31 de outubro de 2011

Enjaulado

Meu coração enjaulado no peito
Percebe que o teu também vive no claustro
E os dois buscando o espaço perfeito
Aceleram em descompasso dançante
Tenho-te outra vez num abraço
Desses que faz a saudade ficar ofegante
E me traz o descanso para todo o cansaço
E o tempo me mostra a ilusão bem distante




23 de outubro de 2011

Inexata

Na matemática inexata busco a perfeição
Da soma dos meus medos multiplico a coragem
Na divisão da doação subtraio a devoção
Adiciono ganhos e perdas à minha bagagem
Contrabalanço dores de amores da grande coleção
Na raiz profunda circulo para formar a imagem
Tiro a média e concluo que não há solução
As dúvidas ganham das certezas em plena porcentagem
Então, só me resta, feliz, entregar-me à sedução


14 de outubro de 2011

Sextante

Valho-me de um sextante
Quero mapear estrelas
Encontrar em mim o astro radiante
Libertar-me do que transformei em celas
Descobrir no profundo céu o raro instante
Em que tudo que não sei se revelará em telas
Capazes de guiar a nau de minha alma errante

13 de outubro de 2011

Ilha

Alma irrequieta
Navega ligeira e incerta
No mar da alegria
Na foz da tristeza
Vive nas águas da dubiedade
Rema na direção do contraste
Afoga-se nas lágrimas perdidas
Respira para curar as feridas 
Procura a ilha desconhecida
Para lá fazer moradia



10 de outubro de 2011

Chuva Fina

Diletante, vou aqui jogando as letras
Como o bezerro procurando as tetas
Feito as aves ciscando o chão
Feito gato manhoso entrelaçando as pernas

Insistente, vou arquitetando formas
Como o padeiro preparando a massa
Feito o colono arando a terra
E o soldado aguardando o fim da guerra

Esperançosa, acompanho os ponteiros
Como a criança insone esperando as férias
Feito o leitor curioso folheando as páginas
E a chuva fina devagar enchendo as cisternas

Fuga

Busco letra e música
Quero na voz de outros
Tradução para o que sinto
Palavras que em mim habitam
Parecem estar em fuga
E meio sem rumo seguem sozinhas
Voam por aí perdidas
Desamparadas

1 de outubro de 2011

Manjares

Dos manjares da vida que já provei
abrem-me o apetite os de sabores fortes
Aqueles picantes que esquentam a alma
Os mais marcantes que formigam a língua
Os que se espalham por toda boca
e devagar me amolecem o corpo
Gosto, também, dos acidos que me corroem inteira
É há os agridoce que me deixam em dúvida
Gosto até daqueles que desgosto
Os bem azedos que lembram como é doce a vida
Os salgados que me fazem pedir água
E dos doces na medida certa,
Pois, do exagero eu mesma dou conta