30 de janeiro de 2013

Mãos

Há momentos que te penso com aflição
Quando te esconde em tuas brumas
Quando te encolhe nas ranhuras
Quando teu sim vestes de não
Mas, tu sabes dessas desventuras
E no intimo percebo tua atenção
E a falta de jeito de lidar com as amarguras
Por isso, jamais largo tua mão


Embrenhar

Embebi minha alma em ti
Deixei que em mim tu penetrasses
Impregnei-me com teus cheiros
Encharquei-te com teus olhos
Revesti-me com teu sopro
Embrenhei-te em minha vida


Pintura: Julia Watkins

Existir

As cores não existem
Assim o cientista disse 
O que o olho vê é pura ilusão
São da luz um fenômeno
Vibração que se traduz em impressão
Então, digo sem medo e sem susto
Para mim existe o que me dá sensação
Que meus sentidos pegam no ar
Pode ate ser devaneio, loucura, ficção 
Mas, do dom de criar eu não abro mão



29 de janeiro de 2013

Sentir

Gosto quando sentes
Gosto quando me sentes
E com teu sentir me compreendes


Pintura: Joe Cartwright

Despudorada

Sou tão esparramada,
Tão desavergonhamente declarada
Veemente e despudorada
Nunca serei capaz de ocultar o sinto
Mesmo que insana, às vezes, tente disfarçar
Então, deixa que eu te ame
Deixa que eu em ti me derrame
Abra-te para que eu em minucias te alegre
Deixa que o amor se declame
E use minha voz para a ti se declarar



Ser

És um ser tão único
Talvez o mais único dos únicos
Um ser tão seguramente inseguro
Tão enevoadamente claro
Tão timidamente escancarado
Tão lucido em tuas confusões
Tão indiferente e próximo
Eu gosto e desgosto dessa tua mistura encantadora
Eu te vejo, antevejo, presumo
Te sinto
Te amo


27 de janeiro de 2013

Pista

Com salpicos de erros
Outros tantos de acertos
Tento do tempo fazer tradução 
Há um tempo brutal que afasta
Outro amável que traz
Tempo que me divide entre a pergunta e a resposta
Tempo que lento fecunda a ansiedade
Tempo que breve faz parir felicidade
Tempo que separa num lapso
Tempo que une no eterno
Quem és tu ser intangível?
Tempo, me dês uma pista
Contes baixinho o queres de mim


Cumplicidade


Sou tua cumplice 
Acompanho-te nos crimes do amor 
Sou quem decifra os delitos ocultos no olhar 
Olhar que só tu e eu sabemos encontrar 

Sou tua cumplice 
Ouço teus segredos e os guardo em mim 
Sou tua caixinha de mistérios guardar 
Mistérios que ficam à vida enfeitar 

Sou tua cumplice 
Subverto a ordem pra te encontrar 
Sou a porta aberta que te leva pra lá 
E lá para ti pode ser qualquer lugar


 

22 de janeiro de 2013

Lealdade

Eu não terceirizo minha felicidade
Tenho noção da responsabilidade
Ser feliz é mais que necessidade
É a mim ter real lealdade





Esclarecida

Filosofia irrefletida:
O tamanho dos problemas defino eu
Aliás, eu defino se há problema
Logo, se eu quiser, não há problema 
Que fique, então, a mente esclarecida
E voe livre sem dilema



Intangível

O importante é intangível
Nem sempre compreensível
Mas, para quem ao amor é sensível
Nada há de ser impossível


Pintura: Julia Watkins

20 de janeiro de 2013

Liberdade

Liberdade é mais do que ir onde se pensa querer ir
É mais do que fazer o que se que julga querer fazer
Muito mais do que dizer o que se crê desejar dizer
Liberdade não é estar feliz fora, mas perdido dentro de si
É caminhar a esmo e sem pressão para se decidir
É escolher caminho e viver os passos dados
E voltar atrás se necessário for
Liberdade é ouvir-se atentamente e sem medo se deixar ir
É se permitir ser o que o que a alma pede ser



19 de janeiro de 2013

Tecido

Dá-me um pouco da tua linha
Quero bordar-te em minha vida
Enfeitar as vestes de minha alma
Alinhavando os desejos
Costurando nossos sonhos
Pespontando as beiradas
Só não quero dar acabamento
Isso não é coisa a se fazer
Pois, a vida é vasto tecido
Sempre pronto a ser adornado
Sempre ávido de ser transformado


Orvalhar

Gosto de florir teus dias
Salpicar de cores tuas horas
Adubar com sorrisos tua vida
Orvalhar amor em tua alma 
Cuidar de ti a todo instante
Regando-te com minhas felizes lágrimas
Para ver-te crescer na existência


18 de janeiro de 2013

Toda

Não nasci para ser gauche
Posso até ter história torta
Mas, Carlos, você me perdoe
Eu vou ser toda na vida




Incógnito

Amor é benção
Amor não cega
Ele, sim, nos permite enxergar o velado
O que se esconde por razões incógnitas
Paixão é que cega
É delicia que nubla e entorpece
De pronto a razão emudece
Dadiva mesmo é amar com paixão
Ver com serena clareza 
E ter o véu que seduz, instiga 



Florida

Nesta noite sonhei tanto contigo
Sensação tão boa de por ti ser querida
De ter em teu colo meu abrigo
Foi tão bom que acordei florida


17 de janeiro de 2013

Jeitos

Eu te amo do meu jeito torto e reto
Quieto e falante, furtivo e presente,
Com palavra e silêncio
Com olhar curto e direto

Eu te amo com curvas e retas
Com idas, paradas e voltas
Eu te amo de dia e de noite
Sempre com portas abertas


Pintura: Elena Shlegel


Magia

No que somos nós há intensa magia
É um caldeirão que ora borbulha, ora se aquieta
Que ninguém se atreva a dizer que o cupido tem má pontaria
Mesmo que muito tenha serpenteado sua seta



Confessional

Vontade de me entremear contigo
Ficar, assim, quieta...calada...
Ouvir o bater indeciso do teu coração
Com meu abraço calar o mundo
Com meu silencio dizer-te tudo


Pintura: Yurii Klapoukh

Debruçar

Gosto quando a felicidade em nós se debruça
Daqueles momentos únicos de benção do amor
Da paixão que nos lambe a alma
Da entrega que livre se dá ao nosso sentir
Da confiança de que o bem nos abraça
E de que o tempo por um segundo para


Pintura: Henri Matisse

Avidez

Joguei fora minha sisudez
Dei cabo do resto da timidez
Misturei loucura à minha lucidez
Amoleci minha rigidez
Aos não impensados eu disse talvez
Aos sim que me expandem dei rapidez
Rompi a rocha da escassez
Tô dizendo chega para a palidez
Quero cores e vida com avidez



Crença

Trata-se de acreditar em si
Reconhecer o oferecimento
Ao amor dar assentimento
Confiar no merecimento
Permitir-se ao encantamento
Pois, a vida pede contentamento


Pintura: Escha van den Bogerd

8 de janeiro de 2013

Na palma da mão

Carrego a chama na palma da mão
Posso até me queimar vez ou outra
Mas, pago o preço com gosto
O que importa é manter o que me alimenta o coração

Carrego a chama na palma da mão
E se pode dizer que é falta de tino, imprudência
Mas, digo que é zelo, cuidado
Um saber da minha alma sem explicação

Carrego a chama na palma da mão
Que chamusque minha pele e minha razão
Que me arda, me inflame, me esbraseie a calma
Mas sejas pra sempre minha inspiração


Espera

Viver no lento tempo da espera
Ensina-me muito mais do que imagino
Se não fico a vagar ou inerte 
O imponderável deixa de ser quimera



Fogareiro

Dentro de mim há um fogareiro
Fogo incessante que me arde
Fervura que não se controla
Que água fria nenhuma amorna



7 de janeiro de 2013

Destino

Tu és meu destino
Se há ventos contrários, eu sigo
Se há correnteza, não paro
Por ti, vale a pena todo o caminho


Pintura: Beverly Morgan

Distraída

Às vezes, me pego distraída
Misturo ilusão e realidade
E daí me percebo perdida
Ah! fale-me com toda a sinceridade
Como saber se entrei ou se encontrei a saída?



6 de janeiro de 2013

Perto

Perto é onde o sentimento se enrosca
Gostosamente se perde no espelho que é o olhar
Vagarosamente se entrega ao aconchego que é abraçar
Preguiçosamente se esparrama no leito que o tocar
Apaixonadamente saboreia a delícia que é beijar
Mansamente aceita a dádiva que é amar
E daí se abre para a harmonia abençoar
E longe, o que é?
Longe é onde o sentimento não gosta de ficar
Longe é sempre para depois
Longe, definitivamente, não é para nós



Rara beleza

Tu és lótus, rara beleza
Que no charco floresce
E aprende viver dor
Sem dela ser presa

Tu és lótus, rara beleza
De passos sagrados nasceu
Transformando em sorriso
Que oferece ao mundo inspiradora leveza

Tu és lótus, rara beleza
Que da água brotou
E suavemente teu amor espalhou
Preenchendo sonhos com incomum pureza

Tu és assim, flor que não carece da terra a firmeza
Flutuas nas águas das emoções imensas
E as vive no âmago, em teu universo
Assim és por quereres da vida tua inteireza


Pintura: Beverly Morgan

5 de janeiro de 2013

Além

Sou tantas e, também, sou ninguém 
Parte livre que sente e vai
Outra presa que pensa e fica
Liberdade existe, está em mim
Mas, 'inda me prendo no pouco que sei
E me debato entre o velho e o novo
Para compreender é preciso ir além
Sentir sem querer entender
Desnudar-me dos velhos conceitos
Permitir-me o vazio da mente
Abrir a porteira ilusória
Confiar na sabedoria da alma 
E deixar que me guie os passos


4 de janeiro de 2013

Flor

Sou um delírio, uma flor
Que tem o perfume do sentimento
Que se espalha feito vapor
Sou estatua viva, em movimento
Esculpida na pedra do amor
Parte inteira de um fragmento
Que escapou da mão do escultor
Que se atrapalhou com o firmamento
E me fez imagem rotunda de amor


Pintura: Ahsan Habib

Divagar, devagar

Ando a divagar, devagar
Sem pressa de chegar a algum lugar
Sem impeto de a conclusões chegar
O que entendo hoje, amanhã pode se apagar
Amanhã posso o pensamento antigo recuperar
Ou então ao que aprendi tudo misturar
Vou me dar descanso da tarefa de a resposta encontrar
E diletante me permitir um tempo de fantasiar
Quem sabe assim o que parece ilusão venha a se realizar
E o que é tido como realidade possa se desvelar


Pintura: Danilo Buccella

Louvor

Quero-te à minha beira
Rasar tua pele, sentir teu calor
Largar-me em ti de qualquer maneira
Misturar-me a ti e sentir teu olor
Sentir a brisa que chega sorrateira
Fechar os olhos quase em louvor
Então, convidar-te a subir a ladeira
E lá do alto agradecer à vida por nos dar o amor


Pintura: Leonid Afremov

3 de janeiro de 2013

Absorvo

Escoam feito águas de um rio a procura do mar
Descem livres, serpenteiam, envolvem o leito
Voluptuosas, envolventes torrentes
De tão sedutoras, me deixo levar
Entrego-me às lembranças que habitam o meu peito
Felizes memórias sempre a me acompanhar
De tão vivas, até sinto teu cheiro
Que inspiro, absorvo até te reencontrar


Pintura: A. Andrew Gonzalez

Diagnóstico

Incorrigível eu sou
Não adianta medicar-me
De nada resolverá internar-me
Em vão será analisar-me
De qualquer tratamento abro mão
Não carece insistência 
Tampouco obstinação
O diagnóstico é preciso
Sou romântica de nascença


Pintura: Henri Matisse

2 de janeiro de 2013

Sorriso

Mereces minha alegria em plenitude
Dou-te, então, meu olhar mais gentil e amoroso
Meu sorriso mais escancarado e franco
Meu abraço inteiro e caloroso
Meus dias de contentamento incontido
Minhas noites de sonhos encantados 
O tempo parado em si mesmo
A dança sem pressa e sem medo
Os meus passos livres e firmes
E as asas da minha fantasia


Pintura: Dmitry Brodetsky

Perfeição

Como perfeita engrenagem 
Tu te encaixaste em mim
Fizeste fluir minha emoção
E deste a minha vida sentido e coragem

Como perfeita linguagem
Tu inspiraste a mim
Entregaste palavras em forma de versos
Transformaste o árido em linda miragem

Como perfeita imagem
Tu te apresentaste a mim
Doaste tintas, pinceis e telas
Então, pinto o amor em tua homenagem



1 de janeiro de 2013

Perto

Longe, distante não te quero
Quero-te a um palmo de mim
Tão perto que ouvirei teu coração
E te quero feliz por ser assim