30 de abril de 2013

Vida

A vida é grande, não vou apequená-la
A vida é muito e jamais direi que basta
A vida pede e com urgência eu atendo
A vida agita e não vou aquietar-me
A vida é intensa e eu sou intensidade
A vida é vida e assim sendo, vou vive-la


Pintura: Eiko Ojala

Partilha

Quero muito mais que emoções balsâmicas
Desejo além de expressos confortos
Mais que prazeres breves, fugazes
Mais que pele, boca que se divide em buscas
Quero vida, completude, inteireza
Viver verdade na totalidade 
Ciente que a existência tem alívios e dores
Quero cuidar da alma que pede cura
Doar-me a ti sem me perder de mim
Receber de ti muito mais que enlevo
Somar as forças nas trilhas dessa vida
Quero ser toda em meus fragmentos
Viver a dádiva do partilhado amor 


Pintura: Willem Haenraets

28 de abril de 2013

Viço

Ganho viço ao ver-me em teus olhos
Um brilho de alegria toma conta de mim
Um frescor me envolve e de leveza me adorno
E dou-te, então, meu sorriso para que guardes contigo
E preciso que zeles, cuides bem desse júbilo
Que me ajudes a manter a frescura
Que me mostre teus olhos sorrindo
Que me reveles a tua alegria
Que me estendas a mão para seguirmos
Pois, sozinha fico feito criança perdida
E perdida, me perco em mim


Pintura: Scott Mattlin

27 de abril de 2013

Um jeito de olhar

Em meio ao cinza ele voava
Indiferente ao vai e vem de rodas morosas
No canteiro central encontrou verde campo
Pousava na rama guerreira de lilases coalhada
Pousava e, de novo, voava
Era um só um fino e branco papel 
Mas, eu vi borboleta

Pintura: Ginette callaway

Nuvem e Sol

Às vezes, sou nuvem, noutras sou sol
Às vezes, sou nuvem que encobre meu sol
Noutras sou sol que ilumina minhas nuvens
Sou uma alternância de luz e de véu

Pintura: Gina De Gorna

26 de abril de 2013

Oficio

Entender-se é difícil oficio
É preciso paciência e zelo
Saber sentir, inspirar, exalar
Perceber o pensar ardiloso
A proteção enganosa da mente
Se deixar conduzir pela alma
Ela sabe onde deve chegar


Pintura: Joanna Sierko-Filipowska

Harmonia

Qualquer dia em música vou me transformar
Daquelas com notas poucas e breves
Daquelas com pausas, reticências, silêncios
Daquelas que fazem o coração ressoar
É, dias desses vou ser só melodia
Suaves acordes para o vento carregar
Abençoando o tempo por onde passar
E quando em ti chegar ser só harmonia
Talvez eu me torne pequena sinfonia
Orquestrando a mim mesma sem carecer de regência
Como se pudesse tocar e ouvir tua cadência
Como se as dissonâncias se fossem com a ventania
E a felicidade acalmasse nossas urgências



25 de abril de 2013

Renovada

Eu sou feito pedra sabão
Dureza fácil de amoldar
Careço de calor e de formão suave
Delicada mão pra me dar forma
Aparar arestas, arredondar as pontas
Polir as asperezas e as carências tolas
Sou pedra bruta, um tanto lascada
Mas, que o amor transforma em peça renovada


Pintura: A Andrew Gonzales

Exorbitâncias

Meu sentir é feito de exorbitâncias
Ora é brasa, quente, fogo intenso
Ora esfria, se apresenta gelo
Ora é fome, apetite imenso
Ora é fastio que não entende o apego
São extremos das minhas ânsias
Carrego em mim um coração irrequieto
Ávido por transbordantes emoções
Tenho carência de intensidades
De tudo o que me balança o peito
De vida fervendo nas veias
De ardor que não arrefece nunca


Pintura: Mark Spain

Plural

Tua singularidade é ser plural
Tens um coração de portas abertas
E palavras muitas e um silêncio intenso
Contigo tudo é exponencial
Tua ternura é grande
E é suave e forte
Teu descarinho existe
E é raro, porém marcante
E no decorrer da vida vais te servindo
Tu te serves em doses largas
E de súbito por inteiro te retiras 
O teu igual é sempre diferente
E o teu diferente é diferente sempre


20 de abril de 2013

Quixotesca

Dentro da fantasia tem o real
Duvido da verdade do oposto
E afinal o que é mesmo a realidade?
Ah! Estou preferindo as quimeras
Ser vento que move os moinhos
Proferir quixotescos vaticínios
Eu quero mais é sentir
Tatear o que for impalpável
É, hoje decidi pela fantasia
A nesse momento criar novo mundo
E te convido, amor, a comigo ir fundo


Pintura: Vladimir Kush

19 de abril de 2013

Exalar

Vamos sair por aí
Fugir sem ter claro o destino
Flutuar sobre a estrada imperfeita
Ousar sem receio do erro
E se errarmos, não ter medo da perda
Ademais, o que haveríamos de perder
Senão a tola resistência de ser o que somos?
Vamos, sim, vamos sair por aí
Fugir desse cárcere das dúvidas
Sem desejar apoiar-se em certezas
Vamos fugir do que dizem ser certo 
Exalar a fragrância de nossas almas
A exuberância do que em nós floresce


Pintura: Cathy Delanssay

18 de abril de 2013

Mosaico

Sou chão de caquinhos multicores
Alguns são novos, outros já desgastados
Minha liga tem rejuntes variados
Sou chão que não foi feito para se pisar
Pois, o meu mosaico está sempre a se transformar


Pintura: Adel Younesi

Guardar

Cuides de mim, cuides
Mesmo que, seja de um jeito torto
Entrego-me a teus cuidados
Atentes a mim, atentes
Mesmo que seja uma atenção desatenta
Entrego-me a teus olhos 
Ouças a mim, ouças
Mesmo que alcances outros apelos
Entrego a ti meu dizer
Pegues meu coração, pegues
Pegues sem medo, sem susto
Guardes ao lado do teu


Pintura: Cathy Delanssay

Voar sem asas

Tua honestidade me acalma
Adoro ouvir tuas verdades
Mas, também me arvora a alma
Misturas em mim paz e ansiedade
Oscilo insegurança e confiança
Mesmo assim, me atiro em teu abismo
Para voar mesmo sem asas
Eu sei que voarás comigo
Há de levar-me junto a ti
Para, lá do alto, ver a vida 



17 de abril de 2013

Imperativo

Avia-te, apressa-te em ser feliz
Isso é coisa importante e é para agora
Não é preciso esperar o vazar da maré
Tampouco temer o tempestuar das águas
Não é preciso aguardar o estio
Tampouco que a chuva abençoe a terra seca
Não é preciso que de que fora venha a tua alegria
Tampouco que a tristeza de ti se aposse
Avia-te, apressa-te em buscar em ti 
É tempo de ouvir-te mais
É tempo de atender-te mais
Imperativo é o que vem de dentro
Imperativo é ser feliz


Pintura: Cathy Delanssay

16 de abril de 2013

Exageros

Gosto de ti poesia
Tu me permites tantos excessos
Deixas que eu escolha a tônica dos acentos
E afastas de mim o que dos afetos me distancia

Ah! Poesia, como és generosa comigo 
Sempre me serves quando preciso dizer exageros
Se deixas usar quando em mim urge a expressão
Tu te emprestas para que eu tenha refugio

Poesia, poesia, tu és meu abrigo
És meu porto seguro e também mar aberto
És o campo onde caminho sem medos
O mundo perfeito onde não corro perigo



Línguas

São tantos os idiomas que tu falas
Quisera em todos eu ter fluência
Muitos de ouvido compreendo
Fui aprendendo com atenção e paciência
Mas, me perco ao traduzir em fala
Comunico, então, de um jeito bem sem jeito
Misturo línguas, dialetos, sotaques 
Falo feito gringa que na conjugação se perde
Mas, sei que me entendes na confusão do que sinto
Que me acolhe quando por medo do erro me calo
E até achas divertidas minhas pueris tentativas
De falar o idioma que vigora em teu dia
Eu fico atenta para sentir o que dizem tuas inflexões
Tenho desejo de te estudar pra sempre
Faço a lição com tanto afinco
Quero aprender rápido, urgente
Mesmo que amanhã tu fales em língua diferente


Pintura: Jana Magalhães

Nua

Quando contigo estou meu mundo é melhor
Como se tu tivesses as chaves da minha leveza
Como se anulasses de vez o que me oprime
Como se tu pudesses resgatar meu fulgor

Quando contigo estou me transformo 
Deixo de ser terra e viro flor
Minhas mãos passam a ser pétalas
Que pintam para mim um novo contorno

Quando contigo estou acordo meu sentir
Tu me despertas dos áridos sonhos
Ajuda-me a ver com outros sentidos
E eu, então, só faço sorrir

Quando contigo estou, fico nua 
Apenas sou
Livre sou
E por ser livre, sou tua


Pintura: Max Szoc Leuven

Península

Existem imagens que vejo
São turvas, confusas, mas vivas
São como as ilhas avistadas ao longe
Aquelas que parecem sobre o mar flutuar
Assim como elas, desejo ilhar
Observar-me à distância de olhos fechados
Sem querer entender-me, sem querer explicar-me
Apenas sentir-me como se pudesse sobre as águas flanar
Como se o peso do corpo não me impedisse de voar
Quero ser ilha, nuvem, vento, chuva, mar
Mas, eu penso ser península
Solidez que me faz crer que sou continente
Coisas da mente que mente


Pintura: Albert Ernest Backus

15 de abril de 2013

Costurar

Costuro desde sempre
Esse oficio em que o ponto une pontas
Usa a fina firmeza da agulha para enlaçar
Entra e sai, vai ferindo, rasgando o tecido para juntar
E, frequente, fura o dedo, até faz sangrar
Mas, isso é dor pequena, dor que faz lembrar
Lembrar que nas veias corre a vida
A vida que inspira a sempre o amor costurar



Esvaziar

De repente, sinto que preciso esvaziar
Então, acomodo as emoções 
Deixo-as quietinhas num canto da alma
Ficam lá guardadas e protegidas
Eu gosto delas, preciso delas, elas me alimentam
Mas, também, gosto de jejuar 
Ter um tempo pra só comigo ficar
Pode ser por um breve instante, por horas, por dias
Esvazio-me para me reabastecer de mim
Disso careço para não esgotar-me


Pintura: Francesco Ballesio

Intensidades

Eu poetizo sobre as intensidades
Minhas intensidades
Tudo o que pulsa forte nas entranhas
Que me arrebata e sacode a ordem
As dores que em mim colidem
E me escurecem os dias
As alegrias que me abraçam
E me acalmam as dores
As dúvidas que me envolvem
E me estimulam a crer
Em mim, tudo é muito, tudo é intenso
Quando está morno, avivo o fogo
Quero minha água sempre fervente
Quero vida ardente, quente
Gosto mesmo é das grandezas
Nem errar sei pequeno
E meu amar é sempre imenso


Pintura: Onyeka Ibe

14 de abril de 2013

Rega

Aprender com a dor é engano
Ilusão de quem não se perdoa
De quem acredita no erro
Se apega ao conceito do certo
E ignora os veros clamores da alma
É preciso aprender a aprender pelo amor
Com a nobreza da autenticidade
Ser fiel à essência da vida
Vida que quer que sejamos felizes
Que nos ensina a regar nossa flor



Junto

Eu quero estar perto de ti, bem perto
Junto de um jeito que os cheiros se toquem
Se transformem em nosso perfume 
Junto como se fundissem as horas
E nosso tempo se desligasse do todo
Junto como se nossas peles ardessem
E como sutil brisa a nós refrescasse
Junto como se as palavras faltassem
E nossos olhares ao eterno bastassem
Junto com nossas sedes de alma
E somente elas enfim nos saciassem


Foto: Kazuo Okubo

9 de abril de 2013

Certeza

Ja te falei da fragilidade de minhas certezas
Do quanto prezo a temporariedade delas
Mas, é preciso deixar claro que essas são as certezas da mente
Aquelas que mudam com as novas descobertas
Que não se acanham em mudar a direção 
Que se despem e passeiam nuas em teu jardim
Não, não falo dessas certezas 
Falo de uma certeza tatuada na alma
Minha alma sabe e não refuta
Sabe que tu és pra mim
Sabe que eu sou pra ti
Sabe que somos pra sempre



7 de abril de 2013

Horizonte

Tem dias que fico pra dentro
Mas, meu dentro também tem o externo
O que está fora tem muito de mim
E no meu núcleo tem partes de fora
Margeio e procuro meu centro
Compreendo e me desentendo
Mergulho e fico sem ar
Volto à tona para, então, respirar
Tem dias que sou oceano
Ora calmo, ora tempestuoso
E em outros sou só horizonte
Visível, mas inalcançável


4 de abril de 2013

Oceano

Eu não quero ocupar todo teu oceano
Há tanto espaço em teu mar
Quero só ser um barco em tua amplidão
Sentir-te como água lambendo meu casco
Como vento inflando minhas velas
Como a mão que acaricia meu leme
Como o sal que tempera minha proa
Quero navegar em tuas ondas de amor
Deslizar em tua superfície profunda
Viver o silêncio de tuas marolas
Balançar-me com o teu agitar
Em ti, hei de eternamente velejar
Ser sugada por teu redemoinho
Em teu movimento vou ancorar


Manhã

Vem, fica comigo nesta manhã
Abraça-me de um jeito único
Como se fosse a primeira e a última vez
Como se em pó depois nos transformássemos
Como se o vento em instantes nos espalhasse
Como se mil existências não nos bastassem


Pintura: Talantbek Chekirov

Alquimia

Tens uma alquímica presença 
Transforma minhas pedras em plumas
Minhas nuvens escuras se abrem ao sol
Leva minhas folhas secas à florescência


3 de abril de 2013

Incomparável

Somos amor de um jeito único, incomparável
Não há notas ou pontuação que dê conta
Só nós dançamos sobre as águas
Olhamos no espelho das transparências
Respiramos no mar profundo
Repetimos com novas formas
Desvendamos o perto e o longe
Equilibramos o verso e a prosa
Combinamos a seda e a juta
Instigamos e nos recolhemos
Caminhamos no fio da verdade
Entendemos o que é lealdade


2 de abril de 2013

Miragem

Ah! O amor se veste com tantos disfarces
Mas, sempre quer que o reconheçamos 
Ele se mostra primeiro em enlevo e encanto
Dá-nos força para lidar com o deserto da alma
Mata a sede que nem percebíamos 
Desnunda o oásis escondido
Sacia a fome de ternura e desejo
Mas, só depois que se compreende a miragem 
É que ele por inteiro se entrega


Pintura: Carlos Zemek