Espasmo

Não, não te obrigues a me dar respostas

Nem tudo o que digo espera que algo digas

Às vezes, é só um jorro, um espasmo incontrolável

Palavras que me saem da alma em procura da tua

Em busca do encontro naquele átimo de segundo de genuína emoção

Não, não precisas me responder

Mas, nunca deixe de perguntar o que vejo em teus olhos

Pintura: Victoria Borodinova

Polaridades

Há uma alegria que me acompanha

Encontros vicejantes, paisagens, sons, cheiros

Um mundo de coisas que me faz os olhos brilharem

Há uma tristeza que me acompanha

Encontros frustrantes, desolação, maldades, medos

Um mundo de coisas que faz meus olhos chorarem

Há em mim, e possivelmente em ti,

Um mundo que vibra, expande

E outro que contraí, encolhe

O passo a ser dado depende de como se escolhe

Pintura: Chá Kobalia

Becos, vielas, esquinas...

Passeava em sonhos estranhos

Numa esquina da madrugada o sono se perdeu

Sem rumo deu de andar nas curvas da mente

Lugar perigoso

Labirinto de fantasia e história

Foi, então, tropeçando nas ruas da memória

Se escondendo em becos, vielas

Procurando sinais de outrora

Para preencher o instante de agora

Pintura: Debra Hurd

Sem pressa

Eu não tenho pressa

Mas, eu tenho fome e sede

Fome de ver os teus olhos poéticos

Sede das águas que brotam

Embora não entenda o tempo das demoras

Eu sei que posso esperar

Não há urgências em tudo saciar

Apenas vontade sentir o chão de novo faltar

Pintura: Marc Chagall

Cartas

As cartas estão na mesa

Mas, não se trata de um jogo

Tampouco de missivas vãs

São traduções de um sentir solto

Que se permite ler de trás para frente

Como o louco que leve caminha

Sem ter medo do precipício

Pintura: Konrad Biro