envolta em planos
Com o coração embebido em sonhos
Farei de conta que a vida não é pródiga em ironias
Então, traçarei metas ambiciosas
Trabalharei, mas só com o que me brilha os olhos
Ouvirei musicas que refrescarão minha alma
Adentrarei cozinhas e novos pratos criarei
Comerei sem o pavor das calorias
Caminharei para ter o corpo em melhor forma
Beberei bons vinhos, pois já se disse que a vida pede isso
Estenderei as mãos a quem a mim recorrer
Viajarei muito e plantarei sementes de paz por onde passar
Fortalecerei as amizades e novas farei
Artistas acompanharei, em telas, palcos e pelos ares
Curarei minhas dores e não mais entristecerei
Pisarei mais na terra, com pés nus e alma aberta
Plantarei algumas árvores e poesias escreverei
Colherei muitas flores e à vida ofertarei
Viverei os dias e as noites com devoção
Com afinco e determinação com a felicidade contribuirei
E, acima de tudo, de perto aberto sem medos ou reservas amarei


Pintura: Runjhun Kejriwal

Vida

Vida abro-me a ti 
Quero-te todos os dias
Inteira, integral, absoluta
Quero-te da forma que te apresentar
Com todas as cores, paladares, odores
Quero-te com teus labirintos 
Com todas as retas e curvas
Quero-te do jeito que for
Com alegrias e estupida dor
Quero-te linda, grande, exuberante
Com toda a beleza que puderes expor
Quero-te nova, viçosa, brilhante
Como um convite de impossível recusa
Quero-te vida, quero-te sempre
Quero sentir-te
Quero viver-te



Raro

O amor é raro
Benção inestimável
Sentimento indescritível 
Energia invisível
Poder nascido na bondade
Nascedouro da compreensão
Realidade que abraça a ilusão
Sim, o amor é raro
E só por isso o amor é caro



Desvarios

Hei de perder o tino
É tempo de cometer loucuras, desvarios
Abandonar as convenções
Criar novas só para mim e tu
Regras que se traduzam em viver
Imperativo, só abraço, beijo, amor
Livre, tudo que a alma pedir
À vontade, só o que der vontade


Pintura: Giovani Jung

30 de dezembro de 2012

Grão

Sou grão, semente, germén
Há em mim vida que urge brotar
Um não sei que, que à luz quer se entregar
Romper a terra, crescer, frutificar
Quero entregar-me ao tempo e ao vento
E inteira o amor polinizar



Fervilhante

Tenho a alma que fervilha inquietação
E a isso sou muito grata
Deus me livre da mera aceitação
E me dê sabedoria para ser audaciosa e cordata


Compromisso

Certa vez entreabri a porta
Sentei-me a esperar tua imagem
Intermináveis segundos até que tu surgisses
Até que em teus olhos eu me visse
E contigo eternamente me comprometesse


Escolhas

O medo é o avesso do amor
O medo é desconfiança
O amor é fé inabalável
O medo entristece, fecha
O amor alegra, expande
O medo prende e afasta
O amor aproxima e liberta
O medo esconde o arco-iris
O amor é profusão de cores
O medo enevoa, cega 
O amor revela a vida
O medo traz culpas e dores
O amor é pura compreensão
Do amor brota a profunda verdade
Do medo o que me impede de ser
No amor é que vivo o que sou
E só sou se viver o amor


Talvez

Eu não sou boa, tampouco sou má
Sou a somatória de meus atos
História polvilhada no tempo
Fusão de água e óleo, gelo e fogo
Diluída e concentrada
Um punhado de sim e não
Multidão, vozerio, deserto
Sou parte e sou todo
Sou busca de ser
Apenas ser
Talvez


28 de dezembro de 2012

Ramalhete


Quero preparar a ti um lindo ramalhete
Deve conter diferentes flores
Algumas já abertas e outras por vir
Vou sair por aí e colhê-las uma a uma
Cada qual com algo que contigo se aparenta
Haverá rosas de pedra, com sua tenaz beleza
Entremearei com as frágeis tulipas e algumas gerberas
E junto a elas as doces, que atraem as abelhas 
(que são tantas a te rondar em busca de teu mel)
Adicionarei um cacto, pois sabes bem de teus espinhos
Para arrematar, o toque de seda de raras orquídeas
Que como tu tem o tempo do esplendor e do recolher
E, é claro, tudo com muitas cores, muitos tons
Pois, assim tu és: belo e expressivo contraste


Pintura: Lybov Lesokhina

Romantismo mineiro

Eu gosto di um tanto d'ocê
E é di um tanto tão grande, tão grande
Tão grande que carece di eu explicá
Mas, me farta as palavra capaz di tudo dizê
As letra se embaraça, se mistura em meu pensâ
E da boca parece querê me escapá
Então, acho que só uma frô procê eu vou colhê
Daí, quem sabe ocê adivinha o meu bem querê
E corre rapidim pro meus braços 
Que tão doidim, doidim pra te envolvê


Pintura: Marta Lobão

25 de dezembro de 2012

Baú


Tenho um baú mágico
Nele guardo meus tesouros
Preciosidades que só a mim tem valor
Embora sejam sedutores encantos
Num frasquinho tem teu cheiro
Que abasteço quando te abraço
Numa caixa tem imagens tuas
Que registro com o clique dos meus olhos
Num caderno tem palavras
Todas as que me destinas, até as silenciosas
Num saquinho as sementes
Que colho das tuas flores vivas
Tem também um fundo falso
Ali fica escondido gosto dos teus beijos
E solta, sem nenhum invólucro, deixo tua voz
Para que eu sempre te ouça me declarando teu amor



Dentro


Dia vai, dia vem, noite cai, sol levanta
Tua presença é constante, firme, forte
Vejo-te na cama antes do abrir dos olhos
Depois tu sentas comigo à mesa do café
Assisto-te nos dois sentidos:
Sirvo-te, pois pra isso existo
E olho-te pois teu rosto é um convite
 As horas seguem e tu continuas aqui
Ficas ao meu lado no zapear diletante
Bebes água quando tenho sede
Comes quando tenho fome
E quando durmo, no meu sonho te apresentas
Depois, me acompanhas na varanda
Ficas junto a ver a vida correr lá fora
Segues-me, também, quando vou à rua
Às vezes, misturo-me a outras pessoas
Mas, tu onipresente ali estás
Volto e comigo tu voltas 
A cada segundo tu estás cá
Sempre perto, muito perto, dentro.

Pintura: Dimitar Voinov Junior

24 de dezembro de 2012

Aparência

Por trás da expressão séria há sutil leveza
É preciso se achegar um pouco
Aproximar-se de mansinho
Quem se aventura descobre minha delicadeza


Pintura: Jack Vettriano

23 de dezembro de 2012

Avesso

Gosto de quem me contesta e me abala as certezas
Que me convida ao novo e me sacode a vida
Que inverte minha ordem e me vira do avesso
E de quem conhece a arte de fazer isso tudo com delicadeza



Fuga

Talvez hoje eu fugisse
Largasse tudo pelo caminho
Deixando um rastro indicando o destino
Para que, se quisesse, me encontrar pudesse

Talvez amanhã eu voltasse
Recolhesse a bagunça deixada na trilha
Apagando os sinais da partida
E de volta ao ninho, quiça me recolhesse

Talvez um futuro eu criasse
Céu azul, salpicado de nuvens
Eu e tu caminhando silentes
Agradecendo o que quer acontecesse


Poetizar

Eu escrevo poesias, é sabido, notório
Poetizo, pois de uma fúria sou acometida
Sentimentos se revolvem em minha mente
Pensamentos se misturam em meu peito
Eles, sentimentos e pensamentos, me exigem
Autoritários me ordenam a transformá-los
E eu, obediente, quase submissa, acato
Converto em versos o que em mim habita
As eternas dúvidas, as provisórias certezas
Alegrias, tristezas, lágrimas e sorrisos
Escrevo sobre meu olhar para o mundo 
E, também, sobre o que não enxergo
Metamorfoseio a clara confusão
Deixo as palavras saírem em profusão
Deixo que elas quebrem minha cancela 
Avancem ignorando meus limites
Deixo que elas me exponham
Mostrem um pouco do que penso que sou
Deixo que elas voem libertas
Esperando que me levem com elas


Pintura: Carlos Zemek

22 de dezembro de 2012

Dança


Danço, eu sempre danço
Mesmo que se custe a notar
E se parece que danço em descompasso
É que a musica que em mim ecoa
Nem sempre a mesma que no mundo toca


Kamikaze

Tenho um ímpeto kamikaze
Mergulho de cabeça se meu coração ferve
Mesmo sabendo que ferida posso ficar
Sigo em frente quando a alma pede
Não importa o risco que possa correr
Eu não não abro mão de ter a vida plena


Pintura: Kelly Vivanco 

Cristal e Rocha

Sou feita de cristal e rocha
Medidas oscilantes de fragilidade e resiliência
A parte rocha parece impenetrável
Mas, se com atenção olhares encontrarás algumas fendas
E se por elas adentrares conhecerás o meu cristal
A porção delicada e frágil protegida atrás da pedra
Que mesmo escondida deseja ser reconhecida



21 de dezembro de 2012

Matrix

Se tudo for mesmo ilusão
Quero não existir envolvida em teu abraço 
Deixar-me não ser sentindo o gosto da tua boca
E no fundo dos teus olhos viver realidade e ficção



Bastará

Vontade de postar-me a teu lado
Docemente abraçar-te e conversar
Ouvir nossas vozes
Cada uma no seu tempo
Falar sobre o que amamos:
Flores, gentes, terra, bicho, céu e núcleo 
Falar do que não entendemos
E do que pensamos compreender
Ver os assuntos deslizando, escorregando
E ouvir também nosso silencio
E assim falar do mundo interno, do entorno e das estrelas
Falar sobre como nos afetam os afetos
Do que inquieta e nos impulsiona a saber mais
Falar, também, do que acolhe e ameniza nossas dores
Saudade da voz e de nossos sorrisos misturados
Que ontem mesmo se tocaram
E que amanha novamente se unirão 
Pois, de certezas não carecemos
O amor, sem duvida, nos bastará


Pintura: Tomasz Alen Kopera 

Abrandar


Sinto-me bêbada de emoções
O mundo gira, volteia em meu corpo
Num redemoinho de confusas sensações
Medo, alegria, amor e fantasia
Desejo de ir para fora e me enclausurar
De aconchego e de estar sozinha
Pegar na mão meu coração e o acariciar
Mas, quero, também, me rebelar
Dizer não ao velho e enrugado mundo
Apagar os rastros do destino incerto
Dar adeus aos medos que me impedem de ser
E às ilusões que me limitam a mente
Quero reconhecer cada pequena parte
Aceitar a luz que de mim emana
Entender que a sombra precisa de mim
E que posso abrandar meu coração revolto
E abrir-me inteira ao verdadeiro amor


20 de dezembro de 2012

Quantica

Sentir, apenas sentir
Separar os fios do amor
Dos que me conectam ao medo
Perceber o que é ilusão
Conhecer com o peito a verdade
Explodir, reconhecer as partículas
Que se espalham na fantasia do tempo
Para reintegrar que é apenas uma parte 
Para ser una com a divindade



19 de dezembro de 2012

Abençoada

Amor não tem medida
Ai de mim querer medir o sentimento
Se digo que te gosto por demais
É só falta de jeito de quem pelo cupido foi atingida

Amor não tem medida
Não tem muito ou pouco, só existe
Se quantifico todo meu encantamento
É só afã de ser por ti compreendida

Amor não tem medida
Eu só sei que é maior que o corpo
Pois, é transbordante, se derrama
O que me faz sentir-me abençoada, ungida


18 de dezembro de 2012

Pandora diferente

Quando tu te abres em sorriso
Vejo-te em alegria escancarada
Mesmo que saiba que há cinza em tuas cores
Admiro esse dom de estampar o que em ti brilha
Daí, simplesmente não resisto
Nesse átimo só preciso de meus olhos
Prendo o ar como o tempo a paralisar
Só para ter mais um tantinho desse riso aberto e franco
Que de viés eu furto e ponho numa caixa mágica
Onde guardo tudo o que me enternece
Quando abro é de beleza que o meu mundo se preenche


Sincera

Às vezes, me perco, fico sem jeito
Por um instante, me falta a coragem
A expressão em minha face congela 
Nasce no peito e transpassa a pele
Engulo as palavras e baixo o olhar
Eu peço uma pausa, mas a vida não para
Abrevio o recuo para inteira me desvelar
Pouco importa se me falta o chão, o teto e o ar
Se a cabeça afoga, se o corpo sufoca
O que vale a pena é ser de verdade
Nada ter a para me mascarar
Nada a esconder por medo de errar


17 de dezembro de 2012

Corações atrapalhados

É duro viver um amor não correspondido
Mas, também é difícil ter o sentimento retribuído
Daquele que não deixa dúvidas de que é compartido
E, mesmo confuso, para a vida ele dá sentido
Nada sendo capaz de deixa-lo enfraquecido
 Mas, mesmo cheio de calor, intensidade e incontido
Se atrapalha todo na hora de ser vivido



Sublime

Estar sem ti quase chega a ser um crime
Inexplicável sensação de que há algo a faltar
Inesgotável desejo de o relógio acelerar
Para que o tempo não possa nunca nos separar

Caminhar sem ti é seguir em estrada íngreme
Inexplicável sensação de que me falta o ar
Inesgotável desejo de logo ao alto chegar
Para convidar-te a comigo nas nuvens ficar

Pois, estar contigo é algo tão sublime
Inexplicável sensação de bem estar
Inesgotável desejo de os segundos prolongar
Para não ter que de ti nunca me afastar


Pintura: Lora Zombie

Eternidade

Hoje acordei ardendo de saudade
Não importa se agorinha contigo estive
Se foi ontem ou anteontem
A mim parece eternidade


11 de dezembro de 2012

Cinzel

Procuro o mais adequado cinzel
Instrumento perfeito para me lapidar
Esculpir, entalhar em minha pedra viva
Criar imagem que a mim seja fiel
Mesmo que não venha a ser obra-prima
Que me seja reflexo, espelho de mim
Algo que me ajude a entender a interna babel


Pintura: Eduard Fleminsky

Orquestra

Há uma orquestra dentro de mim
Ela toca várias músicas
Tantos ritmos diferentes
Infinidade de instrumentos
Há dias que silencia
N'outros é barulho, zoada
Faço eu mesma a regência
Mas, também, dispenso a batuta
E me deixo ser platéia
Para ouvir o que ecoa
E quem sabe em mim viver





10 de dezembro de 2012

Impressões

"A primeira impressão é a que fica"
Que coisa mais limitante gravar na memória um flash
E acreditar que ele traduz eterna verdade
Quero de tudo na vida muito mais que um instante
Que eu me livre logo do que parece certeza
E crie os ensejos para ver diferente


Pintura: Rafal Olbinski

7 de dezembro de 2012

Desaguar

Tempestade, tufão, vendaval
Vulcão, terremoto, temporal
Aqui dentro para ter tempo bom
É preciso deixar desaguar


4 de dezembro de 2012

Alegria


Será que tens ideia da alegria que sinto?
Contarei-te, então, o que me traz contentamento
Gosto quando colocas tua cabeça em meu peito
E apertas teu ouvido e escuta a vida em mim
Gosto quando me beijas suave
E me abraças como se temesses a partida
Gosto quando atendes meus chamados
E te postas junto a mim para abandonarmos a saudade
Gosto quando vejo-te cuidar de tuas flores
E ilumina teu sorriso de beleza, cor e paz 
Gosto quando em ti vejo alegria
E num lapso de tempo não há dor em ti
Gosto de estar sempre a teu lado
E de mãos entrelaçadas para nada mais fazer
Gosto de saber que tu me amas
E quando todos os teus medos brincam de não existir


Pintura: Basudeb Pal Majumdar

Desejar

Eu te vejo, assim como tu me vês 
Ora tiro teu véu, ora me emaranho nele
E tu, ora enxergas o que escondido está
Ora te perdes em minha transparência

Eu te sinto, assim como tu me sentes
Ora o teu pulsar me leva, ora me perco no ritmo
E tu, ora te deixas levar em minha dança
Ora crias passos que me fazem levitar

Eu te quero, assim como tu me queres
Ora o teu querer me envolve, ora desenrola, faz soltar
E tu, ora te entregas sem medos
Ora apenas me dá à distância o teu desejar


Pintura: Arvind Kolapkar

Presentes

O que tu por mim farias ?
Que versos escreverias?
Que poemas recitarias?
Que músicas cantarias?
Que palavras sussurrarias?
Que traços rabiscarias?
Que flores colherias?
Que bebida me servirias?
Que tempo a mim destinarias?
Que presentes a mim oferecerias?
Podes me encher de regalos
Fazer mesuras e mil cortesias
Mas, o que de ti sempre quero
É a inestimável presença
Teu carinho e olhares profundos
Teus dias claros em mim
E tuas nuvens que também são o que és
Quero teus versos, tuas recitas, tua música
Quero as flores que colhes num clique
(e que as deixe brilhar no jardim)
Quero o sussurro que me lembra meu nome
Que embriagar-me da tua bebida
Quero meu tempo misturado ao teu
Quero a vida partilhada com a tua


Pintura:Claude Sauzet

Folga

Darei às palavras ditas uma folga
Por um tempo indefinido as descansarei 
Para que eu possa aprender a falar em silêncio
Para dizer o que sinto outras formas usarei