27 de fevereiro de 2011

A Águia e o Leão

Eu circulo, observo seu vôo
Tu sobrevoas, analisas meus passos
Buscas com teu olhar profundo o sentido de tudo
Assim, teus olhos de águia encontram-me
Assim, meus olhos de felino encontram-te
e num bailar de pupilas apaixonadas
rodopiamos nossas almas


25 de fevereiro de 2011

Entrega

Enredo-me em tuas teias
Perco-me em tuas veias
Deixo-me levar por teus caminhos
Faço um pacto contigo
e poeticamente entrego-me a ti.
Aceitas-me?

Desconhecer

Incansáveis meus olhos fitam-te
segundos, minutos, horas, dias
meu olhar entregue não conhece o tempo

Resolutas minhas mãos tocam-te
passeio preciso no contorno do teu corpo
meu tato apaixonado não conhece o limite

Embevecida minha boca beija-te
mergulho em apnéia no ar que te traz vida 
meu gosto agridoce não conhece a aridez

Arrepiada minha pele roça-te
dança suave de arrepios mutuos
meus sentidos não conhecem sua ausência

24 de fevereiro de 2011

Reflexo

Sobre a mesa a flor colhida

No espelho dos seus olhos

Minha alma refletida



Três Marias

Atrás do verde o sol despede-se

E a noite acolhemos

Azul profundo pontilhado

é o teto que nos abriga

Vento fresco nos abraça

enquanto a lua míngua

vive em cheia meu peito

A noite passa num relance

Ele, o sol nos abençoa

Dia novo se escancara

Você e eu a despertar

ouvindo o choro da montanha


20 de fevereiro de 2011

Conduzir-te

Deixa-me levar tua tristeza
Afastar te ti as dores todas
Permita-me conduzir-te à paz
Plantar um sorriso eterno em teus lábios

Deixa-me abrir novos caminhos
Pousar teus pés e firma-los sóbrios
Alcance minhas mãos que te esperam
Sim, venha eu posso aliviar-te

Deixa-me abrir a senda
Mostrar-te que o amor não é lenda
Caminhas comigo para que eu possa
Tirar-te a venda da solidão

Deixa-me envolver-te com música
Vestir teu corpo com a nudez da notas
Danças sobre as pautas do meu coração
Assim componho feliz nossa canção

Conduza-me

A música inunda minha alma
fecho os olhos e vejo-te a dançar
flutuante sobre nuvens és como um anjo
E eu clamo, vem!
Aproxima-te
Erga meus pés do chão
Tira-me da realidade
Leva meus olhos contigo
Conduza-me à fantasia do amor sem fim
Deixa-me selar minha vida a tua


18 de fevereiro de 2011

Benção

Meu coração cansado
aconchega-se no teu
Revigora-se
Revigoro-te

Meu coração atento
observa o teu
Regojiza-se
Regojiza-te

Meu coração plebeu
ascende com o teu
Enobrece-me
Enobreço-te

Meu coração ateu
acredita no teu
abençoa-me
abençoo-te

Meu coração cavalheiro
abre as portas para o teu
conduza-me
conduzo-te

Digitais

Percorro devagar
Tateio sem pressa
Gravo minhas digitais
Seu corpo desnudo as recebe

Passeio em seu rosto
Estaciono o olhar
Deixo minha iris
Seus olhos se fecham

Transito em seu corpo
aspiro seu perfume
perco meu ar
da-me o seu

16 de fevereiro de 2011

Punhais

Quando calas, falas como se portasse punhais
Que entre os dentes corta-te as letras doces
Quando falas, calas em mim os ais
Que desfalecem todos em sonhos reais

Seda e espinho

A seda rubra da pétala seduz
Sinto na ponta dos dedos o toque macio
Sinto o aroma a entorpecer meus sentidos
Olhos fechados, inspiro
Percorre minhas veias o ar perfumado
em enlevo distraio
A ponta aguda do espinho busca meu sangue
Sinto escorrer a gota
comparando-se a cor altiva da flor
Assim és tu: seda e espinho
Combinação perfeita entre prazer e dor


14 de fevereiro de 2011

Fênix

Somos duas Fênix
Renascendo de cinzas ancestrais
Pó que se mistura e se separa
Vidas de ventura e desacertos

Somos duas Fênix
Que no fogo se consomem
Renovadas se reencontram
num abraço cósmico e mágico

Somos duas Fênix
no vasto e incontável tempo
carregam saudade e encontro
medo e coragem

Somos duas Fênix
rasgando o céu da paixão
coração em pulso vibrante
vislumbre de amor sem razão

Entrega

Às vezes, sinto teu cheiro à distância
Uma lufada de ar carrega-te a mim
Absorvo

Às vezes, escuto tua voz ao longe
mixada aos sons da cidade, sobressai
Declamo

Às vezes, sinto teu gosto antigo
minha boca se perde em memórias
Saboreio

Às vezes, sinto teu toque
seda que lambe minha face
Entrego

13 de fevereiro de 2011

Que?

Que caminho é esse que me leva a ti?
Que curvas preciso contornar para ter-te junto às minhas?
Que lua é essa lambe de luz as linhas do teu corpo?
Que sol é esse que aquece tua face?
Que tempo é esse que ora afrouxa ora aperta?
Que sorriso é esse que me enfeitiça desde sempre?
Que beijo é esse que mesmo no éter me desfaz?
Que olhar é esse que sem palavras diz tudo?
Que sussurar é esse que grita o amor que tenho?
Que toque é esse que arrepia a pele de saudade?
Que atrevimento é esse de ficar um segundo longe de mim?

Raiz

Busco a luz
Rompo o solo
enraizo e vou ao mundo
Cavo a terra profunda
em raizes encontro-te
na fantasia vivo o desejo
de num abraço eterno
florescer contigo para sempre.


Sempre

Sempre te quis
Antes mesmo de conhecer-te
Já queria sem saber-te
Desejava sem sentir-te

Sempre te quis
neste tempo que passou
tateava outra vidas
caminhando a procurar-te

Sempre te quis
buscava teu sorriso
algo que sinalizasse
algo que me arrebatasse

Sempre te quis
e ouço hoje o eco
som que bate na muralha
e como música devolve-te a mim.

Adiante

Quero seguir a estrada
deixar nossas pegadas
marcas de passos seguros
e também de hesitação

Quero seguir de mãos dadas
na firmeza dos dedos enlaçados
reconhecer no caminho
a vida compartilhada

Quero contemplar a paisagem
Ver com teus olhos
Emprestar-te os meus
Pintar nosso quadro

Quero enfrentar obstáculos
com a ingenuidade de criança
com força dos cabelos brancos
com tu a confiares e duvidares

Quero olhar para trás
perceber no trajeto nosso rastro
e com a mão sutilmente estendida
convidar-te a seguir adiante.


11 de fevereiro de 2011

Cassino

Embaralho cartas de amor
Teu nome em cada uma delas
Palavras e rimas
alimento da alma

Rodopio os dados sem números
Letras em cada face
Espalhados no feltro vermelho
formam teu nome

Aposto minhas fichas
Giro a roleta em suspense
de casa em casa, de cor em cor
a sorte está lançada.

Entrego-me ao destino
Ao amor infinito.


10 de fevereiro de 2011

Emaranhado

Sigo a grande e feérica via
margeando o reflexo da lua
deixo rastro de saudade expressa
 flutuo no conhecido caminho 
e emaranhadas em minha retina
as linhas de tua atual morada
vejo mãos enlaçadas
sinto salivas misturadas
suores que se fundem
olhares que se unem
 e um gozo que resume


Nascentes

Faz de meus olhos nascente
Rio de emoções
sulca a terra arida, serpenteia
Floresce em minha vida antes revirada

Faz de minha vida torrente
águas velozes levando dores outras
torvelinho de sensações
deixando minha alma lavada

Faz de minha alma um canto
música suave, tocada baixinho
ondas sonoras, poesia e amor
fecundando o que parecia estéril


9 de fevereiro de 2011

Clandestina

Ocupo meu espaço
clandestina deixo marcas
meu cheiro em tua cama
meu gosto em tua boca
meu respirar no teu ar
meus dentes em tua carne
meus olhos a acompanhar
minha mente a questionar
Clandestina sou
mas, quem haverá de me deportar?

Voz matinal

Esparrama na cama
corpo nú e lânguido
e a noite devolve-te ao dia
 traz na voz matinal
alegria e alento
no ar um sussuro sustento
teu nome

Contração e Expansão

Contração e expansão
És movimento constante
Círculo que abre e fecha
Envolve e desenvolve
Aprisiona e liberta
Abraça e solta
Vai e vem
Sob a égide de Guimarães
Aquieta e depois desinquieta
E segue resoluta e indecisa
És assim
Gato manso e arisco
coração inquieto
inquietante


7 de fevereiro de 2011

Atravessar

Quero atravessar a ponte
vencer o espaço que me separa de ti
Quero atravessar a noite
ignorar as horas que me afastam de ti
Quero atravessar paredes
romper limites dividem o nós
Quero atravessar portais
abrir caminhos de iniciação
Quero atravessar canais
chegar à margem de tuas linhas
Quero atravessar o céu
voar serena em direção a ti



Seus sinais

Seus sinais
poema
música
palavra
olhar
toque
cheiro
pele
pelo
língua
.
.
.
Ah! Seus sinais!
Rasgo-me por eles
Evaporo com eles.

Resgata-me

Tua voz chega suave
resgata-me das horas vazias
Teu olhar me aprofunda
resgata-me da superficialidade
Tua pele me acaricia
Resgata-me da solidão
Tua boca perde-se na minha
resgata-me da saudade

Pintura: Leonid Afremov

6 de fevereiro de 2011

Multipla

Estás em todo canto 
no outro lado do rio
nos sonhos da noite curta
lendo-me atrás desta tela
no reflexo dos meus olhos
nas cores do arco-iris
no vento que traz teu cheiro
no pássaro que segue o sol
na memória da minha pele
na rama que acolhe teus pés
no gosto guardado na boca
na lua que se esconde
na saudade que me absorve
És, realmente, multipla
Estás aí, longe daqui
e aqui, dentro de mim.

Tempestade

Espero a chuva cair
Nuvens pesam
no cinza céu azul
É assim sem você
Tempestade em mim

Encanto

És encanto
Onda do mar em tarde rosa
És suave
Núvem branca em dia azul
És doce
Caminho florido em lua cheia
És desejo
Seda vermelha de doce beijos



5 de fevereiro de 2011

Manto

Suas palavras doces em medida exata
Manto que acolhe minha alma
Derreto

Suas mãos perdidas em meu rosto
Brisa boa que acalma
Respiro

Seu olhar cumplice sobre a mesa
Mensagem sutil que envolve
Sorrio

Seus lábios quentes sobre o meu
Chama de fogueira em noite fria
Aqueço


Passos

Vou tomar-te em meus braços
Afastar os fantasmas
Proteger-te

Vou envolver-te com meu corpo
Aquecer sua alma
Acolher-te

Vou tomar teu rosto em minhas mãos
Derramar meus olhos sobre ti
Absorver-te

Vou entregar minhas mãos
Dar passos para a vida
Levar-te

3 de fevereiro de 2011

Essência


Eu quero tirar as vestes
Que me fazem homem ou mulher
Eu quero tirar as vestes
Que escondem minha essência
Quero que vejas como sou
Todas as partes da totalidade
Eu quero ser tudo o que sou
e livre ser para ti.



Dique


Se o dique romper
com a ponta dos dedos
vou colher a lágrima
deixar molhar a mão
que acaricia seu rosto
deitar-te em meu colo
com a cor de meus olhos
acalmar sua alma.

Frescor

Reservo a ti frescor
sentidos a provar
tudo o que é novo
que tens a me dar

Reservo a ti frescor no ouvir
cada dia ouvir nova nota
compor inusitada melodia
preencher o ar com perfeita harmonia

Reservo a ti frescor no olfato
inspirar seus cheiros
seguir de olhos fechados
seu rastro perfumado

Reservo a ti frescor no tato
na nudez arrepiada
misturar minha pele à sua
adormecer aconchegada

Reservo a ti frescor no paladar
sentir em minha saliva
seu gosto sal e doce
dissolvendo minha língua

Reservo a ti frescor no olhar
para ver-te sempre nova
para ver-te sempre nua
a mostrar-se para mim.

Olhos fechados

Regresso da noite
sem a luz tocar meus olhos
carrego sua imagem.
O eter de sua presença
guardo numa garrafa.
Bebo em pequenos goles
molhando os lábios da saudade.
 

1 de fevereiro de 2011

Bálsamo

Anseio ser mais que um bálsamo
Mais que o unguento que acalma
Mais que a bebida que anestesia
Mais que a droga que alucina
Mais que a voz que inebria
Mais que a palavra que seduz
Quero ajudar-te a segurar a lanterna
Iluminar o caminho estreito da cura
Portar um facão
Abrir as picadas
Chegar à clareira
Com uma mesura deixar-te passar
E espectadora, aplaudir feliz
Quando encontrares a paz


Asas

Eu abro minhas asas de anjo
lanço-me no abismo de seus braços
Meu vôo é sem escalas
Aconchego-me em sua alma
e dela alimento a minha.
Eu sinto o vento acariciar minha face
e transparente mostro o que me conduz
Universos paralelos se apresentam
e neles viajo com minha asa sã em par com a sua
Em vales de luz intensa
Espero

Camadas

Eu quero a cada camada conhecer-te
 Delicadamente, tirar a seda 
que protege medos, receios
derreter com coragem a cera do selo
sem rasgar ou amassar retirar cada película
respeitosamente coloca-las de lado
reverentemente dedicar-me a conhecer
o que foi desvendado
Eu quero, pacientemente, revelar-te!
Eu quero, escancaradamente, revelar-me!


Pintura: Misti Pavlov

Vulcão

Chegas quente
lava de vulcao
rio de fogo
que varre a encosta
incandecente
fumegante
És assim
invade sem licença
abre seu caminho
ocupa seu espaco
molda meu destino
e eu, feito solo fertil
acolho seu calor
transformo