16 de dezembro de 2010

Tudo em mim vibra como poesia

Tudo em mim vibra como poesia
os passos curtos que dou na casa
o dedilhar respostas à saudade imensa
o acender de um cigarro indevido
o ver a chuva através da porta de vidro
o estender a mão até o telefone
ora ligar, ora esperar
a escolha da música que embala meu dia
o acordar, o adormecer
o esperar, o decidir

Tudo em mim vibra como poesia
a exacerbação na declaração
a falta de fome do corpo
a imensa sede da alma
a espera da mensagem
a duvida, a certeza
as memórias desta e de outras vidas
as imagens que me invadem ao fechar os olhos


Versos

Diga-me todos os versos
Guardá-los para que?
Minha boca, meus braços, meu corpo todo cheio de saudade
Bebem suas palavras que saciam a sede da minha alma
Que agora, insone, deitam a pálpebra para ver-te mais uma vez


Idiomas

Que línguas, idiomas precisarei aprender ?
Como posso à ponta dos dedos trazer
as palavras que possam traduzir o prazer
de sua presença em meu viver ?


13 de dezembro de 2010

Tempo

Eu não adquiri noção de tempo
Para não sofrer com sua ausência
Horas, dias, semanas, meses
anos, séculos, milenios
passam como um vento que
traz, leva e guarda memórias
Viajam como um trem
serpenteando escostas cósmicas
chacoalhando vagões de histórias
feitas de olhares, suores, lagrimas e risos
E assim o tempo escoa
Assim o tempo abençoa.

Véu

Cada vez que te olho
é como se fosse a primeira
há sempre uma nuance
um angulo novo

Cada vez que te olho
é como se eu o fizesse a todo instante
há sempre um detalhe a rever
saudade a matar do ser

Cada vez que te olho
é como se algo fosse me surprender
há sempre um brilho escondido
uma nevoa que oculta algo

Cada vez que te olho
é como se desvendasse
há sempre outra faceta
um veú sutil a revelar-te


Carvão e Giz

Se tu não existisses
Eu extinguiria
Se tu não existisses
Eu renunciaria
Se tu não existisses
Eu encolheria
Se tu não existisses
Eu procuraria
Se tu não existisses
Com carvão e giz eu te pintaria


Gustav Klimt, Estudo de modelo, carvão e giz branco sobre papel, 1886–1888 


Clamor

Eu clamo aos céus
para que minha sensibilidade não me consuma
para que minha fé não me engane
para que o amor me preencha e emane

Eu clamo aos céus
para que tu me ouças mesmo quando eu não falo
para que tu me toques mesmo à distancia
para que tu me sintas no eter

Eu clamo aos céus
para que tu, simplesmente, me ames


5 de dezembro de 2010

Algo que sele

Há um lindo dia lá fora
O sol banha o asfalto
E eu, de assalto, busco imagens
Vislumbres do teu rosto
Lembranças do teu gosto
Tateio em devaneio a tua pele
Encontro algo que sele
Algo que lacre e guarde para sempre
as memórias ancestrais
para que eu não te perca nunca mais


Mercúrio

E você perspicaz que é
sabe muito bem o caminho
para ver o lado oculto de mercurio.

13 de novembro de 2010

Querer

Quero ser raízes, asas, garras, ninho
Quero o chão, o céu, pouso, aconchego
Quero o seguro, o vasto, o canto, cama
Quero o alimento, o ar, o espaço, casa
E só quero, por ter para dar

27 de outubro de 2010

Fases

Numa fase é esplendorosa,
faz a noite virar dia
Até as estrelas se recolhem
e a deixam brilhar sozinha no céu.
Cá na terra se espalha
Pelos campos, pelas águas.
E mexe nas profundezas da alma humana.
Suscita desejos, vontades.
Mas, de repente recolhe-se.
Mingua até sumir
Então, incredulas, as estrelas voltam.
Dias e dias e eis que ela sutil
Vagarosamente mostra-se num sorriso.
E eu, também sorrindo, ansiosa, espero
Sua luz cobrirá meu corpo e minha alma.

Velho Saturno

Condensou-se um encanto em forma de anel
Foi nos vapores do Velho Saturno
De mão em mão, de dedo em dedo,
Cruzando eras e épocas, nos alcançou
Reliquia dos reencontros
Tão sutil, perene e delicado
Ficamos, então, sem saber ao certo como usá-lo



5 de outubro de 2010

Fantasmas

Meus fantasmas são mais frágeis que eu
Mesmo não sabendo o que isso possa significar
Pintura: Shaina Lee

13 de agosto de 2010

Avanços e Recuos

É assim que caminhamos
eu avanço e você recua.
Você recua, eu hesito
Eu hesito e você flutua.


Pintura: Marc Chagall

19 de junho de 2010

Fortaleza

Tirei todas as minhas peles
para ver meu sangue correr mais solto
e deixar meu coração bater mais leve
para não deixar de pensar em tí
minha fortaleza das horas vagas.

Atenta


Ninguém veio me visitar
Tudo bem, amanhã é outro dia.
Estarei aqui.
Atenta.

Desenho: Alceste Madella

Determinada

Com a ponta da faca
risco teu nome na parede do quarto.
Quem disse que você não iria dormir comigo?

Gigante

Deitei sobre tua sombra
Ali comecei um jogo lógico de emoção
Para variar, tu ganhaste
Nessa derrota um pouco alegre
percebi que quando vejo-te de baixo
És realmente grande
Gigante que na nudez
É tão frágil quanto sou.


Pirata

Roubo do mar
 a cor dos teus olhos
E o céu está lá para testemunhar
o meu ato pirata.
A cor prata do céu
é teu olhar sobre mim.
As pegadas na areia da praia
marcas tuas em mim.

Recuo

Recuo ao te ver passar
Para não te ver assim
tão ausente de mim.

Pois é!

Eu que fiz tudo para não te perder,
descubro agora que nem mesmo te encontrei.

Entreaberta

Deixei a porta entreaberta
para você me surpreender,
me pegar no meio do pensamento.

Pessoa

É verdade!
Eu já ia mesmo lançar âncora,
o mar estava deveras calmo.
Aí, você chegou de surpresa
e provou que o poeta, de fato, estava certo.
Navegar é preciso.
É verdade!
Eu já tinho mesmo esquecido aquela história,
a calmaria acalma a gente.
Aí, você chegou de surpresa
o mar continuou calmo
mas eu me lembrei do sonho.
É verdade!
Navegar é preciso.
É verdade!
Viver navegando é preciso.

Escriba

Quero escrever uma carta de amor
Na hora do amor cravar no teu corpo
as letras, palavras que queres ouvir.
Quero escrever uma carta de amor
e no amor do teu corpo suave
as palavras tão leves que não lembram dor.
Quero o amor do teu corpo
Quero sentir no seu corpo o amor que escrevi.

Flagrante

Sobre o espelho
um flagrante incômodo.
Ver-te do lado do avesso,
Ver-te me vendo do avesso.
Esparramando lágrimas secas,
como o vinho que outrora bebemos
Espelhos flagram desnudas almas
sobre alvos lençóis
Almas de corpos sedentos
Sede de almas ardentes
Flagrando os espelhos
Flagrando teu rosto perplexo
Flagrando meu sonho disperso.


Desenho: Alceste Madella

E aí?

Na noite abandonada
eu te faço companhia.
Mas, quem vai me pegar no colo ?


Desenho: Alceste Madella

Sobre o vento

Sobre esses ventos
penso em te amar,
despir até sua alma.
Sobre essas nuvens
penso em andar com os pés descalços
e a alma nua.
Só para te ver soberba e absoluta
Dona de mim.
Sob esses ventos vejo sua lua,
sua arrogante lua
que ousa ser mais clara que sua fala,
tão absoluta quanto você.
Sobre esses ventos vejo sua aura,
que hoje parece tão clara quanto a nossa lua.
Sobre o vento te vejo inerte, sem sentido,
confusa com essa lua que rouba sua luz.

Desenho: Alceste Madella

Lua negra

Eu sou Lilith
perdida em teu paraíso
corro em câmera lenta
enquanto isso a vida passa rápido demais.
Minha lua é negra,
assim fica mais fácil esconder os medos.
Eu sou apenas Lilith
e vislumbro seu jardim
com olhos infantis.
Carrego junto ao ego uma grande maça
e busco ser tua tentação.
Corro, ainda em câmera lenta
e tento alcançar seus pensamentos.

Dentro do Azul

A lua está sorrindo
E eu sentada em seu seio
balanço as pernas dentro do azul
Bem do alto, te admiro e sorrio
Feito a lua nesta noite

Naufrago

Poeta na voz,
Na voz do mar,
Mar que uiva e ressoa
Lamentos do naufrago
Ávido de amar.
Precisa de alguém
Talvez para amar
Talvez para falar de amar o amor perdido.
O naufrago precisa de alguém
Quer soltar toda a água do mar
O naufrago na ilha, o naufrago no mar
O naufrago buscando um único olhar.
O poeta naufraga
O naufrago sonha ser poeta
E o poeta que deseja naufragar
Perder-se nas ondas do mar
Amar



Vigio

Paixão Paulistana I

Mexeu com a cabeça do baiano,
Virou canção, ponto de encontro.
Centro das emoções e até mesmo, coração.
Você é maravilhosa por conveniência.
Ruas, rios de gente.
Pareces expressam seu inteior.
Escrachada, debochada, maldita.
Acima de tudo, maravilhosa.
Ponto inicial dos sonhos,
e final dos desalentos.
Conquistá-la é o desejo,
domá-la, o desafio.
É irresistível.
Nos procura e nos deixa,
mostra o ceú,
oferece o terror,
porém, acima de tudo é Sampa.



Infinito

Subir a escada,
talvez a escala,
deixar o comum,
esquecer o explicito,
entrar no abstrato,
penetrar no real mundo da fantasia.
Descobrir seu real significado,
dar o merecido valor.
Voar nas asas da liberdade,
conquistar essa liberdade e
finalmente amar, amar e amar
infinitamente até o fim do universo, amar.


Arte: Michael Maier

Ferocidade

Luz...
Bate em meus olhos,
envolve nossos corpos,
Sai de mansinho, dando lugar para a noite.
Luz...foi embora.
Mesmo sem ela seguro teu corpo.
Teu corpo é meu, o meu é teu.
Sou tu, tu sou eu.
Luz...
Está voltando.
Teu corpo me alucina,
Teus braços me ferem, me saciam.
Luz...
Presente ou ausente
Teu corpo,só quero presente,
Tua boca me molha e me fala,
Torno-me fera... mansa...


Pintura: A. Andrew Gonzalez

Overdose

A luz de mercúrio,
A luz artificial que ilumina a rua imaginária na linha do meu sonho.
Sonho como um filme, um filme antigo, quase real.
A dor que maltrata.
A luz que arde os olhos.
E mais uma vez a taça vai ao chão. Vazia.
O champanhe borbulhante da beira do caos.
Da ponta dos olhos a lágrima tenta saltar.
A razão sobressai, impede a emoção.
E mais uma vez a manhã aparece, aparece mais forte.
Quem sabe alguém encherá o copo, 
ou alguém quebrará a taça
ou simplesmente me acordará na melhor parte do meu sonho.


Ao Amor Inexistente

Ao amor inexistente
que nada faz extinguir.
ao amor inexistente
que faz tudo crescer.
Ao amor, que mesmo inexistente
faz tudo mover.
Ao amor inexistente
que nada mais deixa a desejar, senão amar.
Ao amor inexistente
que talvez mude o mundo,
já tão mudado.
Ao amor inexistente
que nos faz construir castelos a beira mar
e nos obriga a segurar as ondas
que quase sempre,
derrubam nossos sonhos.


Ilustração: Alceste Madella

E...

A taça vao ao chão,
Derruba o vinho,
Talvez o champagne,
que quem sabe era apenas água.
Ou nada.
A folha vai ao chão,
derrama a beleza das flores,
talvez a primavera se vai.
Ou o outuno chega deixando o verão para traz.
Leva as amarelas folhas.
A lágrima vai.
A lágrima sai.
Sai a amargura líquida,
Sai a beleza pura,
Sai derretido o gelo do peito.
Vão ao chão,
Vai qualquer coisa,
Qualquer coisa que não pode sustentar-se.
Vai ao fundo a solidão.
O gelo derrete, apaga a chama,
a pequena chama que ainda teima em ficar acessa.
E...
Vai ao amor,
A taça,
As flores,
As folhas,
O coração.