14 de janeiro de 2017

Voejantes

Escrevo agora
Nesse momento de borbulhas
Devo responder às urgências
Sem pressa, mas sem me demorar 
Pode calhar de as palavras fugirem
Elas, por vezes, são ágeis nisso
Escapam pelas frestas do pensar
Escoam e vão dar no mar
Afundar nas profundezas minhas
Lá ficar feito nau perdida
Afogar-se em um silêncio reto
Mas, prefiro que elas ganhem ar
Que voejem por aí, se espalhem
Mesmo que uma ou outra se perca ao voar
Sei que as que de fato importam
 Saberão onde chegar


Pintura: Rowena Murillo

12 de janeiro de 2017

Sacrilégio

Sempre estás comigo
Até quando não estás
Isso é certo e verdadeiro
Mas, sabemos que é estranho
É praticamente um sacrilégio
Como haveremos de servir o vinho
Ouvir o soluço do gargalo
Sentir os cheiros que se misturam
Fazer soar o cristal dos copos
Sem ter junto os nossos corpos?
Podes dizer que se dá para fazer a sós
Em polos distintos estar
Seja sul ou seja norte
E mesmo assim sentir esse estalar
Pode até ser verdade
Mas, tenho sentimento diferente
E cá fico a me perguntar
Que graça isso tem sem o olhar se cruzar?

Pintura: Sylvia Thompson-Dias