31 de agosto de 2015

Éros

Distraí-me quando por mim passaste
Em tua erótica passagem 
Perdi a noção dos tempos
No futuro mais que perfeito
Conjuguei-te em fantasias


Pintura: Ryan Davison

26 de agosto de 2015

Aprendida

Deixou de me bastar viver a vida
Quero mais, muito mais
Até dos avessos, dos reversos
Descobrir-me nas curvas, sulcos e arrastos
Molhar-me com gosto nas chuvas e lágrimas
Rir-me sem saber os porquês
Emergir, submerir
Afundar, flutuar
De novo voar
Querer em tudo almear
Deixar a alma seguir seu rumo
Mesmo que não se ajeite no prumo
Deixá-la descobrir a liberdade
Viver a vida, é fato, já não me basta
Descobri que a vida não é só para ser vivida
Ela quer mesmo é ser lição, ser aprendida


Pintura: Louis Parsons

24 de agosto de 2015

Hemisférios

Andei pelos seus meridianos
Desabei-me nas suas longitudes
Perdi-me em um dos seus hemisférios
Norte ou sul, não sei
Entre tantas idas e vindas
De incontáveis retornos e partidas
Minha bússola desmagnetizou


Pintura: Meganne Forbes

19 de agosto de 2015

Derretida

Quero molhar as palavras, umedece-las 
Feito pão com manteiga no café com leite
Como torrada crocante na sopa quentinha
Miolo branquinho no fundo vermelho do prato
Quero comer as palavras macias
Quero bebê-las também
Sentir o lábio encontrar a espuma do chopp
O nariz se rir das borbulhas francesas
Brincar com o gelo de quem nada diz
Derrete-lo com uma dose de palavras gentis





10 de agosto de 2015

Água doce


Um rio só não me bastava
Só no mar para caber tanta água
Careço de profundidade e vastidão
Lugar para mergulhar e flutuar
Por vezes, ficar sem margem a vislumbrar
E ter ilhas para quando quiser aportar
Mas, o meu mar é de água doce
Tenho sede imensa para aplacar


Pintura: David Shevlino

4 de agosto de 2015

Amora

Seria a amora apenas uma fruta?
Pedacinho vermelho, doce e acre
Que nasce e lá fica pendente
Espera por ser colhida
Depois saboreada, sorvida
Eu, cá, fico perdida em pensamentos
Acho que a amora é a namorada do amor
Assim penso porque o amor não pode ficar só


Pintura: Cicely Mary Barker

1 de agosto de 2015

Olfato

Podem até se disfarçar,  se omitir
Há quem ousa os mascarar
Com artifícios os atenuar
Mas, os cheiros não mentem
Têm insuficiência para a mentira
Uma incapacidade inata para a ilusão
Uma falta de jeito para a ficção
Eles são, apenas são
Alguns gostam de provocar aversão
Outros são mais amigos da sedução
Se teu olfato te engana
Garanto, deles não há culpa não


Pintura: Mou Lu