Eu guardei bem guardado
Deixei no fundo da última gaveta
Estava lá impecavelmente dobrado
Cuidadosamente embrulhado
Misturado com memórias amarrotadas
Eram como cães de guarda
Não me deixavam dele se aproximar
E eu fingia esquecer que ele estava lá
Fazia de conta que nada guardava lá
Dai, vieste me visitar
E tuas mãos encontraram as minhas
Teu olhar não fugiu do meu
E tu foste lá e abriste a gaveta
Do teu jeito manso e displicente
Quase brincando jogaste tudo para fora
Alisaste as memórias
Acariciaste com tuas mãos quentes
E rasgaste o pacote feito criança com presente
E descobriste o que eu inutilmente guardava
O desejo que eu tolamente encarcerava
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Pintura: Helena Wierzbicki |