31 de agosto de 2014

Células

Envelhecer é tornar-me nova
Mexer no núcleo de minhas células
E deleitar-me com minhas marcas
Com o emaranhado em preto e branco
É ver as rugas que contam histórias
Que se tornam leitos para minhas lágrimas
E abrem caminhos para outros risos


Pintura: Katerina Kosyanenko

26 de agosto de 2014

Oca

Sinto-me, vez ou outra, um tanto oca
 Como se tivesse esvaziado
Já de tudo me esgotado
O ar que entrará todo expirado
Como se o vinho à taça fosse retornado
A palavra dita na boca se escondido 
O que já vi ao véu se recolhido
E sinto um fresco ar renovado
Percebo que o vazio, de súbito, ficou de mim abarrotado






24 de agosto de 2014

Cesto

Pareces um cesto de vime
Daqueles de leves tiras
De força entrelaçada em fibras
Fibras que te amparam em gestos
Tu és o todo e a parte
Cesto que acolhe teus frutos
Frutos que dão sentido ao cesto


Pintura: William Mason Brown

Águas

As águas tuas são tão misturadas
Ainda assim tem cada partícula tão identificada
Chegam à praia, lambem as minhas areias
E me engolem em pequenas partes
E me levam para o teu oceano


Pintura; Joaquim Sorolla


12 de agosto de 2014

Florescência

Reconheço tua florescência 
Mesmo antes de da terra ter brotado
Ainda que nem em botão tenha se formado
É assim, apenas sinto tua flor em essência


7 de agosto de 2014

Posso

Para ti posso ser tudo
Posso ser fera, que tu me amansas
Posso ser água, que tu com comportas
Posso ser éter, que tu me sentes
Posso ser terra, que para as nuvens me levas
Posso ser fogo, que tu não me apagas
Para ti posso ser tudo
Tudo o que quiseres
Sendo apenas o que apenas sou


Pintura: Ernest Procter


5 de agosto de 2014

Nitidez

Quando te olho é quase como ver uma miragem
Regato perfeito para saciar minha avidez
Minha alma vê muito mais que a paisagem
Reconhece o amor com toda a nitidez


Pintura: André Brasilier