26 de outubro de 2014

Folhear

Eu não sou um livro aberto
Minha capa não me mostra inteira
Apenas sugere o que dentro está
Mas, acredite sou fácil de folhear
Fica à vontade para ler minhas páginas
Porém, me escrevo misturando línguas
Talvez, se perca entre as palavras
Porém, com alguma história haverá de ficar
Peço atenção às folhas brancas
Essas assim deixo, sem pautas ou margens
São para que ao me ler, tu possas me completar


Pintura: Andreea Alexandra Stela Juduc

24 de outubro de 2014

Letras, sinais

O que a vida me escreve vale cada letra
Até as que não sei decifrar
Aquelas que podem ser nada e tudo
Que podem pouco ou muito significar
Traduzir não é sempre que dá
Tem letra sozinha que o verbo quer encontrar
Tem verbo que pede para se desacompanhar
E outros, sem vergonha, querem se misturar
Tem  palavra, virgula, tem tantos sinais
E tem os pontos, que torço, não sejam finais.



Onde me deixo voar

Tu te enraizaste em mim
Chegou semente trazida no vento
Sei lá de onde veio, mas me encontrou no caminho
Chamou chuva para a aridez da minha terra
E em mim se deixou germinar
Germinada rompeu-se, rompeu-me 
Foi virando árvore abraçando meu céu
E fixando as raízes onde me deixo voar



11 de outubro de 2014

Polifonia

A tua música costura meus ritmos
É como se invisível linha fosse
Que me alinhava em teus compassos
E assim danço, me largo, me solto
Vou conhecendo instrumentos teus
Teclas, cordas, tudo o que te repercute
Mas, desafino nos teus intervalos
Nas tuas pausas, nos teus silêncios
Então compreendo que tudo é música
E sempre me afino em tua harmonia polifônica


Pintura: Marcia Davis

9 de outubro de 2014

Dissolver

Eu me dissolvo em amores
Mas, de forma alguma me misturo
É assim, eu me diluo para manter a inteireza
E, por mais estranho que possa parecer
Sou toda tua sem a ninguém pertencer


Pintura: Jennifer Allison

8 de outubro de 2014

Bastidor

Na delicadeza do bastidor
Eu te percebo inteira delicadeza
Detrás do teu palco tu a mim te revelas
Cortinas fechadas, plateia vazia
Neste cenário tu me enche de cenas
E eu te assisto, simplesmente, te sinto


Aconteceu

Fica em mim a memória do abraço
Da minha pele coberta com o cheiro teu
Do olhar molhado da emoção que me acometeu
Da hesitação que naturalmente se deu
Mas, que a saudade não antes percebida venceu
Deixou nossos rostos tão próximos 
Tão próximos que o beijo simplesmente aconteceu
E do beijo, o amor outra vez nos envolveu


Pintura: Egon Schiele


3 de outubro de 2014

Via

Eu escolhi o caminho do amor
Ainda que me perca em outras esquinas
Que as ilusões apresentem sedutoras paisagens
Que me deixe entrar nos becos da raiva
Que tropece nos buracos da incompreensão
Que me esconda atrás dos muros do medo
Que me desviem as tantas paixões
É na via do amor que eu sigo
Para ela eu sempre retorno
Retorno quando meu imo eu sinto


Pintura: Warren Keating

2 de outubro de 2014

Longo

Podes até achar exagero 
Algo das minhas intensidades
Que pode ser efemeridade
Fogo de palha, coisa breve, fugaz
Mas, garanto-te agora e nos amanhãs também
Penso-te em meus minutos todos
Sinto-te no varar do ar
Quero-te com se fosses toda a vida
E vivo mesmo é no abraço longo teu


Pintura: Diana Moses Botkin

1 de outubro de 2014

O lado de fora de mim

Fico aqui deste lado
Deste lado de fora de mim
Onde tem mesa, cadeira, flor
Tem chão, parede, teto, porta e a janela
E eu dentro que olho por ela
Gente caminhando na calçada
E, também, gente que fica parada
Tem uma musica que vem lá da sala
Campainha que toca, telefone que canta
Avião que passeia no céu
Tem água que escorre no meio fio
Chuva pouca que mal molha o jardim
Um silêncio meu que não dá para ouvir
E eu sei o que ele diz
Diz que te quer bem perto de mim


Pintura: Stephanie Clair

Calo-te

Tem vezes que eu te calo
Acho que é quando demais falo
O que há de se fazer?
Gosto de dar-te palavras
As dou até quando também me calo


Pintura: Gabriel T. Toro