30 de agosto de 2012

Dignidade

Gosto de ti 
Vênus ou Marte

Deleito-me quando tua Vênus deita
Quando entrega-te em sensual delicadeza
Abarca-me abortando nossos medos
E do amor faz nossa colheita

Admiro quando marcha teu Marte 
Quando guerreias com tua lança invisível
Orgulha-me ver-te em firme decisão
Equilibrando no tempo teu estandarte

Reconheço-te na dualidade
Que a olhos distraídos soa incongruência
Mas, a quem dedica atento e profundo olhar
É permitido ver tua imensa dignidade

Gosto de ti assim
Vênus e Marte
Ousadia e Cuidado
Sim e Não
Sal e Doce
Destempero e Medida

Gosto de ti assim
Do jeito que for
Bem junto de mim


Recorte da Pintura Vênus e Marte - Sandro Botticelli

28 de agosto de 2012

Insaciável

Como um redemoinho, a cabeça gira
Gira célere, confusa e atrevida
E no exato momento que me adapto
Que me acostumo ao ensandecido rodopiar
Ela, a mente inquieta, sem aviso ou sinal, cessa
Aquieta, mas remoinha ainda um tanto
Só para não me deixar esquecer 
Que mesmo que se saiba incorrigivelmente insaciável
Quer espaço, respiro para manter meu coração saudável.


Escassez

Eu te amo com tudo, sem todavia
O entretanto aqui não tem vez
Contudo há que se dizer com ousadia
Sem deixar ruborizar minha tez
Que esse amor parece até tirania
Já que perto te quero toda vez
Para mim, nunca és demasia  
Deus me livre de tua escassez


27 de agosto de 2012

Sinceridade

Adoro teus dias de franca entrega 
Quando sem medos te rendes
Transformas braços em ninho
E com carinho imenso me pegas

Mas, há os de esparsas delicadezas
Quando tuas defesas emanam
Transformas ninho em espinho
E por instantes te fechas em tuas certezas

És o que és, assim forte verdade
Em qualquer situação ou tempo 
Transformas em atitudes o que sentes
Presenteias-me sempre com tua autenticidade

E eu, mesmo tonta, agradeço
Sinto a dádiva que para mim é tua existência
E nossos caminhos cruzados como referência
De um futuro que está só no começo


Pintura: Miroslav Yotov

Interesse


Penso em ti cotidianamente
Tudo o que te habita me é interessante
Seja comédia, tragédia ou drama
Teu mundo de cores e cinzas me chama 
O que entendes ou o que te confundes
Os fortes temperos e o que insosso te pareces 
Gosto do que me mostras mesmo contidamente
Quando baixas o olhar timidamente
E contas tua história de tantas histórias
E montas um moisaico com peças da vida 
E mesmo que mostres tuas miudezas
Sinto na alma tuas grandezas
Tenho imensa atracão pelo que fazes e és 
Com especial olhar para o que ainda é mistério
E fico sempre a postos com decisão e presença 
Para apoiar-te no alcance do que mais desejas


Pintura: Pascal Pihen

26 de agosto de 2012

Inteira

Sou um ponto no tempo
Um átimo, um sopro fugaz
Passeio pelas horas velozes
Preencho lugares vazios
Com meu vácuo premente de ser
Sou a pele que envelhece
Mas, guardo um viço no olhar
Um vigor no que há a trilhar
Pois, mesmo me sabendo um ponto
Muito pouco diante do todo
Sou inteira naquilo que sou
Ainda que pouco saiba sobre esse ente interno
Que me dá forma ao corpo que alquebra
Que aos poucos se curva à linha 
Mas, que tem energia para outro bom tanto
Sou quem segue com vontade no espaço
Na extensão que me resta a cumprir 
Para valer a existência que vivo


Pintura: Julie Hill

25 de agosto de 2012

Mansidão

Há mansidão em minha alma
Invisível a meus olhos buscadores
Inaudível a meus ouvidos que se fazem moucos
Imperceptível a meus tumultuados sentidos
Intocável às minhas mãos ansiosas
Mas, sei, há mansidão em meu ser
Ela aguarda plácida, em silêncio 
Calada espera minha voz chegar
Um estreme chamado meu
Para finalmente me abraçar


23 de agosto de 2012

Ondas


Às vezes, vivo o amor em teoria
Tento explicar o inexplicável
Decifrar o indecifrável
Sem perceber abafo o encanto, a poesia
Quero ficar amiga do meu pensar
Deita-lo em meu colo e fazer cafuné
Para que ele aquiete a rebeldia
E aceite a vida como ela é
Cheia de ondas, altos e baixos
Realidade com pitada de fantasia





22 de agosto de 2012

Ponto

Há um ponto suspenso no ar
Ele tem o dom de abarcar
Acolher até mesmo o ínfimo vibrar
Nascente de um breve resvalar
Deixa um cheiro de eternidade
Um laivo de cumplicidade
Algo que não se deve querer explicar
Essencial é deixar penetrar
Toda a magia que encontro ao te abraçar



21 de agosto de 2012

Arte

Ah! A arte!
Quando derrama-se em teus olhos
Penetra teus abertos ouvidos
Enfim, invade teus sentidos
Pouco importa a origem ou inspiração
Se é Bach ou se vem do Pará
Se é da França ou da Russia 
Se tinge telas ou cria partituras
Se com letras o papel povoa
Se dança em tuas lembranças futuras
Nada disso realmente importa
O que definitivamente vale
É ver o sorriso do teu olhar
O brilho impar que sempre estou a desejar



20 de agosto de 2012

Ninho

Há saudade de toda a ordem
Há aquela que chama o que já passou
Que sonha com o feliz reencontro
E outra de um futuro que se projetou 
Pode ser uma lacuna, um vácuo
Quadro branco que já foi cor
Que pede tinta, pincel e amor
Para cobrir o que se fez buraco
Matizar o incompreendido
Desenhar uma nova estrada
Que nos leve de volta ao ninho


19 de agosto de 2012

Desaprisiona-me

Cala-te um pouco mente 
Aquieta em tuas incertezas
Desaprisiona-me do desejo de entendimento
E repouse um pouco em meu coração
Ele saberá acolher-te com amor e respeito
Mas, deixa tuas interrogações de lado
E, também, tuas infundadas desconfianças 
Apenas deita-te no conforto do meu sentir
Aceita que nem tudo é perfeito juízo 
E perceba que a vida clama fluir 
E voa livre pois assim o és



Cegueira

O que cega meus olhos?
Seria a vaidade incontida?
Seriam os infundados medos?
Seriam as virtudes enaltecidas?
Ou apenas a venda tecida em cisma e orgulho?
Quero afastar o que me cerra os olhos
Tudo o que me impede de viver o que sou
Tudo o que é capaz de sombrear meu campo florido
Tudo que me envolve e esmaece as cores do que vivo
Eu quero ver a imperfeição para vislumbrar o caminho
Reconhecer na dor o que me ensina a ser 
Para viver o nítido, puro e inquebrantável amor 



Abismo

Quero não temer o desequilíbrio
Caminhar à beira do abismo
Olhando para baixo, sentir a atração
Fazer com verdade o que a alma pede
Ter a coragem para a transgressão
Atirar-me do alto em busca do sim
Ceder a loucura que confunde, mistura
Tanto de realidade com o que penso de mim
Se é no fundo que encontro um fio da verdade
Que meus toscos medos afastam, desviam
Devo encarar o vazio, o oco sem fim
Reencontrar o encontro que a ti me uniu




Querer

Quero a liberdade das palavras puras 
Quero o que sem pudor, medo ou mentira se mostra 
Quero a paz que brota da interna verdade 
Quero reconhecer a inteligência do querer 
E sentir a vida em meu pensar 
Para, em atos, dizer quem sou 
E realizar o que está vir a ser 
Com minha genuína vontade, temperada com a tua 
Com tua genuína vontade, salpicada com a minha 
Criando novos sabores 
Transformando em outros saberes 
Deixando para o mundo o que é do mundo 
Pois, se é do mundo é meu, é nosso e também não é



17 de agosto de 2012

Lição

 Busco um verbo compreensível, uma tradução
Algo que me permita ter mínima noção
Do fazer que tenho como destinação
 Quero encontrar a pegada que mostre a direção
E encontrar a humildade para aceitar a mão
Mas, também, coragem para viver sem explicação
Aceitar quando a vida sem censura me diz não
E faz dos meus dias grande trepidação
É mister ter paciência para aprender a lição
Seja qual for o desígnio, a intenção


16 de agosto de 2012

Alamedas

Trilhando labirínticas indagações
Percorri alguns caminhos na vida 
Dei voltas tontas em meu entorno
Confundi-me com tantas bifurcações
Até escolhi ilusórias entradas 
Que não me levaram a nada
Onde só passos tortos eu dei
Mas, passei por alamedas floridas
Encantada nem os pés eu senti
Volitei, flanei, flutuei
Eram lindas, frescas e coloridas
E minha vida com prazer eu vivi
É assim a intensa existência
De amores e dores se faz
Não adianta oferecer resistência
Isso (eu acho) que aprendi


Pintura: Leonid Afremov

15 de agosto de 2012

Sombra

A sombra faz parte de nós
Assim como a luz que a pode acolher
Para o acolhimento é preciso decisão e coragem
Aceitar os espelhos que a vida apresenta
Que nos mostra o que em nós é disforme
E que se negarmos se faz ainda mais forte
A figura horrenda, monstruosa e triste
A que desejamos matar, impedir que nos vença
É na verdade fração de algo muito maior
E só nos sombreia se não a aceitarmos inteira
Difícil e extensa tarefa que exige bravura
Uma força que existe no fundo da alma
Que só é descoberta ao nos despirmos do orgulho
E abertamente olharmos para a vida
Na genuína busca do que em nos é essência
Aceitando o feio que reside em nós
Para florescer a beleza que carece cuidados
Sem esquecer, por nem mesmo um segundo
Que não estamos sozinhos nessa grande jornada
E que o que parece verdugo pode ser redenção
Aquela réstia de luz que ilumina o escuro
Nos ajuda a enxergar o que estava embaçado
Para com nova visão compreender o que somos
E reverentes e agradecidos até pelas dores
Seguirmos em frente atentos ao mundo
E não somente ao próprio umbigo



14 de agosto de 2012

Alimento

Curvo a cabeça na busca do imo
Quero encontrar a resposta da vida
A clareza, o sentido dessa passagem
Mas, se me distraio com as superfícies
Engano-me, iludo-me, perco-me
Acolho-me na umbilical miragem
Que me leva a insanos equívocos
Causo dores minhas e n´outros
Desnecessárias, inúteis e tristes
Se no ego faminto me pauto
Fico à minguá e sem forças padeço
É preciso saber-me com máxima urgência
É preciso encontrar o alimento
O verdadeiro e definitivo sustento
Que o espírito silente me pede



13 de agosto de 2012

Vida

Ah! Vida, longa e curta vida
Um constante cambiar de ilusões
Sucessiva e infindável busca 
Para encontrar a justa medida

Ah! Vida, estranha e clara
Vejo-te pela confusa ótica das emoções
Sorvedouro de paz e tento
E ao mesmo tempo da alma seara

Ah! Vida, amarga e doce
Degusto-te inteira, sinto teus sabores
Gosto do teu acre que me põe alerta
E do teu brando que me amolece



12 de agosto de 2012

Desapego

Quando temo perder
Meus olhos embaçam
Meus sentidos afrouxam
Meus passos encurtam

Quando temo perder
O passado dirige
O futuro escurece
O presente adormece

Quando temo perder
O que perco em verdade
É um pedaço de mim
E a clara noção do que posso ganhar

Quero então despir-me dos medos
Dos temores que afastam
Dos vapores que cegam
E me impedem de ver tudo o que a vida me dá


Aceno

A mão desnudada acena no vácuo
Um pouco é adeus, outro tanto é busca
Está a procura e quer ser encontrada
Traduz em gesto o meu interno agitar
Turbulenta combinação de fogo e vento
Gelo e calor que me arrepia a pele
Toda vez que te envolves em meu pensar
A todo instante que vagueias em meu sentir
E na eternidade do meu imenso querer


Jazida


Sou uma infinda jazida
Inesgotável fonte de quimeras
Abundante em devaneios e sonhos
Copiosa em ingênua confiança
Com raras pepitas de suspeição
Exploro-me até o que penso ser a última gema
E surpreendo-me a ver que há sempre mais
Nesse veio que mescla fé e descrença
Mistura indistinta que, à vezes, me engana
Parte é clara em verdade
Outra é ouro de tolo que me burla a visão
E por instantes me fere a vaidade
Mas, nada capaz de me desviar da missão
Da árdua tarefa de a mim lapidar
Encontrar o meu cerne
 Revelar o que me é precioso
Conhecer com coragem o que veras importa
E não mais me guiar pelo brilho enganoso

Pintura: Luciana Pereira

9 de agosto de 2012

Balões

Quero lançar balões no ar
Povoar de cor e beleza
O céu dos meus humores cinzentos
 Dos aziúmes insistentes
Quero lança-los como sinal
Avisar as nuvens escuras da alma
Aquelas sinistras, pesadas, funestas
Que para ter paz careço leveza
Indispensável e difícil equilíbrio 
Entre o mergulho no profundo e o respirar
E quando aqui em baixo eu os vir flutuar
Vou lembrar de meu ser acariciar


Pintura: Vladimir Kush

8 de agosto de 2012

Caverna

Minha mente carregada se perde 
Busca um caminho entre tantas estradas 
Bifurca-se em labirínticas trilhas 
Enquanto meu peito explode e ferve 
Meu imo confuso se põe encolhido 
Finge esconder-se de mim toda hora 
Mas, não há caverna, secreto lugar 
Espaço seguro para estar protegido 
Desse ser que o invoca a tudo entender


Desenhos

Meus dedos inquietos divagam
Molham a pena em mágica tinta
Dão forma aos meus devaneios
Desenhando inconfessos desejos
Pinceladas erráticas e imprecisas 
Querendo expressar o que não entendo
Procuram os traços e as formas
Misturam cores e sombras
No ingênuo ensaio de me desvelar


Desenho: Natural, de Cris S Koester

Contato

Se por acaso duvidas do amor
É por que te descuidas, te distrais
Perdes o contato com meus olhos francos
Pois, se neles se deixar nada haverá de te enganar
Minhas pupilas pulsam emoção e força
Guardam no eterno o frescor do que sinto
Olham-te sempre com zelo e afeto
Reservam a ti o brilho do amor
E mesmo vendados revelam-me a ti


Silenciosamente

Vou declamar silenciosamente
Dar vida às rimas sem sentido
Voz aos sentimentos tortos
Vazão ao que se faz contido
Dedilhar em cordas imaginárias
A música surda da superfície
E quem sabe claramente ouvir
A voz rouca da tua alma


5 de agosto de 2012

Coquetel

Quero uma dose do auto-engano da fantasia
Um coquetel de olhar, afago, voz e beijo 
Com uma exata pitada de pimenta
Para derramar no gelo do que silencia


Gringa

Quanto mais encontro respostas, menos sei
Quando compreendo pequena partícula
Vem outra a contestar o entendimento
Em meu ser brotam infinitas indagações
Abarca-me um cansaço enérgico 
Que me instiga a busca não parar, ser insistente
Sinto-me gringa dentro de mim
Um ser feliz pelo que vê e encontra
Mas, que terminada a viagem quer algo mais
E parte para uma nova jornada
Caminho novo para pés calejados
Que querem andejar dentro de mim



1 de agosto de 2012

Aurora

O dia depende da aurora
Instante que não sabe o que é
Claridade mesclada com sombra
Indistinto véu do agora
Que se mistura com o que já é ontem
E esconde da verdade uma cota
Aquela parte profunda e distante
Que já conheço, mas temo rever
Pois, na ilusão do que é transitório
Apazíguo a alma por meio segundo
Para em seguida inquieta partir
Pois, clareza de mim eu desejo