25 de fevereiro de 2015

Pote de Vidro

A poesia é pote de vidro
Dos que hermeticamente se fecham
Conservam olhares em palavras
Guardam gostos, aromas, sentidos
Pode-se abri-lo, usa-lo sem esgotá-lo
Seu conteúdo é imperecível
E tem o sabor do momento de quem o aprecia




24 de fevereiro de 2015

Autossuficiência

Vivo numa estranha autossuficiência
Basto-me em minha companhia
Desconfio que até sozinha eu fale
Danço comigo na sala vazia 
Ando na chuva sem medo de gripe
Vou até a esquina para ver se estou lá
Acho que ate posso voar sem asas
Mas, para uma coisa jeito não tem
Rir sem você não dou conta

Pintura: Erica Vitalia

22 de fevereiro de 2015

Contido

Encantei-me, mas de encantamento engolido
Fica nas entranhas se fazendo de tímido
Sem querer disfarça o contentamento
Como se para ser pleno carecesse de escondido ficar
Mas, se te parece que pouco sinto
Digo-te que meu sentir é imenso
É que sinto tanto que sem notar deixo contido


Pintura: Delia Parvu

20 de fevereiro de 2015

Escapada

Há palavras que me escapam
Ladinas, percebem minha distração
Vão pela boca entreaberta
Debandam, saem em disparada
Em sua rabeira livram-se as emoções
Aquelas que tolamente em cárcere deixei



19 de fevereiro de 2015

Cheiro

Por um breve momento
Daqueles que não se contam no tempo
Senti teu cheiro no ar
Era o cheiro puro da tua pele 
Sem a interferência dos teus perfumes
Era teu cheiro cru
O teu cheiro completamente nu


Pintura: Régine Bouldoires

18 de fevereiro de 2015

Desnuda

Vez ou outra é bom se desnudar
Tirar as roupas velhas e rotas
Andar por aí sem vestes
Sentir frio, calor, securas e umidades
Sentir na pele a vida
Sentir a vida na pele
Sem véus, sem medos


Pintura: Thimoty M. Parker

15 de fevereiro de 2015

Símbolos

Tu sabes, sei escrever sem pena
Dispenso papel, tinta, palavras
Símbolos, amiúde eu uso
Talvez para criar mistérios
Talvez seja só uma forma de expressão
Num rasgo do dia, sopro minhas emoções
Deixo que o vento leve as leve
Sei que tu haverás de percebe-las 


Pintura: Rafal Olbinski

14 de fevereiro de 2015

Enroscada

Eu me enrosquei no nó de nossos nós
Deixei-me prender de bom grado
Nessa cama de gato de imprevistas formas
Nesse emaranhado indistinto
Onde entre vãos vou me ajeitando 
Em cada fio me equilibrando


13 de fevereiro de 2015

Bobice

Eu falo bobagens
Perco o prumo, me descabelo
Por coisa pouca me desconserto
Faço do samba um choro
Da valsa um tango
Do dueto um solo
Mas, não me leve a mal
É que de bobice eu sofro
Febre ligeira e intermitente
Que me acomete quando tu me faltas


Pintura: Marcel Burger

10 de fevereiro de 2015

Transbordada

Transbordei para dentro
Inundei-me todinha
Nenhuma parte seca
De emoção, encharquei
Virei açude, arroio, cachoeira


Pintura: Robert Wheater

9 de fevereiro de 2015

Meia-volta

Volta e meia meia-volta dou
Sem pudores volto atrás
Por que haveria de não mudar de idéia?
No mundo há vastidão
Coisas que nem dou conta
Pobreza não seria manter a opinião?


Pintura: Michael Azgour

3 de fevereiro de 2015

Estereofônica

Eu tenho alguns segredos
Na verdade, são muitos
Coisas minhas, de mais ninguém
Sendo minhas, delas faço o que quero
Então, conto a todos 
E a todos peço sigilo 
Assim são minhas confidências: 
Estereofônicas


Pintura: Glenn Quist