25 de novembro de 2014

Parabólico

Tens um sentir parabólico
Captante de sentires vastos
Teus e tantos
Viajante, itinerante
 Central e cósmico
Transcendental
 A ti, vital


Pintura: Cedar Lee

23 de novembro de 2014

Perpetuar

Tem horas que quero casar
N'outras que só comigo acasalar
De mim mesma engravidar
Mas, ai de mim sem ti me perpetuar


Pintura: Gloriana Hernandez

Moinhos

Por ti eu me aventuro
Percorro tuas estradas
Cavalgo teus campos
Adentro tuas florestas
Enfrento teus moinhos
Posso ser o que quiseres
Sancho de inteiros pés no chão
 Quixote, fantasia e eternos porque não


Pintura: Álvaro Suárez Vértiz

18 de novembro de 2014

Juízo

Perdi o juízo
Deixei cair ali na esquina 
Percebi, mas não fiz conta
Nem pra trás me pus a olhar
Deixe-o lá na sarjeta
Meio bêbado, borracho
Cambaleante atrás de mim
Mas, dele eu tirei férias
Fui viajar no meu sentir
Quando voltar o reencontro
Mas, ainda não sei se o quererei



17 de novembro de 2014

Criação

Tu me criaste poetisa 
Agora, sou escrava de teu invento
Versos me perseguem noite e dia
Rimas sorrateiras me ocupam
Palavras usam roupas sedutoras
Tudo o que vejo e ouço assim se veste
A mim, só resta despir-me em poesia
E desfilar a nudez do meu sentir


Pintura: Dimitri Kozma

16 de novembro de 2014

Versos continuados

A gente é feito poesia 
Versos livres e continuados
Com rimas raras e imperfeitas
Criando estrofes irregulares
Só cabem no nosso tempo desritmado
Nos nossos encontros e reencontros


Pintura: Beverly Ash Gilbert

O Ciúme do Flamboyant ou Infidelidade II

Deparei-me com um Flamboyant ciumento
Ele não me via, mas eu atenta o ouvia
Ao Resedá lindamente florido ele dizia
Você soube que aos outros ela fez poesia?
E a nós, nada, nem um verso, daí minha agonia
Então, escondi-me atrás de sua gigante melancolia
Era tão grande que até a minha vergonha cabia
Como pude deles esquecer? 
Parece até ironia


Pintura: Estela Robles Galiano

13 de novembro de 2014

Espiralados

Seguia a ti em fluxos espiralados
Como numa escada de edifício antigo
Desses do centro da cidade, beges escurecidos
De pantográficas portas que se abrem
De tempos outros que ainda existem
Seguia-te como a teus contos
Teus personagens sombrios e sãos





Manoel e o Céu

Hoje o céu chora, molha a face da Terra
Choro copioso, do tipo soluçado
Mas, é pranto de contentamento incontido
Não é lástima, lamento, vagido
É coisa de coração preenchido
Coisa de quem recebe visita longínqua
Alegria de quem revê velho amigo
E diz de braços abertos e inteiro sorriso
Pode entrar, Manoel, és meu querido


Caricatura: Fernando Romeiro

11 de novembro de 2014

Na tua beira

Quando a tristeza vem sorrateira 
Querendo me dar rasteira 
Eu me coloco junto a tua beira
E daí, de novo, fico inteira




9 de novembro de 2014

Infidelidade

Sim, eu sou infiel
Eu juro amor eterno
Mas, as belezas me seduzem
Apaixono-me a cada estação
No outono me entrego às Paineiras
Fico perdida de amor
Depois, aos poucos o ar se esfria
E, volúvel, aos Ipês os meus olhos dou
Mas, furtivamente, para as Cerejeiras eu pisco
Esqueço que logo a primavera chega
E vem com ela a sedução do Jacarandá
Sou inteira desse lilás mimoso 
Até que se amarelem as ruas
Quando a Sibipiruna me arrebata de vez
Eu acredito que agora é para sempre
Para sempre até a outra estação.



7 de novembro de 2014

Bordas

De-me um bom pedaço da sua linha
Essa que usa para alinhavar seus sonhos
Quero me entrelaçar nela
E depois, com a sua agulha de bordar
 Entregar-me às bordas do seu tecido
Bordas feitas de fios de muitos fins
E que infinita, não economiza começos


Pintura:  Linda Apple

6 de novembro de 2014

Dançando

Eu abraço os teus sentidos
O silêncio morno com que me presenteias
E tu me envolves do teu jeito
Jeito único como se fosse o único jeito
Vem a música que só nós ouvimos
A ela, silentes, nos entregamos
Apenas assistimos nossas almas dançando 


Pintura: Vadik Suljakov

5 de novembro de 2014

Fome

Adoro mexer com essa parte tua
Esse lado que se atreve a viver no inseguro
Que sem medo vai comigo até a lua
Que não se importa se é claro ou escuro
Que tem receios e mesmo assim não recua
Que come o fruto sem saber se está maduro
Que sente a fome que claramente se insinua
Fome de presente travestido de futuro


Pintura: Jian Chong Min

4 de novembro de 2014

Olhos

    Ah!!! Esses meus olhos de te ver
    Que dão jeito ao meu sonhar-te
    Que me faz ver-te  em muitas formas
    E sonhar-te como quero
    Ver-te em tuas marcas
    Na pele que lhes dá guarida
    Na tua cor que me esmaece
    Quando teus olhos me reconhecem