29 de maio de 2013
Sensação
Tu és pra mim sensação
Às vezes, nem parece gente
És como brisa envolvente
Às vezes, nem parece gente
És como brisa envolvente
Arrepia a pele, esfria a barriga
Faz tremer minhas mãos
Se assemelha a uma febre incessante
Se assemelha a uma febre incessante
Coisa boa que me habita o sentir
Bagunça meu pensar já tão embaralhado
Tu és desconcerto do acerto
Mas, amansa meu coração couraçado
Tu és desconcerto do acerto
Mas, amansa meu coração couraçado
28 de maio de 2013
Telas
Aqualung
Sou afeita a certa profundidade
Até navego em superfícies
Velejo ao sabor dos ventos
Fico à deriva em muitos momentos
Mas, gosto de mergulhos
De adentrar no que não conheço
De abissais descobrimentos
26 de maio de 2013
Doce
Longe de ti eu talho
Fico feito leite, toda em pedacinhos
E azeda, não te mereço
Então, peço que me adoces com teus açucares
Com o escorrer do teu mel
Esparrame-me em teu generoso tacho
Leve-me ao teu fogo para me esquentar
E novamente em doce me transformar
(Des)encontros
É tudo tão complexo em nossas almas intensas
Há silêncio, mas não quietude
Há abraço, mas nem sempre a entrega
Há palavras ávidas por tudo dizer
Mas, que se calam ou se perdem no ar
Há distância que estranhamente aproxima
E um perto que obscurece a razão
Há partilha em clandestinos olhares
E vozes que teimam em calar
Há compreensão do que não se entende
E uma cegueira para o que se escancara
E no encontro de tantos desencontros
Areia
Tomo-te às mãos feito punhado de areia
Sinto teus grãos, finos, grossos, tão variados
Junto meus dedos para que não vazes em vão
Mas, deixo que o vento te espalhe no chão
Além-mar
Eu busco conhecer tuas águas
Saber o que há no teu além-mar
Observo em silêncio o teu horizonte
Arquiteto um plano para o alcançar
Sei que terei que muito enfrentar
Deparar-me com teus monstros marinhos
Sereias cantando para seduzir
Tempestades e ondas gigantes
Piratas que minha razão vão saquear
Toda a sorte de desafios haverá de chegar
Mesmo assim lançarei-me ao mar
Em tuas águas haverei de te achar
Pintura: Adela Abos |
24 de maio de 2013
Luvas
Minhas poesias são como mãos
Mãos vestidas de amor, despidas de pudor
Mãos que querem te alcançar, anseiam tua alma tocar
Mãos que carregam flores e pela tua seda enfrentam espinhos
Mãos que querem te tocar com leveza e usam as luvas da delicadeza
Tento
Minha vida pede cor e movimento
Ela quer distância do que é cinzento
Leveza para alcançar o entendimento
Às vezes, ela nem liga para o discernimento
Ela quer paisagem, amplidão, céu claro e vento
Ausência de medo, mais arrojo e intento
Por isso, mesmo que eu pareça não ter tento, eu te tento
Pintura: David Renshaw |
20 de maio de 2013
Mágica
Tem hora que eu queria que as horas parassem
Como se num passe de mágica aquele momento congelasse
Como se fosse possível tocar o tempo
Senti-lo, assim, com o tato
Como se fosse possível aspirar o exato instante
Senti-lo, assim, com o olfato
Como se fosse possível sorver o orvalho do ato
Senti-lo, assim, na ponta de língua, com o paladar
Como se acreditasse que nada tem fim
19 de maio de 2013
Entrelinhas
Todo dia dedico-me a ler-te
Cada palavra, cada frase, cada sentença
Mas, o que te revelas está nas entrelinhas
O que mostra tua verdade não é leitura fácil
Por isso, folheio-te com cuidado, esmero
Acaricio tuas folhas como se tua pele tocasse
Atenta demoro-me em cada página
Leio, releio, sinto, reflito
Delicio-me com tuas confidências visuais
Enterneço-me com o tuas veladas exposições
Para ler-te é preciso mais que olhos
Necessita-se perspicácia, lucidez e imaginação
Tu és livro para se ler aos poucos
Daqueles que repousado no colo e pede silêncio
Silêncio cortado por um suspiro
Tu és livro para se ler por inteiro
Sem se ater a capítulos, sequencias
Sem ter pressa de se chegar ao final
E quando a última linha se alcançar
É sinal de que logo se deve recomeçar
Pintura: Pierre-Auguste Renoir |
Ancorar
Quero a leveza das pipas
Voar por aí, pelos céus, cortar nuvens
Deixar fina linha e mão suave ditar direção
Largar-me para que o vento me leve às origens
Mas, também, deixarei os pés firmes no chão
Pois, nele sempre há lindas flores
Flores que me levam a teu mar
Local mais precioso para se ancorar
Toca
Gosto de gente
De estar rodeada de gente
De ouvir o que dizem
De pelos cotovelos falar
Gosto de gente que me alegra
De quem também me bota a pensar
De quem me mostra mundos novos
De quem apresenta o velho com outras roupas
Gosto de gente que me toca
De quem não teme a verdade
De quem se aventura em buscas
Mas, também, gosto de recolher-me em minha toca
Onde busco silêncio, abastecer-me de vazio
Para amanhã, de novo, estar com toda a gente
Pintura: Alexei Popov |
17 de maio de 2013
Instantânea
Sinto uma saudade quase instantânea
Viro as costas e ela manhosa se instala
Vem com teu olhar breve que me acompanha ao ir embora
16 de maio de 2013
Soterrada
Existe em mim delicadeza, ternura
Às vezes, tudo fica soterrado
Mas sempre há uma semente obstinada
Ela germina e paciente encontra o caminho para a luz
Então, rompe a terra e, de repente, se mostra flor
Fugir
Às vezes, penso em fugir de você,
Mas, quando me vejo fugindo, estou com você
Só eu e você, você e eu preenchendo ruas floridas
Em algum lugar de tudo escondido
Caminhando sem tocar o chão
Porrada
Azul
Sou feita de tantos quereres
Tantos que chego a não saber o que quero
São instantes de claras certezas
Tão claras que fundo eu vou
Mas, há ventos que separam a nuvem
Se divide em partes, duas, três, quem sabe mais
Olho então a celeste paisagem para sentir a que agora me encanta
E confusa escolho o azul
Pintura: Mandy Budan |
13 de maio de 2013
Todo dia
Eu te amo desde quando não te sentia
Eu já te amava quando ao largo ia
Só que disso ainda não sabia
Por isso, sem sentido na vida eu seguia
E muitas vezes sem saber porque entristecia
Mas, sem explicação te pressentia
E, então, tomava-me uma imensa alegria
Dentro de mim algo crescia
Mesmo que não entendesse o amor nascia
Dentro de mim desde sempre tu vivias
Sempre te amei com toda poesia
Sempre te amarei, ontem, hoje, amanhã, todo dia
Sempre te amarei, ontem, hoje, amanhã, todo dia
Pintura: Alfonso Arana |
Porta
Em meio a emoções tantas fico com o léxico contraído
E daí o que seria prosa em poesia se constrói
Reviro os bolsos, viro os versos do avesso, procuro
Procuro formas de mostrar o meu eu expandido
Permito-me, então, ir às tolices para lá descobrir o acesso
8 de maio de 2013
Acompanhar-te
Vem que em palavras te abraço
Com meus braços soltos eu te prendo a mim
Com minha boca livre eu guardo meu dizer
7 de maio de 2013
Prosa
Poesia dá espaco para minha prosa
Em minha vida há lugar para vocês duas
Quiçá ate para breves notas
Rascunhos de amores
Que juntados montam contos
Historias, estórias, desejos tantos
Essa é a crônica dos meus dias
Dividir minhas expressões
Dar-me inteira, só que em partes
Dançarina
Sou intensa, profunda e dançarina
Minhas emoções são incitantes
Elas exultam, se arvoram, me tomam de assalto
Tenho brilhantes dias e outros de trovões e neblina
Navego no profundo mar da tristeza
E voo no claro azul da leveza
Nada que em mim aporta é escasso
Sou acometida por abundâncias
Tudo é grande, imenso, vasto
E tu, meu amor, me ocupa em todos os espaços
Pintura: Edgar Degas |
Cais
De ti, eu quero sempre mais
Para ti nunca quero ser demais
Mas, quero todos os dias em mim teus sinais
Mas, quero todos os dias em mim teus sinais
Na pele, na alma, na iris, nos meus inquietos mas
Quero todos, até os surreais
Se fores mar, quero tuas águas lambendo o meu cais
Se fores cais, quero minhas águas te acariciando em paz
Quero todos, até os surreais
Se fores mar, quero tuas águas lambendo o meu cais
Se fores cais, quero minhas águas te acariciando em paz
Quero mais, quero a abundancia das horas que em ti nunca são iguais
Para contigo alternar os passos no flutuar de uma dança sem ais
Pintura: Joaquim Sorolla |
Assimétrica
Tu me envolves em emoções dissonantes
Vivo-te nas assimétrias do amor
Vivo-te nas assimétrias do amor
Subo, desço, corro e freio
Paraliso-me diante dos medos, mas desbravo-me ferozmente
Recomponho-me diante das visceralidades causticas
Como-te, libo-te em agitação violenta
Mas, sinto amiúde a imiscuída paz das paixões
Largo os sapatos e dou-te meus pés descalços
Desnudo meu corpo para que tu o tenhas
E cubro-me com o manto das indecências
Tudo vai e volta à velocidade dos ventos fortes
Danço no vácuo das tuas ausências
Fotografo o instante em que te apresentas
Deixo varrer de mim as impossibilidades
E me largo ao destino que te traz neste agora
Pintura: Alexander Telalim |
6 de maio de 2013
Recomeços
Gosto de estar abraçada a ti, só abraçada
Quieta, calada, inteira em sentidos
Como se eu fosse muitas
Unindo os calores na noite fria
Ouvindo a música que é minha em teu coração palpitante
Gosto quando teu abraço envolve mais que meu corpo.
Quando ele compreende e acolhe minhas fragilidades
Quando ele me diz: não tenha medo de ti, apenas se solte aqui
Gosto das coisas desconexas, das palavras soltas que me dizes
Do som baixinho da tua respiração quando dormes ao meu lado
Da noite que abriga os sonhos largados
Das horas achadas em breves olhares
Do dia que em nós nasce e nos recomeça
De novo
Pintura: Gustavo Klimt |
Entranhas
Habita-me um ser que é feliz vendo-te livre
Que adora observar-te no exercício da tua leveza
Que se deleita ao conhecer o teu profundo
Que vibra de alegria por te saber em júbilo
Mas, há outro que me espreita e é diferente
Este quer cercar-te, enjaular-te
Este quer cercar-te, enjaular-te
1 de maio de 2013
Vestes
Eu me aventuro na poesia
Aqui posso ser exatamente o que sou
E, também, me trajar nas vestes da fantasia
Ficar nua, exposta sem mas nem ou
Posso ser hipotese, conjectura, teoria
Revelar-me em partes a quem na vida me achou
Doar-me toda a quem decifrar a alma da minha caligrafia
Falar de tudo que já me encantou
Depois, rir de mim, valer-me da ironia
Ficar em qualquer lugar, até onde não estou
Aqui posso ser exatamente o que sou
E, também, me trajar nas vestes da fantasia
Ficar nua, exposta sem mas nem ou
Posso ser hipotese, conjectura, teoria
Revelar-me em partes a quem na vida me achou
Doar-me toda a quem decifrar a alma da minha caligrafia
Falar de tudo que já me encantou
Depois, rir de mim, valer-me da ironia
Ficar em qualquer lugar, até onde não estou
Pintura: Alexei Popov |
Cortantes
Gosto de declarações de amor rasgadas
Sou assim, criatura afeita a falas sobejadas
Daquelas pungentes, exageradas
Da exposição destemida do premir do peito
Gosto do amor revelado com quentes palavras
Dos desejos cortantes que as mãos não escondem
Dos anseios que se calam com beijos
Das explosões que se dão em lágrimas
Gosto de quem me desperta desejos
Quem desafia os meus renitentes medos
E me lança no abismo por confiar no meu voo
E me aguarda no alto de braços abertos
Pontaria
Hoje, meu maior desejo é atingir-te
E teu coração é o alvo
Alcançar-te com minha flecha
Alcançar-te com minha flecha
Sem o risco de ferir-te
Quero apenas que tu saibas
Que conheças meus instintos
Minha parte animal
Tudo em mim que é só alma
Sede
Ando ávida por encantamento
Sedenta por leveza, magia
Sedução em generosas doses
Sensações de pele e alma
Sensações de pele e alma
Quero entregar-me às tentações
Acolher-te em teus desejos
Acolher-te em teus desejos
Saciar os meus em ti
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