31 de março de 2013

Dimensão

Mesmo o amor não sendo quantificável
Careço falar de grandezas
Não me refiro simplesmente a tamanhos
Tampouco a unidades, sistemas
Por que é abstrato, invisível e intocável
Nem por isso é possível negar a existência
Nem quero usar algo como muito, tanto, demais
Nada disso poderá explicar
Quero apenas encontrar a palavra
A expressão única do olhar
O gesto sutil, gentil e direto
O que for capaz dizer em quietude e silêncio
A dimensão do meu amar


Pintura: Paulo Akiiki

Zênite

Tem algo que se desprende de mim 
A melhor parte, que é leve e feliz
É terna, doce e segura
Inteira amor e fortuna
É tranquila e no encontro confia 
Ela sabe o destino e intui o caminho
De tão leve voeja e o teu zênite procura


30 de março de 2013

Mais

Alimentes-me!
Convides-me a tua mesa
Sirvas longo abraço como perfeita entrada
Harmonizes com o néctar do teu beijo
Faças suspense sobre a sequencia
Deixes-me a espera do teu principal
Que terá a mistura do teu sal e teu doce
Conterá teu caricterístico mistério
E se cozerá em teu calor intenso
Quando pronto estiver, vende meus olhos
Só para aguçar todos os meus sentidos
Depois entregues à minha boca em pequenas porções
Para que eu perceba a sutileza de todos os teus sabores
Em silêncio, degustarei cada parte
Só usarei minha voz para pedir-te por mais


Pintura: Francine Van Hove

Atenção

A ti, sou sempre atenta
Sou como pássaro que observa do alto
Sou como o gato que se aninha em teu colo
Sou como o vento que te refresca
Sou como a lua que clareia a noite
Sou como sol que testemunha teu acordar
Sou como o chão que te sustenta
Sou como o lume da vela acessa
Sou como o espelho que reflete as duvidas
Eu te acompanho mesmo que não percebas
Fico por perto para te cuidar







29 de março de 2013

Pouso

És como borboleta
Livre e suave
E eu, ao te ver sou flor
Flor que acolhe teu pousar fugaz


Pintura: Zou Chuanan

Rio e mar


Tenho a persistência da água 
Vou abrindo meus caminhos 
Fluo de mansinho feito rio
Que suave serpenteia no leito 
E, também, sou voluntariosa
Se preciso escoo vigorosa, mudo o curso
Esculpo as duras rochas do caminho
Não desisto de chegar ao meu destino
Juntar-me às águas do teu mar
Eu, sem deixar de ser rio 
E tu sem deixar de ser mar


Pintura: Eric Zener

28 de março de 2013

Embalar

Gosto da liberdade de expressão
De tirar da redoma o que precisa ser liberto
Do falar direto e espontâneo 
Dos olhos que se manifestam em brilho e verdade
Há tanto a dizer e a mostrar sem véus
Há vida pedindo espaço e abertura
Eu não seguro as minhas palavras
Mas, amiúde, as embalo no papel da ternura

Pintura: Eugene Vardanyan

Cesto

Quando as horas carregam flores
O tempo rende-se às delicadezas
Marca o retorno da ternura e leveza
Trazidas num cesto carregado de cores



27 de março de 2013

Carrossel

Percebo-me na vida indo e vindo
Sentindo o peito ora contraindo, ora expandindo
Como se fosse criança sozinha no parque
Encantada com a imensidão
Seduzida pelas possibilidades
Mas, temerosa da solidão 
É como se brincasse numa montanha russa de emoções
Girasse num carrossel de voltas infindas
Parasse no alto da roda gigante
Andasse num labirinto de irrequietas perguntas 
Atirasse um dado num astuto alvo que de mim se esconde
E daí, em meio à multidão desconhecida vejo tua mão estendida
E assim, meu coração de imediato se apazígua


Pintura: Diane- McClary

Passagem

Observo o fosso que circunda teu castelo
A ponte levadiça que a mim, por vezes, se abre
Que oferece passagem para meus olhares
E me convidam a te conhecer por dentro
Que me acolhem em teu protegido mundo
E me encorajam a seguir a diante
A despir-me da invisivel armadura
A não ter medo do imponderável
A confiar nos meus instintos puros
A viver no amor me fortalece
A viver contigo o que nos enobrece


Malabares

Por ti eu faço doidices 
Sou capaz até de roubar estrelas
De com suas luzes fazer malabares 
Só para que possas sorrir docemente
Para que te encantes com tua doçura
Para que teus olhos brilhem ternura
E teu coração encontre a paz que procura


25 de março de 2013

Passar do tempo

Eu não percebo o passar das horas, do tempo
Não sei o que querem dizer os ponteiros
Tampouco os números enjaulados no calendário
E as velas que assopro nos aniversários
Vivo o claro dos dias e o negro véu da noites
Sinto dentro de mim como se fosse um vento
O ar que de passagem muda minha paisagem
Reflexo das alternâncias que me povoam a alma
Mas, que imprimem a marca da minha essência
Um álbum de fotografias que revisito sempre
Assim me protejo do me distancia
Assim a saudade se perde em mim


22 de março de 2013

Contadora de Histórias

Sou contadora de histórias
Tenho um mundo criado em mim
Feito de fatos, imagens, memórias
Gente diversa que povoa minha estrada
Gente que veio, ficou ou passou
Passado que o tempo não apagou
Mas, que não guia meus passos agora
Apenas é parte que mantenho a chama
Lembranças de um ser que ainda eu sou
E nas prosas de alpendre um pouco me dou


Pintura: Neil Rodger

21 de março de 2013

Prioridade

Felicidade é a prioridade
É coisa para agora e não pra depois
Felicidade é hoje a despeito do ontem
Felicidade é presente com sol ou com chuva
É dar conta da vida do jeito que é
Encontrar o brilho que no revés se apresenta 
Reconhecer na dor o impulso da cura
Felicidade é a minha prioridade
Quero ser gente feliz
Quero ver gente feliz
Quero ser parte do teu ser feliz






19 de março de 2013

Narcisa


À beira do lago me inclino
A superfície mostra uma narcisa entediada
Imagem refletida de um ser que deseja mais
Quer enxergar além do que se mostra turvo
Quer perscrutar o que há lá no fundo
Descobrir aos poucos o que não é sabido ainda
Ondular as águas, perceber as formas
Mergulhar no Eco das vozes internas
Emergir ciente de que sempre haverá muito mais
Descobrindo que as bordas é ela quem faz



Imponderável

Desejo-te fundo
Desejo o teu todo
O todo abarcante
O pouco que é parte
A parte aparente
O aparente difuso
O difuso palpável
O palpável intangível
O teu imponderável 
O que te compõe a existência 


Pintura: Alex Alemany


Portal

Às vezes, tu me entregas as chaves do portal
Feliz me disponho a adentrar teu mundo
Caminhar por tuas trilhas bem guardadas
Ver o musgo que oculta tua seiva contida
Conhecer tuas fadas e bruxas
Beber as poções feitas com teu pó encantado
Ah! Desejo tanto ser tua heroína
Afastar-te dos riscos e medos
Escudar-te na tua busca infinita


Pintura: Joanna Sierko-Filipowska

13 de março de 2013

Mansa

Sou difícil, meio fera
Mas, bicho fácil de domar
Sou feito gato quando aprende a confiar
Guardo as garras, jogo fora o medo de me entregar
Pega-me no colo, juro, nunca vou lhe arranhar


O amor que tu tens

Amo teu amor
O amor silente
O amor cantante
O amor distraído
O amor cativante
O amor hesitante
O amor confiante
O amor confuso
O amor abundante
O amor reticente
O amor que tu tens



Incógnita

Sou uma incógnita, uma variante
Hoje compreendo os quereres
Amanhã ambiciono o novo de novo
Sou complexidade ambulante

Sou um enigma, um mistério
Garoa escondida na tempestade
Raio, trovão, céu azul, claridade
Águas de apatia e vontade

Sou pouco, muito, perto, distante
Abraço, recuo, aperto, afrouxo
Balsamo e dor, alivio e tormento
Vida intensa, ardente, flagrante


Pintura: Alina Maximenko

12 de março de 2013

Dança

Quero tudo transformar em melodia
Erguer a batuta da intuição
Fazer música do inacessível
Sentir cada nota da minha sinfonia

Quero vibrar com tudo que penetra meu peito
Reconhecer as notas da felicidade
Dançar minha música sem medo do erro
Dar meus passos mesmo que pareça sem jeito

Sim, vou dançar até em pleno silêncio
Haverá sempre em mim um rufar auspicioso
Uma orquestra que toca os meus designios
E uma pista de dança que me convida ao baile


Emergir

Silencio
Calo por breve momento
Busco ouvir as entranhas
O som das vertentes internas
A voz dos rios que percorrem minha alma
Afluentes que em mim se esparramam
Neles navegarei as distancias
Mergulharei em suas, ora, turvas águas
E fora da superfície enxergarei claramente 
Então, vou emergir novamente


10 de março de 2013

Quebra-cabeças

Já pulverizaste tantas das minhas certezas
Embaralhaste as peças do meu quebra-cabeças
Revolveste minha mente já tão agitada
Acalmaste inquietações e criaste outras
Agregaste o novo aos meus pensamentos
Ensinaste coisas que jamais sonharia
Abriste meus olhos que eu cria já abertos
Iluminaste o cômodo onde eu me escondia
Escureceste as vias por onde eu corria
Bagunçaste o coreto onde eu me exibia
Tiraste os pilares de desgastadas crenças
Demoliste o teto para me mostrar teu céu
Mas, sempre cuidando para guardar teu véu


Pintura: Renso Castaneda

Efervescência


Vida morna eu não quero
O que me apetece é quente
Vibrante e efervescente
Quero a intensidade dos desejos
Emoções em levedura
O fogo alto dos pela vida apaixonados
A aparente inconsequência de quem se atira
O movimento de quem quer mais
Quero comigo quem me agita a alma


Pintura: Alex Czarniak

8 de março de 2013

Estrada

Eu me jogo na estrada
Tomo poucos cuidados
Minha prudência é limitada 
Assumo os riscos do trajeto
Quero conhecer as curvas, desvios
Subidas, descidas, entradas
Errar o caminho faz parte da viagem
O que não me permito é perder a coragem


7 de março de 2013

Aprender

Gosto de aprender a te aprender
Estudar-te a cada dia
Ler tuas páginas, decifrar a tua escrita
Descobrir-te mais um pouco nas manhãs
Encontrar-te nas palavras perdidas
Reconhecer-te em cada flor que eu colher
Ouvir as sutilezas da tua voz à minha entrelaçada
Observar ao largo teus mistérios
Conhecer as pautas da tua música
Ouvir de olhos fechados tua incomum harmonia 
Perceber um pouco de teus intentos
Com minha luneta encontrar o teu planeta
Sim, quero o gosto oscilante de te aprender
Mesmo sabendo que nada em ti é para entender
Tu é só para sentir, compreender, fruir


Pintura: Federico Faruffin

6 de março de 2013

Pluralidade

Quero aprender a bailar
Dançar entre as polaridades
Todos os cantos do salão ocupar
Contemplar todas as vontades
Infinitas possibilidades experimentar
Conhecer as tantas verdades
A vida é grande e não quero limitar meu julgar
Em cada parte há tanta pluralidade
Como haverei, então, de ver com apenas um olhar?


Afeto

Se quiseres meu afeto, basta entrar
Deixo a porta destrancada
Aberta, escancarada
Entres sem pedir licença
Aqui, tu tens espaço e tempo
Abraço, carinho e alento


4 de março de 2013

Bússola

Vou jogar fora a bússola
Do sextante também abro mão
Vou desenhar novos mapas
E próprio instrumento de navegação
Descobrir os meus caminhos
E descobrir-me ao trilhar


3 de março de 2013

Felino

Tens um jeito tão felino
Tens teu tempo de doçura e de acridez
Desfilas com elegância a tua liberdade
Exibes naturalmente tua sinuosa altivez
E se a vida te derruba, por instinto cais em pé
Aceitas o carinho enquanto te apraz
Depois, vais às buscas de saber um pouco mais
Amiúde, teu modo arisco pede espaço
Então, te escondes em teu canto escolhido
Mas, ressurges e em mim te aninha outra vez
E eu te acolho com alegria e prazer indefinível
Esperando que, comigo, encontres tua placidez


1 de março de 2013

Arrepio

Eu penso em algo quente
Do morno me distancio
Quero o que de ti me deixa rente
E tira dos meu dias o vazio
Quero-te do alvorecer até o poente
Pelo, pele, calor, boca, tu...arrepio


Nova

Quero a ousadia de sempre ser nova
Mesmo que amiúde me repita
A tantos padrões ainda me sinta presa
Coloco-me todo dia à prova

Quero a ousadia de sempre ser nova
Errar de novo, mas de jeito diferente
Equivocar-me sobre mim e sempre aprender
Fazer da mudança a inspiração para a minha trova

Quero a ousadia de sempre ser nova
Do conhecido quero apenas a estrada andada
Que o vento erga a poeira e apague os passos
Para que eu caminhe em chãos onde minha alma se renova



Nadar

Tu és mistério, enigma
És força estrondosa
Pedra e aconchego
Interrogação e resposta
Nas alternâncias das emoções fortes
Transforma lago manso em revolto mar
E ondas altas em espelho pra lua se espalhar
Assim, quem te namora aprende a nadar
Embora, não me importe de em tuas águas me afogar
Para depois, com um longo beijo, ressuscitar