24 de julho de 2015

Guardado

Eu guardei bem guardado
Deixei no fundo da última gaveta
Estava lá impecavelmente dobrado
Cuidadosamente embrulhado
Misturado com memórias amarrotadas
Eram como cães de guarda
Não me deixavam dele se aproximar
E eu fingia esquecer que ele estava lá 
Fazia de conta que nada guardava lá
Dai, vieste me visitar
E tuas mãos encontraram as minhas
Teu olhar não fugiu do meu
E tu foste lá e abriste a gaveta
Do teu jeito manso e displicente
Quase brincando jogaste tudo para fora
Alisaste as memórias
Acariciaste com tuas mãos quentes
E rasgaste o pacote feito criança com presente
E descobriste o que eu inutilmente guardava
O desejo que eu tolamente encarcerava


Pintura: Helena Wierzbicki

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