27 de janeiro de 2015

Randômica

Sensações randômicas
Giro fora do eixo
Voo para outros lugares
Do pouso, não quero endereço


Pintura: Lee White

26 de janeiro de 2015

Espreita

Como se atrás da porta, espreito
Quero pegar o tempo em flagrante
Vê-lo passando escondido
Como se ninguém o notasse


Pintura: Joanie Springer

20 de janeiro de 2015

O sentido do ponteiro

O ponteiro aqui e ali
Confuso em seu girar
Perdido no sentido
Sem saber o que é horário
Sem saber o que é o contrário
Mas, feito gente, incutiu obrigação
Continuou o seu trabalho
Sem saber que horas são


Pintura: Michiko-Yuh

13 de janeiro de 2015

Enigmas

Dedico a vida a decifrar-te
A passear em tuas câmaras
A conhecer teus lugares secretos
Mas, não se faz isso em uma vida
Apenas uma não bastaria
Afinal, amiúde, tu me devoras
Mas, sempre me regurgitas
E, outra vez, de enigmas me alimentas




12 de janeiro de 2015

Bissextos

Há uma vida que corre
Estaciona e parte
À parte
Há amores que voam
Atravessam rios sem pontes
E alguns rastejantes em vidas pousadas
Esperando fevereiros maiores
Bissextos encontros



Repentes

Sou de repentes
De repente ali não estou mais
É que moram em mim alguns desejos 
Vontades emergentes
Como se não mais coubesse no cais
E aí nem tento evitar
A âncora se recolhe urgente


Pintura: Karen Tarlton

5 de janeiro de 2015

Velas e Âncoras

Tenho em mim velas e âncoras
Umas, infladas, me levam embora
Outras, se agarram e me prendem aqui
Umas voam, outras aprofundam
Umas libertam, outras acorrentam
Peso e leveza, substância e éter
Sigo assim fundeada em meus devaneios


Pintura: Steneller Louis

4 de janeiro de 2015

Farol

Esqueço-te por alguns minutos
É quando olho para o outro lado
Outras gentes, outras buscas
Navegantes de mares próximos
Nesse instante não me percebes
Mas, é certo que aqui estou


Pintura; Leonid Afremov

Pão e poesia

Se tiveres uma fome imprecisa
Indistinto, confuso desejo
Podes recorrer a mim
Tenho alguns dotes afins
Posso fazer o pão que o teu corpo carece
E poesia que à tua alma apetece 


Pintura: Natalia Tur

1 de janeiro de 2015

Pingos trançados

Aprecio as chuvas fortes
Aquelas de pingos trançados
Que não dão chance de escape
Que molham sem piedade
Aquelas escoltadas por vento aguerrido
Varredores das coisas passadas
Árvores, tetos, varais e caminhos
Gosto porque são bonitas de ver
Embora, também, metam medo


Pintura: Igor Mudrov

Inresumível

Eu gosto de adjetivos
Por que haveria de não gostar?
Com eles qualifico o que me apetece
E também o que me estorva
São praticamente infinitos
Posso usá-los como bem me aprouver 
Mas, só não ouso escolher um para me definir
Por que haveria de com uma só palavra me resumir?
Sinto-me tão "inresumível"
Ah! Mas, isso também é adjetivo
Bem, convenhamos, de curioso caráter
Pode ao mesmo  tempo revelar muito ou pouco
Possibilidade ou Impraticabilidade
O que sou e o que não que sou
E até o que penso ser
Ou até o que serei
Quem sabe?


Pintura: Pablo Picasso