30 de maio de 2011

Estopim

Sou para ti do jeito que és para mim
Fatia da vida com ardor de estopim
O correr dos dias com sabor de festim
O cunhar do amor em nosso jardim



Pedaços

Gosto de conhecer-te aos pedaços
as partes separadas do todo
o todo se revelando em pecados

Gosto do que se apresenta de súbito
Gestos, carinhos, olhares
Surpresas que vêm no concúbito

Gosto do teu recato exibido
Sutilezas disfarçadas de arroubo
disfarce ingenuo do que sinto premido

Gosto do teu jeito esquisito
Raridade desbancando o comum
Entregue a mim como presente bendito

Gosto do teu olhar fugidio
Raio X da tua alma
Expressão do maior desafio

Gosto do teu desejo confuso
Um querer sem tamanho
Que a tudo quer ver incluso

Gosto da tua vida sem regras
Passeio em labirinto de espelhos
Onde me jogo sem pensar em tréguas


Pasárgada

Fuja comigo no escuro da madrugada
Vou levar-te para muito além de Pasárgada
Em terra alguma sou amiga do rei
E nesta vida só a ti escolherei
 
 

28 de maio de 2011

Mitos

Feito Parsifal procuro o meu Graal
Atravesso rios e montes
Sobrevivo a cios e sortes
Dentro e fora de mim busco o fundamental

Feito Pandora espreito a caixa
Liberto fantasmas e medos
Tateio tudo cheia de dedos
Abro-me inteira e à esperança dou a deixa

Feito Diana preservo minha pureza
Banho-me à luz da lua
Sem perceber exponho-me nua
Vejo a alma no espelho e busco clareza

25 de maio de 2011

Gavetas

Há em mim gavetas que abrigam mistérios
Abro-as todas para que voem segredos
Feito pássaros libertos visitam novos ares
Num vai e vem frenético procuram seus pares
Mas, há os que resistem a viver em outros lares
E aqueles que se perdem alhures
E poucos que se vão para nenhures

Pintura: Salvador Dali

Sorrateira

Quero ser a poesia em tua vida
a porção exata do que necessitas
a quietude que acolhe teu coração silente
e de ti quero que sejas apenas o presente
a ventania que acorda minha alma dormente

Quero ser teu destino definido
Transformar o que deveria ter havido
e saciar-te a sede com o que em mim habita
Quero mesmo é ser paisagem inteira
Para que possas em mim passear sorrateira

23 de maio de 2011

Sinuosa

Encaixo a peça inicial de teu mosaico amoroso
as demais deixo soltas a se espalhar em cores
Embaralho as partes do quebra-cabeça ruidoso
das convenções é preciso se livrar e viver amores
Ponho-me a rodar em terreno sinuoso
Coragem em mim há para enfrentar mil dores
Mesmo que em mim more um ser belicoso
A ti só venho a oferecer flores
 

22 de maio de 2011

Enxergar sem ver

De olhos vendados busco inspiração
Quero enxergar sem ver
Tatear a tua pele sensível
Saborear tua presença à distância
Aquecer-me nas vivas faíscas de teu sorriso
Repousar devagar a cabeça em teu colo
Sentir teu sangue na artéria contrita
Vislumbrar felicidade através de tua iris
Dar-te em retribuição flores e cores colhidas no mar
E sobre as águas, convidar-te a dançar


Estação

Quero ver a paisagem interna
Avistar o horizonte do meu coração
Abrir a passagem secreta
ir e vir para encontrar direção
Percorrer os becos escuros da alma inquieta
curvar-me às dúvidas em sinal de devoção
Flutuar na minha mente incerta
Deixar meu pensar em abdução 
 Distrair-me da vida em alerta
Permitir-me descer em qualquer estação

Pintura: João Barcelos

Silêncio revelador

Neste céu de outuno traço uma linha imaginária
pontilho dentro do azul, cortando o vento brando
o caminho que leva meus olhos ao encontro dos teus
Percorro em imagens guardadas a trilha de tuas falas
De olhos fechados ouço meu nome chegando em sussuro
Dou-te, então, o silêncio revelador que traduz o meu amor.

17 de maio de 2011

Segredos

Teus segredos curtos
Vão até a esquina e voltam
Correm saudosos pedindo colo
Se aninham seguros no calor de tuas mãos

Teus segredos roucos
Gritam tuas verdades
Calam em sussurro clamando benção
Teu olhar complacente acolhe estas vontades

Teus segredos ávidos
Imploram revelação
Silenciam obedientes pedindo palco
Na ribalta de tua alma se contentam com sussuro

Teus segredos pássaros
Voam alto no horizonte
Num mergulho imprudente
Deixam em minhas mãos teu desejo ardente

16 de maio de 2011

Alforria

Se acaso enfeitiçaste-me
terás que assumir a culpa
se misturo desmedidamente as letras
alguém tem que julgado ser
e não há ninguem mais, senão tu
tua pena pagarás com beijos
teu carcere será meu olhar
teu sol será meu abraço
tua alforria, meu amor.

Confissão

Se quiseres confesso por ti
Se julgas que falta-te suspiro romântico
Venho eu a por palavras em tua boca
sorrateira, humilde e em segredo
direi aos ventos que me amas
Uma confissão emprestada
daquelas de se ouvir fascinada
Deixarei o ar puro, intenso e inebriante
envolver teus pulmões e amortecer teus sentidos
Quero ver-te, em extase, baixar os olhos 
beber cada palavra e sentir
a alma possuída e abençoada.

Poliamor

Poliniza
Voa de flor em flor
Colhe teu afeto
Deixa para traz a dor

Poliamor
Variedade rara
Porção de toda parte
Compreensão que a muitos é cara

Poliverdade
Encontras o coração
Fiel às tuas razões
pouco aceita a aceitação

Poliabraço
de um lado a companhia
do outro a fantasia
a frente a convergência

Polidivisão
pergunta convencional
separar é a questão
juntar a solução

13 de maio de 2011

Rédeas

Vou deixar as rédeas frouxas
conduzir o animal que em mim reside
com mãos leves e mente aberta
sentir o chão firme sobre os pés
o vento forte a varrer meus medos
correr a favor do tempo
viver em contentamento

Inspira-me

Inspira-me a brincar com palavras
embaralho sentimentos e formas
e no esconde-esconde de razão
pego-te de chofre pela emoção
busco o equilibrio sutil
procuro a dose exata
e descubro no exagero
a formula exata da expressão

A Porta

Sob o efeito da noite que me abraçava
e do seu sussuro que me embalava
converti em palavras meu desejo
Vaguei em sonhos
Voei feito um pássaro que migra
Corri em vastos e floridos campos
Nadei em mares de amor
e num mergulho cheio de coragem
encontrei submerso o verbo a conjugar
em primeira pessoa: amo-te
em segunda pessoa: amas-me
entendi que nada mais é preciso
todos os tempos
tudo o que resta
nada importa
pois tudo a ti reporto
basta que abras a porta

12 de maio de 2011

Deslizar

Quero amar-te longa e ternamente
Despir-te primeiro dos medos
Tirar de ti o manto das frágeis certezas
Cobrir-te com o véu da entrega
Sentir então tua pele quente
Tocar teu rosto incansavemente
 dedicar-me a olhar teu corpo convite
Quero beijar tua boca apaixonadamente
encontrar o caminho do teu prazer
para que não saibas mais o que é sofrer
Quero viver no vai e vem da vida abundante
e no deslizar de almas e corpos
transcorrer o tempo sem medida
para que num instante preciso
tudo seja apenas tu e eu

11 de maio de 2011

Pálpavel

Ora és pálpavel
basta esticar as mãos e tocar-te
Ora és como éter
pareces alcançável, mas é pura ilusão
Envolva-me nessa complexidade tua
Em que o raso é profundo
o longe é perto
 o tempo circular
Envolva-te nessa complexidade minha
em que a compreensão é natural
a rudeza se reveste de gentileza
a lógica se curva à emoção

10 de maio de 2011

Pássaro

Voa meu pássaro
É para ser livre que nasceste
O céu a ti pertence
Aproveite os bons ventos
Com os pés firmes no chão
assistirei tuas manobras
Asas abertas e exibidas
em rasantes de inquietude
Voa minha águia absoluta
Do alto olhes para mim
Felina que sou estarei a observar
Quero a ti nunca aprisionar
só estar junto se bem te fizer
de outra forma, prefiro ver voar
Não há distância a nos separar
Voa desbravando horizontes
Vá bem longe, mas volte logo
pois, estarei sempre a te esperar

Tempo breve

Teus olhos...
Que falta sinto deles a me contemplar
Teu sorriso...
Que falta sinto dele a se revelar
Tua boca...
Que falta sinto das palavras a derramar
Tuas mãos...
Que falta sinto delas a me tocar
Tua pele...
Que falta sinto dela em mim roçar
Tua alma...
Que falta sinto dela a me abraçar
Atravessa o rio da relutância
é preciso nadar nessas águas
afogar nos beijos meus
dormir em meus braços
pulsar no meu peito
resgatar-me desse tempo
que mesmo breve marca tua ausência

Rendição

Os sons da minha alma
atravessam os ruidos da cidade
voam entre nuvens em direção a ti
encontram anjos que sopram recados
das cordas de suas doces harpas lançam
pedidos de rendição aos quereres do coração
soam trombetas anunciando felizes
nossa eterna união. 

Claridade

Cuido para a beleza reter
no espelho dos teus olhos me ver
o reflexo de teus pensamentos
sorrateiro invade minha alma
claridade bem vinda a envolver
a janela do meu ser
e nela um sonho real
contigo posso viver

9 de maio de 2011

Sonho vago

De repente amanheceu
pela janela uma luz estranha
da noite escura restam pensamentos
Pudera permanecer dormindo
no conforto estranho do sonho vago
Eu não sei o que fazer
manter-me na noite da alma
despertar para o que pressinto
Quisera por um só momento
nada ter a decidir
Deixar-me ser somente
a grande dúvida a persistir

Rapto

Vou raptar-te
fugir contigo para longe
conduzir a carruagem do desejo
navegar nas calmas águas do afeto
voar sem asas
sustetar teu corpo com uma mão
a outra teu rosto acariciará
quero verter dores em cores
no arido chão fazer brotar flores
andar segura na trilha incerta
que leva a teu coração aflito


Teu silêncio

Penetra em mim a doce nota
a musica da tua alma
arrepia meus sentidos
percorre minha pele
em tua complexa pauta
desliza sutilmente
assim, sou tua em teu silêncio


Pedido

Deixe-me ser para ti
a menina que pede colo
a mulher que te arrepia
a criança que se aninha
a fortaleza que sustenta
a fragilidade que desorienta
a sabia que aconselha
Deixe-me ser assim
poesia que se derrama
a dubiedade agridoce
a delicadeza e a rudeza
pedra que permite a água moldar
Serei tudo o que é possível
Se me deixares para sempre te amar
Serei alma acalentada
Se comigo casar


4 de maio de 2011

Parar

Às vezes, é difícil ser o que somos.
Esse cansaço estranho que dá vontade de parar
e no instante seguinte, continuar
sabe-se lá onde o caminho vai dar
Queria mesmo era dar uma pausa no mundo,
andar por todo lugar e quem sabe me encontrar.


Intuição

Eu não sei o que fazer...
Então, nada faça.
Assim gritou a intuição.
Aguardarei dela novas instruções.

3 de maio de 2011

Explosão

Quero explodir de amor
Dar-te pedacinhos da alma
para que que cries um mosaico
com cores tuas e minhas

Dias em flor

Quero aprofundar-me em tua alma
Conhecer os recônditos de tuas inquietações
e num abraço único reter tuas dores
Quero mergulhar em teu corpo
Reviver as sensações da pele em brasa
e num sorriso úmido revelar meu imenso amor
Quero o sonho de dias em flor
Viajar flutuando entre nuvens
E em ti, morrer de amor


Pintura: Amy Giacomelli