19 de junho de 2010

Fortaleza

Tirei todas as minhas peles
para ver meu sangue correr mais solto
e deixar meu coração bater mais leve
para não deixar de pensar em tí
minha fortaleza das horas vagas.

Atenta


Ninguém veio me visitar
Tudo bem, amanhã é outro dia.
Estarei aqui.
Atenta.

Desenho: Alceste Madella

Determinada

Com a ponta da faca
risco teu nome na parede do quarto.
Quem disse que você não iria dormir comigo?

Gigante

Deitei sobre tua sombra
Ali comecei um jogo lógico de emoção
Para variar, tu ganhaste
Nessa derrota um pouco alegre
percebi que quando vejo-te de baixo
És realmente grande
Gigante que na nudez
É tão frágil quanto sou.


Pirata

Roubo do mar
 a cor dos teus olhos
E o céu está lá para testemunhar
o meu ato pirata.
A cor prata do céu
é teu olhar sobre mim.
As pegadas na areia da praia
marcas tuas em mim.

Recuo

Recuo ao te ver passar
Para não te ver assim
tão ausente de mim.

Pois é!

Eu que fiz tudo para não te perder,
descubro agora que nem mesmo te encontrei.

Entreaberta

Deixei a porta entreaberta
para você me surpreender,
me pegar no meio do pensamento.

Pessoa

É verdade!
Eu já ia mesmo lançar âncora,
o mar estava deveras calmo.
Aí, você chegou de surpresa
e provou que o poeta, de fato, estava certo.
Navegar é preciso.
É verdade!
Eu já tinho mesmo esquecido aquela história,
a calmaria acalma a gente.
Aí, você chegou de surpresa
o mar continuou calmo
mas eu me lembrei do sonho.
É verdade!
Navegar é preciso.
É verdade!
Viver navegando é preciso.

Escriba

Quero escrever uma carta de amor
Na hora do amor cravar no teu corpo
as letras, palavras que queres ouvir.
Quero escrever uma carta de amor
e no amor do teu corpo suave
as palavras tão leves que não lembram dor.
Quero o amor do teu corpo
Quero sentir no seu corpo o amor que escrevi.

Flagrante

Sobre o espelho
um flagrante incômodo.
Ver-te do lado do avesso,
Ver-te me vendo do avesso.
Esparramando lágrimas secas,
como o vinho que outrora bebemos
Espelhos flagram desnudas almas
sobre alvos lençóis
Almas de corpos sedentos
Sede de almas ardentes
Flagrando os espelhos
Flagrando teu rosto perplexo
Flagrando meu sonho disperso.


Desenho: Alceste Madella

E aí?

Na noite abandonada
eu te faço companhia.
Mas, quem vai me pegar no colo ?


Desenho: Alceste Madella

Sobre o vento

Sobre esses ventos
penso em te amar,
despir até sua alma.
Sobre essas nuvens
penso em andar com os pés descalços
e a alma nua.
Só para te ver soberba e absoluta
Dona de mim.
Sob esses ventos vejo sua lua,
sua arrogante lua
que ousa ser mais clara que sua fala,
tão absoluta quanto você.
Sobre esses ventos vejo sua aura,
que hoje parece tão clara quanto a nossa lua.
Sobre o vento te vejo inerte, sem sentido,
confusa com essa lua que rouba sua luz.

Desenho: Alceste Madella

Lua negra

Eu sou Lilith
perdida em teu paraíso
corro em câmera lenta
enquanto isso a vida passa rápido demais.
Minha lua é negra,
assim fica mais fácil esconder os medos.
Eu sou apenas Lilith
e vislumbro seu jardim
com olhos infantis.
Carrego junto ao ego uma grande maça
e busco ser tua tentação.
Corro, ainda em câmera lenta
e tento alcançar seus pensamentos.

Dentro do Azul

A lua está sorrindo
E eu sentada em seu seio
balanço as pernas dentro do azul
Bem do alto, te admiro e sorrio
Feito a lua nesta noite

Naufrago

Poeta na voz,
Na voz do mar,
Mar que uiva e ressoa
Lamentos do naufrago
Ávido de amar.
Precisa de alguém
Talvez para amar
Talvez para falar de amar o amor perdido.
O naufrago precisa de alguém
Quer soltar toda a água do mar
O naufrago na ilha, o naufrago no mar
O naufrago buscando um único olhar.
O poeta naufraga
O naufrago sonha ser poeta
E o poeta que deseja naufragar
Perder-se nas ondas do mar
Amar



Vigio

Paixão Paulistana I

Mexeu com a cabeça do baiano,
Virou canção, ponto de encontro.
Centro das emoções e até mesmo, coração.
Você é maravilhosa por conveniência.
Ruas, rios de gente.
Pareces expressam seu inteior.
Escrachada, debochada, maldita.
Acima de tudo, maravilhosa.
Ponto inicial dos sonhos,
e final dos desalentos.
Conquistá-la é o desejo,
domá-la, o desafio.
É irresistível.
Nos procura e nos deixa,
mostra o ceú,
oferece o terror,
porém, acima de tudo é Sampa.



Infinito

Subir a escada,
talvez a escala,
deixar o comum,
esquecer o explicito,
entrar no abstrato,
penetrar no real mundo da fantasia.
Descobrir seu real significado,
dar o merecido valor.
Voar nas asas da liberdade,
conquistar essa liberdade e
finalmente amar, amar e amar
infinitamente até o fim do universo, amar.


Arte: Michael Maier

Ferocidade

Luz...
Bate em meus olhos,
envolve nossos corpos,
Sai de mansinho, dando lugar para a noite.
Luz...foi embora.
Mesmo sem ela seguro teu corpo.
Teu corpo é meu, o meu é teu.
Sou tu, tu sou eu.
Luz...
Está voltando.
Teu corpo me alucina,
Teus braços me ferem, me saciam.
Luz...
Presente ou ausente
Teu corpo,só quero presente,
Tua boca me molha e me fala,
Torno-me fera... mansa...


Pintura: A. Andrew Gonzalez

Overdose

A luz de mercúrio,
A luz artificial que ilumina a rua imaginária na linha do meu sonho.
Sonho como um filme, um filme antigo, quase real.
A dor que maltrata.
A luz que arde os olhos.
E mais uma vez a taça vai ao chão. Vazia.
O champanhe borbulhante da beira do caos.
Da ponta dos olhos a lágrima tenta saltar.
A razão sobressai, impede a emoção.
E mais uma vez a manhã aparece, aparece mais forte.
Quem sabe alguém encherá o copo, 
ou alguém quebrará a taça
ou simplesmente me acordará na melhor parte do meu sonho.


Ao Amor Inexistente

Ao amor inexistente
que nada faz extinguir.
ao amor inexistente
que faz tudo crescer.
Ao amor, que mesmo inexistente
faz tudo mover.
Ao amor inexistente
que nada mais deixa a desejar, senão amar.
Ao amor inexistente
que talvez mude o mundo,
já tão mudado.
Ao amor inexistente
que nos faz construir castelos a beira mar
e nos obriga a segurar as ondas
que quase sempre,
derrubam nossos sonhos.


Ilustração: Alceste Madella

E...

A taça vao ao chão,
Derruba o vinho,
Talvez o champagne,
que quem sabe era apenas água.
Ou nada.
A folha vai ao chão,
derrama a beleza das flores,
talvez a primavera se vai.
Ou o outuno chega deixando o verão para traz.
Leva as amarelas folhas.
A lágrima vai.
A lágrima sai.
Sai a amargura líquida,
Sai a beleza pura,
Sai derretido o gelo do peito.
Vão ao chão,
Vai qualquer coisa,
Qualquer coisa que não pode sustentar-se.
Vai ao fundo a solidão.
O gelo derrete, apaga a chama,
a pequena chama que ainda teima em ficar acessa.
E...
Vai ao amor,
A taça,
As flores,
As folhas,
O coração.