30 de junho de 2013

Dia

Se tu fosses um dia seria como hoje
Com sonolento acordar antes do despertar intenso
Com horas lentas e outras urgentes
Com frio na sombra e calor na luz
Com celestes gotas e colorido horizonte
Com pacientes nuvens emoldurando o sol
Com o sol hesitando em enfim se por





26 de junho de 2013

Esquinas

Eu fui ali ver se eu estava na esquina 
Displicente, lá estava eu
E lá, então, eu me encontrei
Não sei porque, mas lá deixei os meus sapatos
Leve e descalça pra casa voltei
Confiante, acreditei o caminho já conhecer
Mas descobri que há tantas outras ruas
Tantas outras curvas, ângulos e vias
E já não sei se retornar até aquela esquina
Lá de novo me encontrarei


Desenho: Mohara Caires

Cores

Que tudo vá além do cinza
Que se saiba o que é o azul de cada um
Que a chuva caia como é que tem que ser
Que o frio exista para que eu possa me aquecer
Que a vida seja vivida do que jeito que se puder
Que se entenda finalmente que nada se tem que entender
Que não importa que cores vejo e sim o que elas pintam em mim


Pintura: Elena Bond

25 de junho de 2013

Lampejos

Entendo tão pouco da vida
E o que penso entender, amanhã desentendo
Vou e volto em absolutas e breves certezas
Tenho lampejos de convicção
Fugazes momentos de grande clarão
Que me mostram e me cegam à mesma razão
E se fujo a estrada dá voltas e de volta me traz
Sinto-me criança nos passos primeiros
Embora zilhões eu já tenha andado 


Pintura: Robert Karkusov

Fantasias

Gosto quando tu cruzas as pernas 
Gosto de fantasiar que é pra mim, só pra mim
Que pra mim acentuas tua delicada porção 
Que pra mim insinuas desejo e fingido recato
Que pra mim mostras todos os teus pedaços 
Que pra mim te permite aos pecados
Gosto de fantasiar, de acreditar que és só pra mim
Que só pra mim te entregas 
Que só comigo a felicidade te abraça
Que quando comigo estás, queres que a vida não tenha fim


Sagacidade

Vontade de guardar minha sagacidade
Coloca-la, bem dobradinha, numa caixinha
Depois, deixa-la no fundo da última gaveta
Ficar um pouco vendo a vida sem querer entende-la
Apenas sentindo sem pensar em saber
Apenas viver a alegria que sou com você


Pintura: Susana Ragel

Naïf

Tenho um jeito meio naïf
Um gosto pelo que nasce quase sem estudo
Prazer em reconhecer o espontâneo
Tenho uma despreocupação com o correto, o medido
Uma confiança ingênua de que tudo se acerta
Um apostar que o vento limpará meus pensamentos
E me libertará todo o sentimento
Uma certeza que não carece de provas
Um aprender na vida, sem livros, sem lousas
Um acreditar que o tempo sempre te trará pra mim
E na feliz paisagem felizes nos abrigará


Pintura: Pilar Sala

23 de junho de 2013

João e Maria

Somos seres em busca da plena vivência do amor
Caminhamos assim pela vida
Feito João e Maria seguindo as migalhas
Migalhas de encantamento, prazer e paixão
Que ora se multiplicam, ora se dispersam
Marcarmos o chão das nossas ações
Queremos a leveza das fantasias 
E a segurança dos pés no chão



Fragmento

Uma página rasgada jaz no chão
De que livro terá saído?
Teria se libertado de um secreto diário?
Que pedaço de história ali haveria?
Que personagens ficaram órfãos?
Ou a quem a viuvez se tornou companhia?
Que história ainda se conta mesmo com essa falta?
Que história inteira tem esse fragmento?


Diga

Apenas diga que me ama
Diga sem medo do futuro
Diga sem que se comprometa
Pois, amor é o que se sente, não o que é promessa
Diga hoje, pois do amanhã quem sabe?
Diga com e sem palavras
Amor é pra viver sem correntes 
Amor é pra viver livremente
Sem fugas, sem medos, com vida
Amor é grande e nada nele se apequena
Por isso, nele explodo hoje, amanhã, todo dia


Pintura: Trisha Lambi

Fábula

Deixes que eu seja hoje tua fábula
Que eu possa adentrar o teu castelo
Livre dos meus medos tirar-te para dançar
No salão cheio de cores, sem cansar, rodar contigo 
Rodar tanto até tudo o mais parar
Apenas nós, o chão e o ar
Nesse justo instante nossa verdade há de se apresentar


Pintura: Lybov Toscheva

18 de junho de 2013

Movimento

Algo se move em mim, sempre
Tem inquietude, desejo e calma
Tem dúvida, destempero e furia
Tem paz nascida em meio à guerra
Tem batalha perdida e vitória
Tem tempestade que calmaria abala
Tem garoa fina que aos poucos toda me molha
Tem dança de vento e fogo
Tem beijo de mar e rio
Há sempre algo que se move em mim
E ao se mover, me move
E ao se mover, a ti me move


15 de junho de 2013

Lágrima

Vou deixar que escorra
Que caia lenta, morna, intensa
Nascida das entranhas que venha viva
Que a alma sue e soe, evapore suas dores
Que desça livre, crie rios em meu rosto
Escorregue para minha boca para que sinto meu gosto
E assim, reconheça minha força


Pintura: Yulia Klimova

Vácuo

Existe uma lacuna, um vazio
Um lugar, um tempo, um vácuo
Um átimo entre a explosão e o controle
Um instante de pleno sentir
Território sem limites, sem terra
Nele me encontro e me perco
Nele eu morro e renasço
Nele eu até sei quem sou


13 de junho de 2013

Ato

Observo o palco da vida
Elementos cênicos em profusão
Personagens, enredos
Algumas cortinas abertas, outras cerradas
Ato após ato se constrói a história
Vai e vem dos figurantes internos
Cenários mutantes ora cores, ora sombras
E eu, protagonista vejo só parte da cena
Quero ir pra platéia para ver todo o palco
Por breve tempo assistir minha vida
Olhar-me de fora para me ver por inteiro




11 de junho de 2013

Tua flor

Um olhar, um sorriso
Um abraço, um beijo
Um colo, um abrigo
Uma flor, céu azul
Teu olhar, teu sorriso
Teu abraço, teu beijo
Teu colo, meu abrigo
Tua flor é meu céu


9 de junho de 2013

Exclamação

Às vezes, é quase como um soluço
Do nada surge e me deixa aos pulos
Inquieta, nem tento controlar o impulso
Rendo-me ao que vem de dentro
E simplesmente me ponho a escrever
Escrevo para poder expirar
Soltar as palavras que da vida inspirei
Que se misturam com o que já me habita
Para eu exclamar o amor que me alimenta a alma


Pintura: Adolfo Estrada

Barro

Gosto da ideia de ser barro
Matéria a se modelar no cotidiano
Daquela que seca ao sabor do tempo
Ou da que se coze em temperaturas altas
Posso ser cerâmica para a vida adornar
Panela para o alimento preparar
Tijolo para compor construção
Posso ser massa mole e disforme
Enrijecer se perder a alegria
E se quebrar, posso triturar, moer
E moída me misturar à água
E assim, de novo renascer
Ser o que o coração pedir para ser


4 de junho de 2013

Pálpebras

Mas que lugar encontraste para esconder-te!!!
Atrás de minhas pálpebras!!!
Até de olhos fechados te vejo!!!


Pintura: Roberto van der Ploeg

1 de junho de 2013

Depois

Que possamos nos encontrar 
Eu em mim, tu em ti, nós em nós
Que nos seja possível descobrir no imo a paz
Que o tempo sábio nos perdoe os erros
Que a memória não se apague nunca
Que o amor sempre nos preencha a alma
E que possamos nos reencontrar depois