31 de maio de 2014

Circense

Minha alma é circense
Sabe andar em corda bamba
Faz acrobacias, se contorce
Enfrenta feras e também é uma
Cospe fogo e atira facas
Dança, brinca, "palhaceia"
Vai e vem com sua trupe
Faz picadeiro em qualquer chão
Mas, da lona ela declina
Quer mesmo é ver estrelas



28 de maio de 2014

Moeda

Eu não sou moeda
Não sou redonda nem quadrada
Sou de formas variadas
Tenho muito mais do que dois lados
Tenho cara com expressões tantas
Coroa que registra minhas muitas histórias
E outros lados que até eu me surpreendo
Quando à sorte sou lançada sou pela vida cunhada
E nela imprimo minhas marcas



26 de maio de 2014

Agasalhar

Quando o presente é úmido e frio
Bom é se agasalhar com memórias
Histórias de presente passado
De tempo que o calor no sentir se guardou 
Fatos que quentinhos na alma moram
Coisa que se foi, mas que também ficou


Pintura: Vijay Belgave

25 de maio de 2014

Cadentes

As minhas emoções são cadentes
Despencam do céu e em mim se estatelam
Deixam-me órfã da cautela
Vive-las se torna absolutamente urgente


Pintura: Rob Rey

Quatro Tempos

Quisera tivesse a primavera quatro tempos 
Flores adornando os caminhos
Aromas carregados pelos ventos
Borboletas e beija-flores ali e aqui
Calor bom que abraça a pele
Mas, o que seria da beleza ocre das folhas que caem?
Das peculiares cores dos ramos que secam?
Do cinza que molha e esfria?
Das cicatrizes da terra que não bebe a chuva?
É, o redemoinho do tempo bem sabe o que faz


Pintura: Shujun Wong

Rotineira

Tive um sonho estranho
Nele levava uma vida convencional
Do tipo que é tida como normal
Café da manhã, almoço, jantar
Novela antes do novo deitar
Acordei num pulo, quase num susto
Por demais me atrai o irregular
Gosto das curvas e insondáveis beiras
Dos riscos que não se calculam
Da normalidade tranquila canso-me logo
Não caibo nos sonhos de rotina rotineira


Pintura: Kathy Ostman-Magnusen

18 de maio de 2014

Véus

Há véus nas coisas da vida
Tudo o que aparece tem algo por trás
E tem gente que bem sabe os mantos tirar
Que dá conta de a si e a tudo desnudar
Sem receio de inteira se mostrar
Gente que vê e se exibe sem véus
E há, também, quem bem sabe os usar
E para certas coisas até os criar


Pintura: Susan Singer

17 de maio de 2014

Aninhar

Tem prosa que é como colo quentinho
Que faz a gente se aninhar
Esquecer da vida o torvelinho
E nem perceber o tempo passar


Pintura: Juliana Burrell


14 de maio de 2014

13 de maio de 2014

Candeia

Ilumino-me na candeia da cadeia
Nas espirais que vou desenhando pela vida
Caminho na cadência, encadeio
Encaro os começos para aproveitar o meio
E faço dos finais outras partidas

Pintura: Sandy Hook

11 de maio de 2014

Lupa

Sou de ver as coisas em minúcias
De olhar bem fundo, vasculhar os cantos
Conhecer detalhes em seus pequenos entalhes
Mas, tem hora que dispenso a lupa
Quero ver a beleza de longe
Apenas um quadro à distancia
Um panorama da vida, do todo
Fantasiar que tudo é perfeito
Mas, só até perceber a beleza do que aparenta ser falha


Pintura: Jeffrey Hayes

7 de maio de 2014

Acessível

Certas coisas são acessáveis
Porém, pouco acessíveis
Algumas se pode pegar com mão
Outras tocar o coração
Mas, tu que não é coisa, não se pega e nem se toca
E mesmo que te pegue, te toque não se pode te ter
Tu não és de se ter, tu és pra sentir
Tu és pra sentir feito sangue que corre pelo corpo
Feito lágrima desaguada pela face
Feito o ar que me enche as narinas e me invade as entranhas
Tu és para sentir nas entradas, saídas e nos cômodos fechados
És pra sentir na liberdade do cárcere
És pra sentir no salto pro infinito
 Tu és pra viver na alma, no ebulir da vida



6 de maio de 2014

Calmarias

Sim, tenho certo apreço às tormentas
Sentir o barco da vida no sobe e desce
Casco batendo em ondas bravias
Até as derivas me são saborosas
Rumos incertos, bussola tonta de novas paisagens
Sim, gosto de frios na barriga, arrepios
Vorazes e incertas sensações
Mas, já aprendo a navegar em mar de almirante
Reconhecendo o encantamento das calmarias


Pintura: Nik Helbig

4 de maio de 2014

Oração

Que eu seja sempre inteira
Em tudo que disser, verdadeira
Em tudo o que fizer, uma costureira
Suavemente, na vida bordar minha maneira
E que eu nunca tema o que está além da beira


Pintura: Hiroko Reaney

Restituir

Há palavras que matei
De tanto serem faladas, cansei
Mas, que culpa têm se foram mal usadas
De um jeito torto aqui e ali empregadas
Se com isso perderam o viço
Ganharam outros sentidos
É preciso restituir-lhes a vida
Ressuscitá-las


Pintura: Ruben Monzon