31 de março de 2015

Substantivo

Interrompi a frase antes do verbo
Reconheci a substância do substantivo
Que parecia prescindir de adjetivo
Era, apenas era e se bastava
Em si, se traduzia e se completava



26 de março de 2015

Pedra-sabão

No meio da tua prosa encontro poesia
Entre (sim, entre) entrelinhas vejo os teus versos
Vejo-os entalhados em pedra-sabão
Na maleabilidade da tua pseudo rigidez



24 de março de 2015

Acúmulos

Mexes comigo lá no fundo
E mexendo, revolve os acúmulos
Os exageros de todos os cúmulos
Sensações, sentimentos, palavras e gestos
Desnuda-me sem me expor ao frio da existência


Pintura: Leonid Afremov

Utopia

Minh'alma vive a sonhar-te
Mas, sou diferente da lusa Flor
Não me sinto perdida
Ou quem sabe goste de perdida ser
Talvez isso me baste
Estar perdida
Viver na utopia
Alimentar-me nas fantasias


Pintura: Abhijit Bhattacharya

22 de março de 2015

Latência

Dormem em nós tantos quereres
Dormem em nós tantos saberes
Dorme o saber de quem somos
Dorme o saber de nós mesmos
Dormem nos povoados espelhos
Dormem em infinitos encontros
Dormem na noite de todos os tempos
Dormem no saber de outros planos
Dormem em intermitência 
Dormem no leito da essência 
Assim, somos 
Sábios em latência


Pintura: Cammy Davis

13 de março de 2015

Horas fingidas

As horas passam
Às vezes, sem dizer alô
Passam de cabeça erguida
Altivas, fingindo não me notar
Mas, há um tempo diferente
Parece correr em paralelo
É nele que acompanho-te




Registros

Sou quem sou 
(ou o que penso que sou)
Sou, também, o que pensas que sou
Quando olhas o registro de um só flash
Quando vês a fotografia de um momento
Tenho um álbum inteiro de imagens criadas
E infinitas páginas nuas a serem imaginadas


Pintura: Carly Dellger

Intenção

Tenho a declarada intenção de encantar-te
Então, tiro o véu que me encobre as qualidades
Mas, tiro aos poucos, mostro-me aos poucos
E deixo que reconheças de soslaio até alguns defeitos
Quero trazer-te para perto 
Perto do meu mundo
Perto das minhas cores
Perto dos meu olhares
Quero, assim, aos bocados, te cativar
Quiça, no passar tempo, te seduzir
E deixar o tempo se decidir



11 de março de 2015

Epicentro

Haverá o epicentro dos "não sei"?
Acho mesmo que eles preferem se espalhar
Ficam por aí, em todo lugar
Não carece esforço para neles esbarrar


Pintura: Sumit Mehndiratta

Espelho D'água

Minha caixa de quereres abarrotou
Pelas bordas transbordaram
Escorrerem feito líquido 
E no chão se espalharam
Espelho d'agua se formou
 Nele me vejo refletida


Pintura: Erika Graig

10 de março de 2015

A intenção da cor

Qual é a tua intenção, cor?
O que afinal queres de mim?
Que te reconheça em tua infinitude?
Que te perceba em todos os teus azuis?
Nas subdivisões dos teus vermelhos?
Nas luzes dos teus amarelos?
O que queres de meus olhos?
Eles se confundem na ideia da fidelidade
E te misturam em meus arco-íris mentais