31 de janeiro de 2011

Oasis

Observo ao longe
à beira da caverna, você
é preciso decidir o caminho a seguir
entrar na profundeza desconhecida
andar pela aridez que leva ao oasis
mas, o coração pergunta
não seria apenas miragem?

30 de janeiro de 2011

Enigma

À distância tento decifrar-te
Entro no labirinto
recolho peças de um quebra-cabeça
componho um mosaico
pinto uma tela
escrevo uma música.
mas, a falta de seus olhos por perto
torna toda arte menos nobre.
Venha, debruce seu olhar sobre o meu
Devora-me mesmo que te decifre.


Estiagem

Às vezes, estio.
Fico com o peito rachado
feito o chão do sertão
meus olhos secos
clamam à cisterna da alma
uma gota que regue minha emoção.


27 de janeiro de 2011

Nascente

A sua voz em sussuro
faz em mim brotar lágrimas
que escorrem feito nascente
a formar um caldaloso rio de emoções.
E nele navego.







Caminho de pétalas

Hoje eu quero andar num chão coberto de pétalas
Flores várias colorindo o caminho para teu colo
Daí, repousar minha cabeça e ouvir teu coração bater por mim
Despir-me de tudo
Despir-te de tudo
Sentir nossos poros se juntando no suor quente que se funde
Deixar minha boca encontrar a tua e flutuar num beijo sem fim



Violino

Eu quero tocar sua alma
com o som das cordas de um violino
Eu quero tocar seu coração
como se música fosse
Eu quero compor em seu corpo
a melodia do meu amor


Cada manhã

A cada manhã busco encontrar seu olhar
só para ter o deleite de nele mergulhar

A cada manhã desejo tocar sua pele
só para ter o prazer de sentir-me arrepiar

A cada manhã quero sentir seu cheiro
só para valorizar minha capacidade de respirar

A cada manhã entreguo meus lábios
só para ter o prazer de te beijar. 

A cada manha espero a tarde chegar
só para que possa logo logo, á noite, te devorar.


Sleeping Venus - Giorgione.

26 de janeiro de 2011

Tempo Estreito

Quero deixar meu rosto a um palmo do teu
Levar minha mão suavemente à tua pele
Demorar-me a admirar-te

Quero deitar meus olhos sobre os teus
Dizer com eles tudo o que precisas saber
e então, abrir meu sorriso e encaixar no teu

Quero entregar-me sem reservas
Permitir que tome minhas mãos
e me conduza decidida para o teu leito

Quero sentir o gosto bom da tua boca
Ouvir nossa respiração arfante
grudar meu corpo sedento no teu

Quero perceber o movimento do ar
Ouvir o silêncio ensurdecedor do tic tac
marcando o tempo estreito do contigo estar


Pintura: Marc Chagall

23 de janeiro de 2011

Felicidade

Em mim há uma felicidade que se espalha
Entra pelas narinas, invade o pulmão
Faz o coração pulsar, bombeia alegria
Nas veias e arterias se derrama
Baila em curvas carregando nostalgia

Em mim há uma felicidade que me inflama
Aquece minha pele, arrepia meus pelos
Torna minha face rubra
Queima minhas mãos que querem te alcançar
E minhas pernas teimam em não me sustentar

Em mim há uma felicidade que declama
Rouba minha voz e me faz cantar
Inunda o ar com sons que só tu podes ouvir
Sussurro que o vento leva para o outro lado do rio
Falando do meu desejo do que está por vir


21 de janeiro de 2011

Desembrulhe

Desembrulhe seu presente
Tire o laço,
raspe delicadamente com a unha
e descole a fita
O papel estará livre
Então, abra!

Veja a caixa
Apalpe-a
Chacoalhe-a
Pergunte-se: o que será?
Encoste o ouvido?
Tum, tum, tum
O que será?

Abra a caixa
Levante a tampa
Devagar
Coloque-a de lado
Para ver depositado
o meu coração
em cetim vermelho
embrulhado
 


16 de janeiro de 2011

Pérolas

O manto que te protege arma a defesa

Fecha suas valvas nas águas do tempo

Envolve em madrepérola a imagem invasora

Quantas pérolas conterá a concha que abraça seu ser?

Palavras vagas

Nas horas que passam
eu dou passos
No tempo que fica
paraliso

Nas ruas dos meus sonhos
acordo, assusto
No espaço infinito
procuro

Na árvore de seus frutos
escalo
Do galho mais alto
Salto

No vôo livre
respiro
no vento forte
flutuo

Nas águas calmas
mergulho
Nos seus braços
desfaço



15 de janeiro de 2011

Amar sem luas

Penso em atos tresloucados
sair embaixo de chuva
molhar o corpo com as lágrimas do ceú
que chora a saudade que sinto

Penso em deixar a sanidade
correr cortando os ventos
arrepiar a pele com o sopro do ar
que me falta ao respirar

Penso em viver sem regras
sentir os pés nús no rude chão
aterrar meu ser na terra crua
que desenha o caminho até você

Penso em te amar sem luas
sob o negro céu pontuado de estrelas
cravar minhas mãos no seu corpo
que amado se deixa entregar.







12 de janeiro de 2011

Mosaico

Um mosaico de luzes e sombras
vejo cores em formas infinitas
imagens que revelam
dores, sabores
receios, coragem
dúvidas, certezas
mudo as peças de lugar
embaralho na vã tentativa de compreender
a razão quer saber
entender a saudade


11 de janeiro de 2011

Silêncio

Ouço o inaudível
sinto a música da sua alma
Leio as linhas não escritas
ordeno as palavras a meu gosto
Vejo a tela nua
pinto nela o meu desejo.
E assim, um suave arfar traduz
a quem é perspicaz
as mudas palavras de amor.


Pintura: Paula Saboia

10 de janeiro de 2011

A saudade

A saudade se apresenta
Se debruça nos ponteiros do relógio
Sobe e desce no círculo das horas.

A saudade se mistura na areia
Passa pela fenda da ampulheta
Piramide reversa que marca o tempo longe de ti.


Ontem

Percebo a linha imaginária
Trajetória de olhares que se buscam
Encontro furtivo de pupilas dilatadas

Sinto a pele que resvala
Breve troca do calor
Tato roubado na passagem

No momento particular invadido
Ouço palavras de disfarce
Dou sorrisos de despiste

Entrego meu corpo num abraço
Dou-te minha boca para um beijo
Enquanto os números descem até a rua

Deixo meu olhos contigo
Assim quando me afastar
Ainda poderás me ver nua


Pintura: Émile Friant

9 de janeiro de 2011

Açoite

Num gesto feito um açoite
tomarei posse de um pincel mágico
escolherei a mais vibrante paleta
rasgarei o branco da mais perfeita das telas
e então, tirarei toda a razão de minha frente
e inteira emoção terei você como modelo
para inundar de cores
a minha vida em preto e branco

6 de janeiro de 2011

Antes

Meus olhos eram outros antes de te ver
na nova pele que abriga tua alma
Minha pele era outra antes de sentir
os poros que exalam tua seiva
Meu sangue era outro antes de correr
em direção ao rio do teu ser

Meu único bem

Meu bem
Meu único bem
Um vício transformado
Meus sentidos se fartando
com meu nome sussurado
em sua voz que se derrama
Ah! Abrace todo o meu corpo
Cole sua pele na minha
Conduza-me numa dança
Mergulhe na cor dos meus olhos
e sinta minha alma fluir.


Tire o véu


Tire o véu
descortine sem medo
aqui há porto seguro
calmaria e aconchego
delicadeza e compreensão

Tire o véu
mostre-se inteira
aqui há quarto escuro
proteção e segredo
desejo e redenção

Tire o véu
Ele nada enconde
apenas ofusca seu brilho
e evidencia a sombra

Tire o véu
não há o que temer
a menos que não queria viver.

Vôo cego

Corda tensa
Resistência
Corda bamba
Entrega
Meio termo
passos seguros
de ida e volta
sobre o abismo
eu arrisco
bailo no ar
num vôo cego
ao seu encontro