30 de setembro de 2011

Desobediência

O amor que sinto é por demais desobediente
Insiste em acomodar-se em meu peito cansado
Vai me envolvendo de leve e disfarçadamente
Querendo entender meu sentir pensado
E para me convencer se põe todo atraente
Faz-me esquecer do coração crivado
E me encoraja a outra vez nadar contra a corrente

Ninho

Vou num ninho acomodar as inquietações
Embalar os fantasmas que teimam em se revelar
Cantar baixinho para aquietar a alma
Fazer um silêncio retumbante para acordar a calma


Turbilhão

Deslizo pela vida feito um turbilhão
Distribuo sentimentos a quem se permite
Percorro caminhos pouco conhecidos
Em zonas nebulosas, às vezes, me perco
Com a visão embaçada aguço outros sentidos
E na substância arisca do meu ser
Misturo-me toda em tudo o que envolve amor
Arrepiando a pele que me cobre nesta existência

21 de setembro de 2011

Terceiro olho

Há o que vejo com meus olhos físicos
E aquilo que enxergo quando prescindo deles
Há momentos que duvido do que esta à frente
E outros tempos que só creio no busco dentro
Sigo, então, perdida entre os meus não sei
Tentando não esquecer o que já aprendi
Descobrindo novos olhares no que ficou para trás
Construindo a minha trilha a confiar no chão
Sem esquecer que vez ou outra devo pisar nas nuvens

20 de setembro de 2011

Primavera

Na aridez concreta da cidade
Vejo as flores se espalhando
Na rachadura da calçada
Na margem pútrida do rio
No jardim abandonado
Na praça que só vejo de passagem
Quando o vermelho para o trânsito
E o ar que mesmo poluído
Sustenta o canto alegre dos pássaros
Que sem conhecer o calendário
Sabem muito bem que em breve ela chegará
Portentosa e absoluta junto ao cinza reinará




Lúcida

Escrevo a verdade que minha alma não enxerga
Cega, vejo tudo que de mim se esconde
Lúcida, enlouqueço sem querer motivos
Louca, explico em pormenores as razões do acaso
Só, me acompanho em todos os lugares
Triste, me alegro por poder sentir
Saudosa, revisito o futuro que irei construir
Resoluta, dou mil voltas antes de decidir
Sensata, acolho a realidade da minha ilusão

19 de setembro de 2011

Estampada

Teu sorriso que mistura atrevimento e timidez
Estampa em meu rosto o desenho da alegria
Encoraja minhas mãos a procurar a tua face
Convence a minha boca a aproximar-se da tua
Desequilibra minhas pernas no fervor da emoção
Direciona meus desejos a um único endereço
Condiciona minha mente a ter certos pensamentos
Armazena em minha alma a paixão que vence o tempo.


18 de setembro de 2011

Respirar

Assim sem mais nem menos compreendo-te
Tudo que seria incompreensível a olho nu
Meu coração aberto só faz acolher e venerar
És o enigma que não desejo desvendar
És a causa que sem justificativa quero abraçar
És a vida que quero, mesmo à margem, acompanhar
És a história que quero como personagem participar
És a pauta para as notas que quero musicar
És o facão que abre as trilhas que devo adentrar
És o amor intenso e manso que me faz respirar


12 de setembro de 2011

Destinos

São destinos que se cruzam
Confluências e afluências
Como rios que se encontram
Mas, as águas não misturam

São novelos que se enroscam
Fios que soltos pouco tecem
Mas, na liga do improvável
Criam as cores do possível

São histórias que se unem
Paralelas que se juntam
Na bifurcação do amor
Em todo canto te espero


Painting: Ashley Coll

Flutuante

Se já dancei contigo sobre as águas
Convito-te a elevar teus pés
 Nesta primavera que se anuncia
Sobre as lindas copas floridas
Vem flutuar outra vez em meus braços

Comportas

Abro as comportas da minha alma
Derramo-me toda sobre ti
Espero em teu colo que me chegue a calma
Inundo-te com o amor imprudente
Desejo que me tenhas em tua palma
Que de mim afaste tudo o que é reticente

9 de setembro de 2011

Meada

Se sou um novelo no chão caído
Recolha, então, o longo fio estendido
Misture-me célere à tua meada
Para tecer o manto do amor bendito
Vivamos a fiar os dias
Confiando no sábio tempo
Que descortina nosso destino
No caminho certo do encontro eterno

Cósmica

De Vênus roubo a delicadeza
De Saturno o olhar sobre o tempo
Do rubro guerreiro tomo a força
De Jupiter empresto a égide
De Artemis conservo a luz
Em Mércurio busco sagacidade
E banho-me ao sol para integra ser



Couraça

Há momentos em que entristeço
Recolho-me miúda ao catre d´alma
Procuro nos sonhos algum alento

Em tempos outros enrijeço
Visto couraça de seda e vento
Seco a fonte de todo lamento

Por vezes, finjo que me esqueço
Em ebulição ficam os sentimentos
Difarço a confusão do pensamento

3 de setembro de 2011

Namastê

O que diz esse deus que em mim habita
Que ora fala uma língua que penso entender
N´outro instante um antigo dialeto que pouco revela
Depois, dá conselhos para que eu possa empreender

O que faz esse deus que em mim transita
Que me leva para longe e de volta me traz
Que na vezes que se esconde me inquieta
E se revela me mostrando a direção da paz

O que faz esse deus que em mim gosta de brincar
Que busca minha criança que acredita em luz
Que gaiato mostra tudo num breve piscar
E me inspira a não perder de vista o que me seduz