30 de abril de 2014

Volátil

Sou presa fácil
Nas armadilhas do desejo, caio
Pouco resisto às tentações
Para a prudência sou volátil


Pintura: Shahrzad Ranji

29 de abril de 2014

Flutuo

Com os pés no chão, tropeço
Então, flutuo
Caminho no éter das fantasias
Danço coladinha com meus desejos
É um baile sem fim ou começo
Não tem antes,  não tem depois
Só eu, no meu exato agora


Pintura: Ruth Greenup

26 de abril de 2014

Megafone

Apenas valho-me do direito de dizer
É certo que, às vezes, torto parece
Nesses casos, me escapa a métrica
Mas, é só falta de jeito de dizer o que se carece



25 de abril de 2014

Morango

Sou assim, do tipo sazonal
Como se fosse um fruto orgânico
Morango, talvez!
Sabe, meio azedo, meio doce?
Tenho minhas épocas, estações
Tempo de ficar para dentro
De não me mostrar, de em mim aquietar
E tem momento para romper a terra
Ao sol e ao relento aparecer
Quando, então, deixo-me ser colhida
E bem devagar, saboreada, sentida


Pintura: David Junod

23 de abril de 2014

Poesia

Poesia não quer dizer nada
Quer apenas nascer
Dar uma espreitada no mundo
E, também, se deixar espiar
Ao mesmo tempo, ela quer dizer tudo
Tudo de um jeito constrito 
Apertando palavras para tudo caber
Preenchendo entrelinhas até sem perceber
Deixando-se entender ao gosto de quem a lê


Pintura: Oliver Ray

22 de abril de 2014

Demora

Em ti eu me demoro
Afinal, eu não sou boba
Gosto de estar em bons lugares
De respirar puros ares
Então, vou ficando, me alojando
Aos poucos de ti me adensando
E ao mesmo tempo me evaporando


Pintura: Nadine Rippelmeyer

19 de abril de 2014

Gente

Nó de infinitas pontas
Núcleo emaranhado
Linhas de muitas cores
Formam as formas da minha sorte
Partes frouxas, quase soltas
Apertadas são outras
Peças de mim e de outrem
Gentes tantas de histórias muitas
Muitas histórias de tanta gente
Tanta gente para me fazer gente


Pintura: Georg Douglas

Cantinho

Tenho-te num cantinho da memória
Lugar acessível quando para dentro olho
Espaço reservado e muito bem cuidado
Ali guardo o que vivo contigo
Tudo, toda a nossa história
E olha bem, é contêiner elástico que se estica todo
Ele sabe de sua responsabilidade de ter capacidade infinita



Sapo

Meu sapo tem varinha de condão
Ele é uma mistura de príncipe e fada
É capaz de viver em eterna transformação
Mas, tem hora que não sabe de nada
Se fixa em desejos, em tola ambição
Vira sapo de novo, fica à beira da estrada
Fica lá até ouvir de novo seu coração


Pintura: Warwick Goble